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segunda-feira, 24 de março de 2014

SECA E APAGÃO ENTRAM NA CAMPANHA

REVISTA ISTO É N° Edição: 2313 | 21.Mar.14

Crise energética no país e problemas no abastecimento de água em São Paulo antecipam debates eleitorais e estimulam candidatos de oposição

Izabelle Torres (izabelle@istoe.com.br)



Risco de racionamento de energia, contas de luz mais caras e o perigo da falta de água. Esses temas já esquentaram o debate político em outras ocasiões, mas poucas vezes influenciaram tanto uma campanha eleitoral como agora. O temor dos comitês de PT e PSDB é que a crise energética e os problemas no setor de abastecimento de água se transformem no calcanhar de aquiles tanto do governo como da oposição. Em São Paulo, a reeleição do governador Geraldo Alckmin, uma das principais lideranças do PSDB, corre risco de ser afetada pela falta de água causada pela seca do Sistema Cantareira, que atingiu a marca preocupante de 16% dos reservatórios sem que medidas preventivas fossem adotadas. No plano nacional, os oposicionistas a Dilma Rousseff ganharam um rosário de argumentos para questionar sua capacidade de gestora e especialista em sistema elétrico. Não bastasse a polêmica compra da refinaria de Pasadena, que contou com o aval de Dilma, gerando um prejuízo ao erário de R$ 1 bilhão (leia mais na pág. 41), a possibilidade de racionamento de energia tem grande potencial para prejudicar a imagem da presidenta às vésperas das eleições. Em pronunciamentos públicos, nas últimas semanas, Dilma dedicou-se a afastar a hipótese de apagão energético, como o que castigou a população em 2001. Mas o cenário é preocupante.


De dia falta água ...

Problemas para Alckmin. O Sistema Cantareira, que abastece 8 milhões de pessoas em São Paulo, opera hoje com menos de 16% de sua capacidade total. Somente uma improvável temporada de chuvas volumosas poderá afastar por completo o risco de racionamento



O Plano Decenal de Energia afirma que, para evitar o apagão no Brasil, seria necessário investir R$ 21 bilhões por ano até 2022. O governo federal, entretanto, vem gastando menos da metade desse valor. As consequências ficaram evidentes. Os reservatórios das usinas hidrelétricas – responsáveis por quase 80% da geração energética do País – atingiram os níveis baixos e operam em sistema de alerta. Índices como o atual só foram registrados em 2001. Nos últimos dias, Dilma também vem colhendo os efeitos negativos da decisão de reduzir a conta de luz dos consumidores em 20%. A medida foi tomada em 2012 e desde então vem sangrando os cofres públicos. O maior problema é que o efeito será inverso para os consumidores e haverá aumento na conta de energia depois das eleições. A decisão já contabiliza prejuízo superior a R$ 22 bilhões somente no ano passado e vai levar o governo a gastar outros bilhões para socorrer as distribuidoras em crise. “O setor foi desestruturado pelo intervencionismo do governo e decisões populistas. Estamos vivendo um racionamento sim. A previsão de aumentar a conta de luz nada mais é do que uma medida para inibir o consumo e adiar o apagão”, criticou o senador e presidenciável Aécio Neves (PSDB-MG). O pré-candidato do PSB ao Planalto, governador de Pernambuco, Eduardo Campos, também questionou a capacidade gerencial de Dilma. “O racionamento de energia elétrica é um problema que poderia ser evitado meses atrás, quando o próprio setor começou a demonstrar preocupação com a questão do fornecimento de energia e com a falta de chuvas. Isso tudo é falta de competência e planejamento”, opinou Campos. Os reveses colecionados por Dilma, nos últimos dias, ainda não se refletiram nas pesquisas eleitorais. Em recente levantamento do Ibope, divulgado na quinta-feira 20, ela se manteve numa liderança folgada com 43% das intenções de voto, mesmo índice de novembro, contra 15% de Aécio Neves (PSDB) e 7% de Eduardo Campos (PSB). Mesmo assim, um dado preocupou o Planalto e excitou a oposição. De acordo com a pesquisa, 64% querem mudanças no País. Mas, desse total, apenas 27% desejam mudar com Dilma. O restante (63%) disse querer mudar “totalmente” ou “muita coisa” no País com outro governante. “O importante, agora, é o sentimento de mudança cada vez maior. Na campanha, a população verá que nós e não Dilma encarnamos essa mudança tão almejada por todos”, comemorou Aécio.


...de noite falta luz

Confusão para Dilma. Os reservatórios das usinas hidrelétricas – responsáveis por quase 80% da geração energética do País – atingiram os níveis baixos e operam em sistema de alerta



