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sábado, 27 de setembro de 2014

O SUCATEAMENTO DO IBGE

REVISTA ISTO É N° Edição: 2340 | 26.Set.14
Sindicância no instituto, após os erros nos resultados sobre a desigualdade no País, poderá lançar luz sobre um cenário de divergências internas, falta de estrutura e influência política em um órgão cuja sobrevivência depende de credibilidade 


Izabelle Torres



Um dos mais tradicionais e respeitados órgãos federais do país, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) vive uma crise com potencial para colocar em xeque os dados divulgados pelo governo. Na semana passada, o instituto passou pelo constrangimento de desmentir os resultados sobre a desigualdade social no Brasil revelados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). Oficialmente, o problema ocorreu devido a um erro de metodologia que teria superestimado informações das regiões metropolitanas de alguns estados. O índice que mede as discrepâncias sociais passou de 0,496 em 2012 para 0,495 no ano passado, o que indica uma estagnação na redução da desigualdade, e não o aumento dela para 0,498, como fora divulgado inicialmente. A má notícia em relação à desigualdade obrigaria a presidenta Dilma Rousseff a reformular o discurso de campanha à reeleição e a baixar o tom na propaganda feita em torno de suas realizações.


DE SAÍDA
Com a crise, Wasmália Bivar, presidente do IBGE, deve deixar o cargo

Enquanto ministros esperneavam contra o primeiro resultado divulgado, a cúpula do IBGE se reunia para pensar uma forma de desmentir os próprios dados e assumir o erro. A correção foi feita com rapidez e sem rodeios, o que atendeu às necessidades imediatas da campanha petista. Dilma classificou o erro como “banal” e, para dar uma resposta à sociedade – principalmente aos eleitores –, mandou instalar duas sindicâncias encarregadas de descobrir a origem e os responsáveis pela trapalhada. Uma das iniciativas será executada por funcionários do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, pasta à qual o IBGE se subordina. A outra sindicância ficará a cargo de uma instituição externa.

Se as investigações forem a fundo, a barbeiragem da semana passada servirá para jogar luz em um cenário de divergências internas, sucateamento e influência política em um órgão cuja sobrevivência depende de credibilidade. “O problema é enorme. Cada vez mais precisamos trabalhar com menos estrutura, menos recursos e menos pessoas treinadas”, afirma Suzana Drummond, diretora do sindicato dos servidores do IBGE. Na verdade, a crise no instituto se arrasta há muito tempo, mas somente este ano se tornou pública. Os funcionários ficaram em greve 79 dias por melhores condições de trabalho e contra as diretrizes políticas impostas ao órgão. ISTOÉ ouviu técnicos do instituto para entender o que está por trás do erro grosseiro em uma das mais importantes pesquisas anuais realizadas sobre o Brasil. Dentro do IBGE, há quase um consenso em que os governos petistas sucatearam o órgão com sucessivos cortes orçamentários. Avalia-se também que o órgão contrata servidores efetivos em número menor do que o dos que se aposentam ou se transferem para áreas com salários melhores. Para preencher as vagas, são recrutados trabalhadores temporários com treinamento deficiente.



Para rebater as críticas de sucateamento, a presidenta Dilma diz que fez centenas de contratações. Na prática, porém, não foi bem assim. Segundo dados do sindicato, há cinco anos o IBGE tinha cerca de 14 mil funcionários. Hoje este total continua mais ou menos o mesmo, mas em torno de 6 mil são terceirizados, sem qualificação específica. O montante de recursos também diminuiu. Para o próximo ano, por exemplo, em vez dos R$ 776 milhões solicitados pelo instituto para as pesquisas, o governo prevê a liberação de R$ 204 milhões.

Em alguns casos, a interferência do governo atual no trabalho do IBGE se dá de forma ainda mais contundente. Em maio, por ordens do Planalto, a divulgação oficial da PNAD Contínua foi adiada para 2015 por trazer resultados desfavoráveis ao governo. Ao divulgar números favoráveis e adiar a divulgação de estatísticas que poderiam prejudicar o discurso governista, a cúpula do IBGE deixa clara a relação de dependência do instituto em relação ao governo e ao partido que indica seus diretores. A interferência política no órgão chamou a atenção da Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara, que tentou por quatro vezes, sem sucesso, discutir o assunto com as autoridades do órgão. Em consequência da última crise, a presidente do instituto, Wasmália Bivar, avisou a interlocutores que vai deixar o cargo. Será mais um capítulo triste na história recente do órgão, nascido em 1938, que se tornou referência de credibilidade nos dados sobre o Brasil.

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