EDITORIAL INTERATIVO ZERO HORA DOMINICAL 22/04/2012
Impossível não comparar.
No mesmo dia em que o primeiro-ministro britânico David Cameron assinou um artigo no jornal Folha de S. Paulo afirmando que cem dias antes da Olimpíada de Londres seu país já está pronto para receber visitantes, porque as construções seguiram o orçamento e os prazos previstos, o Tribunal de Contas do Distrito Federal identificou graves irregularidades no pagamento das obras do Estádio Mané Garrincha, um dos 12 que estão sendo construídos ou reformados para a Copa de 2014.
O gritante contraste entre dois países que receberão eventos esportivos de grande dimensão nos próximos dias e anos significa que os ingleses são mais honestos do que os brasileiros? Seria leviano responder sim ou não, até mesmo porque o grau de honestidade de um povo não pode ser medido por uma circunstância restrita a um breve espaço de tempo. Mas há lições a se tirar desta diferença de tratamento para com a coisa pública.
O sucesso britânico em preparar Londres para os Jogos Olímpicos com tanta antecedência e sem gastar além do previsto se deve, muito provavelmente, a fatores como planejamento adequado, cumprimento de regras e contratos, fiscalização eficiente e trabalho focado nos objetivos. Essas ações resultam em probidade administrativa. Não provêm do acaso. São resultantes de uma cultura de transparência nas relações entre os agentes públicos e os cidadãos, como reza o contrato implícito da democracia. E transparência, no seu sentido mais amplo, significa também a vigilância da sociedade sobre o poder público, a participação dos indivíduos nas decisões coletivas e a submissão contínua dos governantes ao crivo dos governados.
Em países onde as leis são respeitadas, onde a população confia nas respostas do setor público às suas demandas e onde o interesse comum se sobrepõe à ganância individual e a conchavos políticos, o desenvolvimento acontece. Já em países que privilegiam a esperteza e o jeitinho sobre as regras sociais, que toleram a impunidade e que veem a política como um mal insanável, fica mais difícil avançar no rumo do progresso e da justiça social.
Somos uma população de descrentes nas nossas próprias possibilidades. São poucos os brasileiros que confiam nos governantes e nos representantes políticos como lideranças de uma nação pronta para transpor o portal do Primeiro Mundo. Especificamente sobre a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016, só o que se ouve é que haverá uma roubalheira geral na preparação dos estádios e da infraestrutura, que terão consideráveis aportes de recursos públicos.
Será que não podemos fiscalizar isso, como está fazendo agora o Tribunal de Contas de Brasília?
Londres já anuncia para os ingleses e para os visitantes a possibilidade de conhecer e desfrutar de um novo bairro em torno do parque olímpico, que vai abrigar, mesmo depois do evento esportivo, novas residências, novos negócios e novos empregos. A ideia, expressa pelo premier Cameron no seu artigo, é inspirar as futuras gerações para um futuro melhor.
O Brasil não pode deixar que a desonestidade de uns poucos e suas malfeitorias boicotem a grande oportunidade que tem pela frente de expor ao mundo sua criatividade e sua capacidade realizadora. Podemos, sim, construir um ambiente de seriedade e eficiência em torno das obras da Copa e dos nossos projetos futuros. Basta, para isso, que mais e mais brasileiros se conscientizem de que depende deles o cumprimento do contrato da democracia – que muitos desconhecem, mas que leva a assinatura de todos nós.
Você concorda com a tese de que é possível fiscalizar as obras da Copa e evitar desvios de recursos públicos?
O leitor concorda
Com certeza, é possível fiscalizar. É só querer! Luiz Fernando Medeiros Pinto
Claro, penso que evitar é possível, mas basta saber se há interesse em barrar a corrupção neste momento em que grandes investimentos farão circular milhares de reais. Será o momento propício para que os mal-intencionados hajam em seu benefício. A pergunta que fica é: será que haverá gente bem-intencionada na mesma quantidade para fiscalizar? Não, não creio que consigamos. Leandro Terres Martins – Camaquã (RS)
Concordo. Nós, como fiscalizadores de nosso sistema, possuímos ferramentas que podem interferir nessas irregularidades que existem. O que precisa acontecer é melhorar nossa cultura. Apesar de sermos um país novo (na idade em relação a outros), conscientizar-nos neste quesito é essencial. Marcus Vinícius Fernandes Machado - Porto Alegre (RS)
“Melhorar os controles.” Certamente, concordo. Mas, como sempre ocorre, não parece ser o que está acontecendo. Até onde se tem conhecimento, cifras de bilhões de reais serão gastas, às quais até sabemos onde, porém não sabemos, exatamente, quanto, quando e como. O que nos levará para o mesmo caminho de sempre. Ou seja, um ano após a Copa teremos a “pirotécnica” formação de uma CPI que, como sempre, chegará a lugar nenhum e enterrará, para o alívio dos envolvidos, o velho assunto: “Onde foi parar o dinheiro que era do povo”? E, com a promessa de sempre, é claro: de agora em diante iremos “melhorar os controles”. Paulo Sergio Fernandes Philomena - Porto Alegre (RS)
O leitor discorda
1º de abril já passou, as piadas não valem mais. Mas é sempre bom rir, ainda mais sobre este tipo de assunto, desvio de dinheiro. Cátia Teixeira
Nós vivemos a Era dos Desvios. É andar pelas estradas e notar o quanto estão desviando. Quanto arrecadam para melhorar as vias? Agora vêm obras da Copa, quem vai fiscalizar quem? Quem recebe recursos? Quem fiscaliza? Se políticos fazem o papel de policiais, quem faz o papel de fiscalizador? Eles mesmos? Aí não há controle, e sim abertura para que continuem os desvios. E o povo, ganhando uma merreca! E o salário dos que arriscam a vida? Cláudio Fortes Carpes - Montenegro (RS)
Discordo. Se as obras fossem realizadas com um cronograma que permitisse “tempo”, seria mais fácil, mas certamente os atrasos são propositais para que os custos sejam maiores, e neles, embutidos os “desvios”. João Paiva de Oliveira - Porto Alegre (RS)
A Sociedade organizada têm por dever exigir dos Poderes de Estado o foco da finalidade pública e a observância do interesse público na defesa dos direitos básicos e da qualidade da vida da população na construção de uma sociedade livre, justa e democrática. Para tanto, é necessário aprimorar as leis, cumprir os princípios administrativos, republicanos e democráticos, zelar pelas riquezas do país, garantir a ordem pública, fortalecer a justiça e consolidar a Paz Social no Brasil.
VOTO ZERO significa não votar em fichas-sujas; omissos; corruptos; corruptores; farristas com dinheiro público; demagogos; dissimulados; ímprobos; gazeteiros; submissos às lideranças; vendedores de votos; corporativistas; nepotistas; benevolentes com as ilicitudes; condescendentes com a bandidagem; promotores da insegurança jurídica e coniventes com o descalabro da justiça criminal, que desvalorizam os policiais, aceitam a morosidade da justiça, criam leis permissivas; enfraquecem as leis e a justiça, traem seus eleitores; não representam o povo e se lixam para a população.
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