Em São Paulo, o PT tenta dar o troco na mesma moeda. Na última semana, a gestão do PSDB de Geraldo Alckmin foi alvo de críticas do pré-candidato petista ao governo, Alexandre Padilha. “Essa crise da água é resultado da falta de projetos e de empenho para planejar e prevenir”, atacou o ex-ministro da Saúde. Ele disse ainda no Twitter estar aproveitando para economizar água e convidou a população a evitar o desperdício. “A última coisa que queremos é São Paulo depender só de São Pedro”, afirmou. Na verdade, razões eleitorais levaram o governador tucano a protelar ao máximo o racionamento de água na Grande São Paulo. Alckmin sabe que a medida é altamente impopular e teme que ela possa vir a atrapalhar o projeto da reeleição. O problema é que, na prática, moradores da região já sofrem com cortes de água diários. As falhas de abastecimento afetam municípios a oeste da capital – como Barueri, Cotia, Embu das Artes, Santana de Parnaíba e Itapecerica da Serra – e pelo menos oito bairros da maior cidade do País. Diante do cenário nada alvissareiro, Alckmin tentou tirar outra solução da cartola, nos últimos dias. Pediu autorização dos órgãos ambientais para realizar obras para captar água no rio Paraíba do Sul. A proposta, porém, não agradou ao governador Sérgio Cabral, para quem a medida colocaria em risco o abastecimento do Rio de Janeiro.





ESTILINGUE E VIDRAÇA
O petista Alexandre Padilha questiona a capacidade gerencial do PSDB.
Tucanos criticam Dilma e o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão


Mais combustível para a oposição

Denúncias em contratos da Petrobras e prisão de ex-diretor colocam estatal de novo no centro da contenda eleitoral

Josie Jeronimo


ESCÂNDALO
Compra de refinaria no Texas (EUA), avalizada por
Dilma Rousseff, gerou prejuízo de R$ 1 bilhão

Com movimentação financeira de ativos que alcança 16% do Produto Interno Bruno (PIB) do País, a Petrobras vire e mexe encontra-se no epicentro das polêmicas políticas. Assim como em 2010 – quando a Operação Águas Profundas, da Polícia Federal, justificou o pedido de abertura de uma CPI da Petrobras –, a estatal ganha os holofotes novamente, vira combustível para a oposição às vésperas da disputa eleitoral e pode se transformar numa grande dor de cabeça para a presidenta Dilma Rousseff.

A polêmica desta vez inicia-se no Estado americano do Texas. Em 2006, o governo patrocinou a controversa compra da refinaria de Pasadena. O grande problema é que, à época, Dilma Rousseff era ministra da Casa Civil e presidenta do Conselho Administrativo da Petrobras. Na última semana, reportagem do jornal “O Estado de S.Paulo” revelou que ela avalizou a operação que deu um prejuízo de mais de R$ 1 bilhão aos cofres públicos. Dilma e o conselho autorizaram a estatal a pagar US$ 360 milhões por 50% da refinaria e dois anos depois uma decisão judicial obrigou a estatal a pagar outros US$ 820 milhões para a sócia belga Astra Oil deixar a sociedade. A compra está sendo investigada por órgãos de fiscalização.

Para justificar o erro de avaliação em 2006, Dilma se complicou ainda mais ao afirmar que à época se guiou em informações “incompletas” e num parecer “técnica e juridicamente falho”. Segundo o governo, o “resumo executivo” sobre o negócio foi elaborado em 2006 pela área Internacional da Petrobras, comandada por Nestor Cerveró. Na terça-feira 18, em meio à polêmica sobre a compra da refinaria de Pasadena, Cerveró viajou para a Europa de férias. A interlocutores, disse que não servirá de bode expiatório e que a diretoria tinha conhecimento de todas as cláusulas do negócio, bem como o conselho de administração da empresa, presidido por Dilma.


COBRANÇAS
Presidenciável tucano diz que "Brasil precisa saber a verdade"

Para piorar a situação do governo, o ex-diretor de refino e abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa foi preso na quinta-feira 20, no Rio de Janeiro. Em sua casa, a Polícia Federal encontrou R$ 700 mil e US$ 200 mil em dinheiro. Ele foi preso acusado de tentar destruir documentos que provariam um esquema de lavagem de dinheiro envolvendo uma quadrilha que já teria movimentado R$ 10 bilhões. Os crimes fazem parte das investigações da Operação Lava Jato, que prendeu pelo menos 24 pessoas nos Estados do Rio, Paraná, São Paulo e Brasília. De acordo com a PF, a quadrilha usava empresas de fachada registradas no Brasil para simular negócios com a China, mas a operação tinha apenas o objetivo de lavar dinheiro de organizações criminosas. Costa também é investigado pelo Ministério Público Federal do Rio de Janeiro na ação da compra da refinaria de Pasadena.

A sequência de más notícias veio acompanhada de pesada artilharia da oposição. O PSDB e o DEM, que tentavam recolher assinaturas para abrir uma CPI da Petrobras, com o objetivo de apurar denúncia de pagamento de propinas da fornecedora holandesa SBM Offshore a funcionários da Petrobras, recuperaram o fôlego. O senador e presidenciável Aécio Neves (PSDB-MG) enfatizou as contradições nas versões apresentadas pelo governo em meio ao episódio. “O então presidente da Petrobras, [Sergio] Gabrielli disse que foi uma medida pensada, estudada, porque, segundo ele, naquele momento, a conjuntura de mercado orientava para os benefícios daquela ação. A presidente contradiz a diretoria anterior da Petrobras e é preciso que o Brasil saiba a verdade”, cobrou Aécio.



Fotos: Nacho Doce/REUTERS; WILTON JUNIOR/AE; EDSON LOPES JR/A2 FOTOGRAFIA; Adriano Machado/Ag. Istoé


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