ZERO HORA 07 de outubro de 2012 | N° 17215. ARTIGOS
Percival Puggina *
Não
sou fã da atual configuração do STF. Após certas deliberações ali
tomadas, a Constituição deveria receber atendimento em pronto-socorro
para se refazer dos maus-tratos. Coisa muito feia. Na origem dessa minha
zanga, está a tal história de tomar os princípios constitucionais em
estado bruto e passá-los no esmeril, dando-lhes formato que sirva para
articular o texto com o que vai na testa do julgador. Tal conduta é mais
do que recorrente. Já vi ministro invocar o princípio da dignidade da
pessoa humana até para opor-se à rinha de galos (concordo com a
proibição, mas não com a aplicação desse princípio ao caso). Impossível
negar, porém, que a Corte, neste momento, desfruta de amplo
reconhecimento nacional. A atividade que vem desenvolvendo é aparatosa,
demorada, mas consistente. Os fatos foram objeto de perícias. Há provas
documentais, circunstanciais e testemunhais. Poucos põem em dúvida as
ocorrências descritas. E todos os que dizem que os crimes não existiram
são pagos para tanto, ou têm a perder, com o
reconhecimento deles, algo material ou imaterial, de cunho político,
ideológico ou filosófico.
Seja como for, o julgamento do mensalão põe na mesa dos debates o sistema de governo, o sistema eleitoral e a política como a praticamos no Brasil. Repetidas vezes essas pautas têm sido objeto de considerações dos ministros do STF e da mídia que cobre as sessões. Inúmeras vezes, também, do alto da minha insignificância, tenho escrito que esse modelo é ficha-suja, concentra poder político e financeiro em proporções incompatíveis com a democracia e, por isso mesmo, atua como feromônio para atrair e excitar patifes de toda ordem. São tantas e tamanhas as regalias disponíveis no almoxarifado do poder, que só fica ao seu desabrigo quem quer. O mensalão é a monetização de outras práticas para composição de maiorias parlamentares, que se instalaram no país desde que Collor foi apeado do poder.
Hoje, vamos às urnas. Do meu ponto de vista, a política brasileira alcançou um nível de degradação que só os eleitores podem retificar. O sistema e seus males jamais serão corrigidos por via judicial. Menos ainda com as mudanças dependendo de uma deliberação dos que dele se beneficiam. No entanto, o cidadão, o ser humano em sua dimensão política, pode, por ato da própria vontade, abandonar os velhos critérios de escolha e proporcionar aos partidos, em sua negligência, sucessivas lições de discernimento, escolhendo não apenas os bons, mas os melhores entre os bons.
O que escrevi só será utópico se considerarmos que o mensalão venceu. Com efeito, assim como, em meio à indignação popular, há o mensalão corrompendo os andares de cima, há o mensalinho fazendo o mesmo nos andares de baixo. Todo eleitor que escolhe candidato por interesse pessoal, corporativo, comercial, não republicano, está usando a democracia e as instituições para benefício próprio. Sua atitude pouco difere daquela que despreza nos mensaleiros.
Ao votar hoje, tenha em conta que as Câmaras Municipais são a estufa onde se produzem as futuras elites políticas do país. O eleitor que pretende votar no mais caricato, para “protestar”; no cara de determinada afiliação, sabe-se lá por que; na celebridade tal ou qual, apenas porque já ouviu falar dele ou dela; e por aí afora, faça este favor à nação: vote em branco ou nulo. Lembrem-se os demais, por fim, da frase de George J. Nathan: “Os maus políticos são eleitos pelos bons cidadãos que não votam”. Portanto, às urnas, cidadãos!
Seja como for, o julgamento do mensalão põe na mesa dos debates o sistema de governo, o sistema eleitoral e a política como a praticamos no Brasil. Repetidas vezes essas pautas têm sido objeto de considerações dos ministros do STF e da mídia que cobre as sessões. Inúmeras vezes, também, do alto da minha insignificância, tenho escrito que esse modelo é ficha-suja, concentra poder político e financeiro em proporções incompatíveis com a democracia e, por isso mesmo, atua como feromônio para atrair e excitar patifes de toda ordem. São tantas e tamanhas as regalias disponíveis no almoxarifado do poder, que só fica ao seu desabrigo quem quer. O mensalão é a monetização de outras práticas para composição de maiorias parlamentares, que se instalaram no país desde que Collor foi apeado do poder.
Hoje, vamos às urnas. Do meu ponto de vista, a política brasileira alcançou um nível de degradação que só os eleitores podem retificar. O sistema e seus males jamais serão corrigidos por via judicial. Menos ainda com as mudanças dependendo de uma deliberação dos que dele se beneficiam. No entanto, o cidadão, o ser humano em sua dimensão política, pode, por ato da própria vontade, abandonar os velhos critérios de escolha e proporcionar aos partidos, em sua negligência, sucessivas lições de discernimento, escolhendo não apenas os bons, mas os melhores entre os bons.
O que escrevi só será utópico se considerarmos que o mensalão venceu. Com efeito, assim como, em meio à indignação popular, há o mensalão corrompendo os andares de cima, há o mensalinho fazendo o mesmo nos andares de baixo. Todo eleitor que escolhe candidato por interesse pessoal, corporativo, comercial, não republicano, está usando a democracia e as instituições para benefício próprio. Sua atitude pouco difere daquela que despreza nos mensaleiros.
Ao votar hoje, tenha em conta que as Câmaras Municipais são a estufa onde se produzem as futuras elites políticas do país. O eleitor que pretende votar no mais caricato, para “protestar”; no cara de determinada afiliação, sabe-se lá por que; na celebridade tal ou qual, apenas porque já ouviu falar dele ou dela; e por aí afora, faça este favor à nação: vote em branco ou nulo. Lembrem-se os demais, por fim, da frase de George J. Nathan: “Os maus políticos são eleitos pelos bons cidadãos que não votam”. Portanto, às urnas, cidadãos!
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