ARTIGOS
por Marcos Rolim*
O sistema de voto nominal que nos convoca a escolher candidatos e não partidos produz aberrações e destrói a política. Pelo modelo, o voto oferecido a um candidato pode garantir a eleição de outros, do mesmo partido ou coligação. Assim, os eleitores paulistas que deram a Tiririca (PR) mais de 1,3 milhão de votos elegeram também Otoniel Lima (PRB), Vanderlei Siraque (PT) e Protógenes Queiroz (PC do B). Se a regra é a votação nominal, os partidos que apresentam nomes famosos terão vantagens competitivas. Nesse espaço, as siglas correm atrás de artistas, jogadores de futebol, palhaços, ex-BBBs, modelos, apresentadores de TV, pastores etc. com a expectativa de aumentar suas representações. Com raras exceções, a safra de celebridades eleitas para o parlamento só tem renovado o folclore político nacional. Os problemas do modelo são, entretanto, muito maiores. Parlamentares que defendem interesses corporativos e que representam as aspirações de suas bases tendem a aumentar suas votações. Assim, no Brasil, uma receita para a reeleição inclui pelo menos quatro ingredientes: 1) zelar pelos interesses de possíveis financiadores de campanha (quanto mais poderosos, mais interessante a relação); 2) distribuir recursos públicos carimbados como emendas parlamentares em atenção às demandas de prefeitos e de comunidades do interior, estruturando uma rede de clientela para a retribuição de favores; 3) colonizar a máquina de Estado com a indicação de cabos eleitorais que se especializarão no tráfico de influência e na atenção às demandas particulares passíveis de se transformarem em capital eleitoral, e 4) defender as aspirações de seus eleitores, por mais equivocadas ou egoístas que sejam, manifestando-se de forma tanto mais incisiva quanto maior for a competição com seus concorrentes pelos votos daquele setor.
Nesse modelo, parlamentares e governantes que atuem tendo em conta o interesse público – dispostos, portanto, a contrariar interesses particulares sempre que sobrepostos ao bem comum – possuem desvantagens eleitorais. De igual sorte, políticos que apresentem proposições inovadoras tendentes a efetivar reformas civilizatórias são pontos “fora da curva” do mercado eleitoral. Pelo sistema vigente, então, quanto mais irresponsável e demagogo for um político, quanto mais disposto a zelar pelos interesses econômicos poderosos, quanto mais submisso aos governos e mais identificado com as opiniões majoritárias – o que vale especialmente para os preconceitos mais amplamente compartilhados – maiores serão suas oportunidades eleitorais. O resultado pode ser medido pela progressiva degradação do parlamento e dos partidos. Um caldo sulfuroso no qual centenas de políticos do tipo Jair Bolsonaro (PP-RJ), Marcos Feliciano (PSC-SP) e Luis Carlos Heinze (PP-RS) nadam à vontade. Que seus partidos estejam todos aninhados no aconchegante colo do governo Dilma e sejam, portanto, aliados do PT no plano federal é algo que diz, por si só, muito sobre o que foi feito da política no Brasil. Pilantragem aqui recebe o nome de “realismo” e toda postura ética será castigada. Em nome da dialética, claro.
*JORNALISTA
O sistema de voto nominal que nos convoca a escolher candidatos e não partidos produz aberrações e destrói a política. Pelo modelo, o voto oferecido a um candidato pode garantir a eleição de outros, do mesmo partido ou coligação. Assim, os eleitores paulistas que deram a Tiririca (PR) mais de 1,3 milhão de votos elegeram também Otoniel Lima (PRB), Vanderlei Siraque (PT) e Protógenes Queiroz (PC do B). Se a regra é a votação nominal, os partidos que apresentam nomes famosos terão vantagens competitivas. Nesse espaço, as siglas correm atrás de artistas, jogadores de futebol, palhaços, ex-BBBs, modelos, apresentadores de TV, pastores etc. com a expectativa de aumentar suas representações. Com raras exceções, a safra de celebridades eleitas para o parlamento só tem renovado o folclore político nacional. Os problemas do modelo são, entretanto, muito maiores. Parlamentares que defendem interesses corporativos e que representam as aspirações de suas bases tendem a aumentar suas votações. Assim, no Brasil, uma receita para a reeleição inclui pelo menos quatro ingredientes: 1) zelar pelos interesses de possíveis financiadores de campanha (quanto mais poderosos, mais interessante a relação); 2) distribuir recursos públicos carimbados como emendas parlamentares em atenção às demandas de prefeitos e de comunidades do interior, estruturando uma rede de clientela para a retribuição de favores; 3) colonizar a máquina de Estado com a indicação de cabos eleitorais que se especializarão no tráfico de influência e na atenção às demandas particulares passíveis de se transformarem em capital eleitoral, e 4) defender as aspirações de seus eleitores, por mais equivocadas ou egoístas que sejam, manifestando-se de forma tanto mais incisiva quanto maior for a competição com seus concorrentes pelos votos daquele setor.
Nesse modelo, parlamentares e governantes que atuem tendo em conta o interesse público – dispostos, portanto, a contrariar interesses particulares sempre que sobrepostos ao bem comum – possuem desvantagens eleitorais. De igual sorte, políticos que apresentem proposições inovadoras tendentes a efetivar reformas civilizatórias são pontos “fora da curva” do mercado eleitoral. Pelo sistema vigente, então, quanto mais irresponsável e demagogo for um político, quanto mais disposto a zelar pelos interesses econômicos poderosos, quanto mais submisso aos governos e mais identificado com as opiniões majoritárias – o que vale especialmente para os preconceitos mais amplamente compartilhados – maiores serão suas oportunidades eleitorais. O resultado pode ser medido pela progressiva degradação do parlamento e dos partidos. Um caldo sulfuroso no qual centenas de políticos do tipo Jair Bolsonaro (PP-RJ), Marcos Feliciano (PSC-SP) e Luis Carlos Heinze (PP-RS) nadam à vontade. Que seus partidos estejam todos aninhados no aconchegante colo do governo Dilma e sejam, portanto, aliados do PT no plano federal é algo que diz, por si só, muito sobre o que foi feito da política no Brasil. Pilantragem aqui recebe o nome de “realismo” e toda postura ética será castigada. Em nome da dialética, claro.
*JORNALISTA
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Concordo com a afirmação de que o "sistema de voto nominal que nos convoca a escolher candidatos e não partidos produz aberrações e destrói a política". Quem dá as cartas na política brasileira? São as coligações, os caciques e as bancadas dos partidos que manipulam o voto de todos os seus membros para atender interesses do partido. A representação de quem elege fica em segundo plano, até porque muitos recebem votos fora da base eleitoral. Assim, todo mandatário fica escravo dos interesses do partido, se preocupando com quem o elegeu apenas para renovar o mandato ou conquistar cargos mais elevados. Por este motivo, defendo o voto distrital onde o eleitor escolhe primeiro o partido e depois o seu representante dentro da lista deste partido. É a única forma de unir o perfil partidário com o perfil do candidato, sem buscar na beleza, nas promessas vãs e na oratória fácil uma pessoa que vai se submeter totalmente ao partido, ao invés dos interesses das comunidades.
Nenhum comentário:
Postar um comentário