EDITORIAIS
Repetem-se, de forma cada vez mais explícita, as articulações em torno de acertos políticos definidos genericamente como pragmáticos, mas na verdade marcados pelo fisiologismo. É um fenômeno recorrente, que apenas se intensifica com a proximidade das eleições e a reforma ministerial para a liberação de ministros e altos funcionários que pretendem se candidatar. Congresso e Executivo participam abertamente das trocas, que se caracterizam por conchavos, ataques e chantagens. Não são apenas as circunstâncias a própria estrutura do governo acolheu desde o início os mais variados interesses que favorecem e inspiram os movimentos. Consolida-se, a poucos meses do pleito, a ideia de que somente assim é que se viabiliza a governabilidade.
É um argumento incorporado à política brasileira, incansável no esforço para potencializar seus defeitos. É claro que a atividade pública depende de entendimentos, de concessões e de alianças programáticas pontuais ou duradouras. O que não é natural, em qualquer democracia, é a exacerbação de acordos que se transformam em alianças espúrias. Agora mesmo, persiste o conflito entre importante contingente da base aliada e o Planalto. Configura-se um racha no maior partido de apoio ao governo, a partir dos movimentos de setores que pretendem ampliar a participação do PMDB no Executivo. Os cinco ministérios que a agremiação detém seriam poucos para que os peemedebistas continuem assegurando respaldo incondicional às iniciativas governamentais no Congresso.
Além dos ministérios, entram em disputa cargos do segundo escalão, invariavelmente os que envolvem visibilidade ou farta distribuição de recursos. Tudo em nome do que publicamente pode ser anunciado como adesão às ideias e aos projetos do Executivo, mas que nos bastidores é uma batalha feroz por cadeiras que assegurem poder, verbas e, mais adiante, votos. O resultado desse embate, ainda sem um desfecho, é a obstrução da pauta do Congresso. Projetos como os que tratam do marco civil da internet e da renegociação das dívidas dos Estados passam a ser vistos pelos aliados rebeldes como pretextos para barganhas. Os reais interesses do país submergem em meio a essas disputas.
O rebaixamento da política chegou a um estágio preocupante, captado até mesmo pelos marqueteiros do Planalto. Segundo os especialistas em avaliar os humores do eleitor, quanto mais enfrentar os políticos, expondo suas manobras, mais a presidente se fortalece junto à população. Isso quer dizer que pode ser inclusive pela desqualificação de parte da representação parlamentar que o próprio Executivo conseguirá se fortalecer. É uma situação que talvez explique a desconexão entre fatos comprovadamente desfavoráveis ao governo, de um lado, e as pesquisas de opinião que respaldam a popularidade da presidente. Que tais amostragens não contribuam para fazer com que o compadrio continue prevalecendo em relação às escolhas baseadas na competência e na ética e para postergar a moralização das relações entre os dois poderes.
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