VOTO ZERO significa não votar em fichas-sujas; omissos; corruptos; corruptores; farristas com dinheiro público; demagogos; dissimulados; ímprobos; gazeteiros; submissos às lideranças; vendedores de votos; corporativistas; nepotistas; benevolentes com as ilicitudes; condescendentes com a bandidagem; promotores da insegurança jurídica e coniventes com o descalabro da justiça criminal, que desvalorizam os policiais, aceitam a morosidade da justiça, criam leis permissivas; enfraquecem as leis e a justiça, traem seus eleitores; não representam o povo e se lixam para a população.

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

LIÇÕES FARROUPILHAS


ZH 19 de setembro de 2014 | N° 17927


MIGUEL TEDESCO WEDY



Uma província abandonada, endividada e desprezada, com governos incapazes e subservientes ao poder central. Uma província chamada para custear guerras de fronteira contra os castelhanos, com homens, dinheiros e armas, mas sem compensações. Uma província com seu principal produto, o charque, tributado ferozmente pelo Império. Uma província exaurida pela sangria de seus recursos, enviados ao centro do país. Uma província sem força política para mudar a realidade da concentração de poder.

Eis o retrato da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul quando rebentou a Revolução Farroupilha. Buscava-se, pois, derrubar o governo provincial, subserviente ao governo imperial, a fim de se enfrentar, sem tergiversações e meias palavras, tal estado de abandono econômico, social e político. E notável é que todas as proclamações dos líderes farroupilhas, de certa forma, objetivavam maior autonomia, o pagamento de compensações de guerra, uma tributação justa para os nossos produtos, bem como a diminuição das contribuições econômicas ao poder central.

O que é incrível e, sob certo aspecto, desolador, é a atualidade das queixas farroupilhas por mais autonomia, justiça tributária e investimentos. Na célebre proclamação de Bento Gonçalves como presidente da República Rio-Grandense, de 29 de agosto de 1838, o líder farrapo afirma que o governo “faz pesar sobre o povo gravosos impostos e não zela os dinheiros públicos, tem contraído dívidas tais e por tal maneira que ameaçam a ruína da nação. Tem permitido contrabandos vergonhosos extremamente prejudiciais... esgota os cofres públicos com despesas supérfluas e não cura do melhoramento material do país... permite a mais escandalosa impunidade em seus agentes, desprezando as queixas que contra eles se dirigem, permite um tráfego vergonhoso no pagamento da dívida pública, na distribuição dos cargos públicos, na administração da justiça e finalmente em todos os atos da administração”.

Aqueles homens tiveram que pegar em armas para lutar contra tal estado de coisas. Muitos morreram por isso, heroicamente. Hoje, porém, na democracia, as principais armas que temos são os votos e uma imprensa ainda livre, que podemos e devemos usar, sem temores ou reservas, por uma pátria mais justa, desenvolvida e solidária.

Doutor em Direito pela Universidade de Coimbra, professor da Unisinos

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