Se alianças para governar são inevitáveis, devido à pulverização partidária, é crucial saber em que bases elas são negociadas
POR EDITORIAL
O GLOBO 05/09/2014 0:00
Entendido pelos principais adversários de Marina Silva, a presidente Dilma (PT) e Aécio Neves (PSDB), que teriam de atacar a candidata do PSB, para tentar cortar sua veloz ascensão nas pesquisas, iniciou-se um bombardeio de argumentos, no programa eleitoral e em entrevistas, a fim de “desconstruir” a possibilidade de um governo marineiro.
Como é do estilo petista, os ataques mais ácidos partem da campanha de Dilma. E o primeiro flanco mais visado é o da ideia de um presidente eleito à margem dos partidos. Como Marina Silva ainda não conseguiu fundar o seu, a Rede, entrou na disputa presidencial como vice de um partido alheio, e só começou a participar da briga eleitoral em pessoa devido à tragédia da morte de Eduardo Campos, o PT passou a usar a tática do medo relacionando a candidata a dois ex-presidentes, Jânio Quadros e Collor. Este, sem usar imagens na propaganda, porque se trata de um aliado da presidente e do PT. Um e outro de fato tinham projetos próprios e não se preocuparam com partidos. Apenas usaram-nos para chegar ao Planalto. Foram, mas não apenas por isso, focos de graves crises políticas.
Dilma desfere outro golpe em Marina ao lançar a desconfiança de que a candidata do PSB, vitoriosa sem estar sustentada em forte aliança partidária, enfrentaria insuperáveis problemas de governabilidade no Congresso.
Exagero, convenhamos. No presidencialismo brasileiro, qualquer político que se eleja passa a ter grande capacidade de atrair apoios. Está aí o PMDB para provar, com a exímia capacidade de estar no poder independentemente de quem ocupe o Planalto. Mesmo a presidente, que não se notabiliza pela flexibilidade em negociações políticas, reúne uma ampla base parlamentar.
Se coalizões são imprescindíveis, pela pulverização partidária, o importante passa a ser a maneira como são formadas. O método usado para estabelecer alianças diz muito do estilo do governo. A marca registrada das três administrações petistas, divididas entre Lula e Dilma, é a cooptação pela via do fisiologismo. Por isso foi necessário estender uma teia de 39 ministérios, para abrigar tantos aliados quanto necessários. Criaram-se, assim, as condições para escândalos em série: o PCdoB e suas Ongs nos Esportes, peemedebistas na Agricultura, pedetistas e sindicalistas no Trabalho, etc. No começo do mandato, Dilma iniciou uma “faxina ética” no ministério. Não durou muito.
O mensalão — a compra literal de apoio parlamentar com dinheiro público desviado — surgiu neste contexto. Tudo está relatado no processo julgado no Supremo.
A cooptação fisiológica é mazela a ser exorcizada no próximo mandato presidencial. Mesmo que a presidente Dilma se reeleja. Se ela já admite erros no governo e mudanças em política públicas — a ameaça de Marina parece lhe fazer bem —, bem poderia estender os aperfeiçoamentos à forma de fazer política.
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