ZH 27/09/2014 | 15h04
"A eleição de Marina, gestora testada, líder serena, aberta ao diálogo e firme, dará ao país a chance de mudar"
A candidata à Presidência Marina Silva Foto: Bruno Alencastro / Agencia RBS
* Antropólogo, cientista político e escritor
O PSDB nos deu a estabilidade da moeda, e o PT, a redução das desigualdades. O PT foi contrário ao Plano Real, depois adotou seus fundamentos e beneficiou-se de seus resultados. O PSDB reagiu ao Bolsa Família, às políticas afirmativas, às cotas, ao ProUni, à política cultural implantada por Gil. Assumiu o papel de oposição pela oposição, enveredando por um caminho francamente demófobo. Enquanto isso, o PT tornava-se a socialdemocracia popular: pleno emprego, valorização do salário mínimo e acesso ao crédito consignado. Por outro lado, o que teria sido do Brasil, sob Lula, sem a garantia de independência do Banco Central que Henrique Meireles encarnava? Sem a fidelidade ao tripé liberal legado por FHC: câmbio flutuante, metas de inflação e superávit primário?
Com Dilma perdemos o rumo. A bolsa-empresário, patrocinada pelo BNDES por meio de empréstimos a juros subsidiados, não constitui um erro porque corresponde a intervenções do Estado na economia, como se fosse um pecado ideológico, mas porque consiste num tipo específico de intervenção cujos efeitos são perversos: introduz incerteza que desestabiliza expectativas e desidrata investimentos (o impacto na infraestrutura é catastrófico); gera um clientelismo entre elites que politiza a economia de modo autoritário, despotencializando vetores indutores da competitividade; salva e descarta opções empresariais segundo planos jamais discutidos com a sociedade, promovendo, por exemplo, o modelo automotivo, cujo preço é a crise dramática na mobilidade urbana.
Aonde nos levará a via desenvolvimentista do PT, irresponsável do ponto de vista ambiental e indiferente ao debate sobre o tipo de sociedade que desejamos construir? Que futuro o PT nos reserva? Nele, seremos menos desiguais porém cínicos em relação às instituições jurídico-políticas, incrédulos na representação, impedidos de participar como protagonistas? Sentiremos repulsa pela política porque nos convenceremos de que o Estado serve para aparelhar, coagir e cooptar entidades e movimentos? Consumiremos cada vez mais, vivendo cotidianos desumanos em cidades insuportáveis, regidos pela brutalidade policial e a violência social? Seremos menos desiguais e destruiremos as sociedades indígenas, devastando seus territórios?
Como junho de 2013 demonstrou, PT e PSDB negligenciaram questões decisivas para a democracia, além da sustentabilidade e do debate sobre alternativas históricas: (1) a participação da cidadania; (2) a qualidade das políticas públicas; (3) a captura da política por interesses privados, nos governos e nas eleições; (4) a permanência da violência policial sobretudo contra jovens negros e pobres, e as violações de que são vítimas os próprios policiais no interior de suas instituições.
Há vida inteligente além da bipolaridade PT-PSDB. A eleição de Marina, gestora testada, admirada em todo o mundo, líder serena, aberta ao diálogo e firme, dará ao país a chance de mudar, preservando conquistas e adaptando a agenda nacional ao século 21.
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