EDITORIAL
Independentemente do resultado das eleições presidenciais, o respaldo a ser assegurado pelas urnas precisa ser usado para a promoção de reformas inadiáveis, em favor do crescimento.
A menos de três semanas das eleições e no mesmo dia em que a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) reduziu as estimativas de crescimento do país de 1,8% para apenas 0,3% neste ano, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, voltou a anunciar um novo incentivo para a indústria. O prognóstico da OCDE enfraquece o discurso oficial de que a pífia expansão do Produto Interno Bruto (PIB) se deve à crise externa: países desenvolvidos ainda crescem menos do que o desejado, mas economias emergentes como China e Índia – que, assim como o Brasil, entre outras nações, integram o chamado Brics – continuam registrando níveis expressivos de desenvolvimento. Como demonstram os números, a política econômica brasileira é que está equivocada, não o cenário internacional. Por isso, exigiria mais do que redução de Imposto de Renda para lucros das empresas no Exterior, medida anunciada ontem.
Mesmo num ano eleitoral, em que a questão econômica costuma estar sempre no centro das atenções, as dificuldades enfrentadas hoje só não ganham mais evidência porque, até agora, o país continua mantendo níveis reduzidos de desemprego e a renda em alta. Os indicadores favoráveis, porém, não podem ser usados para camuflar a real situação, com a ampliação de riscos mais à frente e a exigência de um custo cada vez mais elevado para enfrentá-los.
O próprio mercado financeiro voltou a reduzir ontem, pela 16ª vez consecutiva, a possibilidade de expansão da economia brasileira para este ano e o próximo. A agência Moody’s, que rebaixou a perspectiva da nota de crédito do Brasil, por exemplo, estima um potencial de crescimento anual para a economia de 3%. O percentual é modesto para as necessidades, mas, ainda assim, se mostra difícil de ser alcançado.
Independentemente do resultado das eleições presidenciais, o respaldo a ser assegurado pelas urnas precisa ser usado para a promoção de reformas inadiáveis, em favor do crescimento. A economia brasileira, hoje em recessão técnica, não tem mais como continuar se conformando com níveis tão insignificantes de expansão, nem com elevados percentuais de inflação. Não é com ajustes ligados a interesses eleitorais, mas, sim, com reformas profundas, que o país irá garantir condições para níveis de crescimento adequados a suas necessidades e de forma continuada.
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