REVISTA ISTO É N° Edição: 2307
EDITORIAL
| 07.Fev.14 - 20:50
| Atualizado em 09.Fev.14 - 16:25
Carlos José Marques, diretor editorial
Cenas deploráveis de cidadãos se espremendo, lutando, desmaiando, para tomar diariamente o transporte público, repetem-se quase sem parar nas principais capitais do País, como se fosse a coisa mais natural do mundo. Trens, ônibus, metrôs, nada funciona direito ou à altura de responder à demanda. A qualidade do atendimento é precária. A malha, insuficiente. E o volume de verbas para investimento é sorrateiramente desviado em boa parte por esquemas de corrupção como o que ocorreu nas últimas duas décadas no metrô paulista. O resultado está aí!
| 07.Fev.14 - 20:50
| Atualizado em 09.Fev.14 - 16:25
Carlos José Marques, diretor editorial
Cenas deploráveis de cidadãos se espremendo, lutando, desmaiando, para tomar diariamente o transporte público, repetem-se quase sem parar nas principais capitais do País, como se fosse a coisa mais natural do mundo. Trens, ônibus, metrôs, nada funciona direito ou à altura de responder à demanda. A qualidade do atendimento é precária. A malha, insuficiente. E o volume de verbas para investimento é sorrateiramente desviado em boa parte por esquemas de corrupção como o que ocorreu nas últimas duas décadas no metrô paulista. O resultado está aí!
Como motor econômico do Brasil, São Paulo oferece rotineiramente o quadro mais desumano desse drama. Usuários tratados como gado, sem opção, levam horas para chegar a seu destino dentro de locomotivas insalubres ou escassos ônibus – ambos sempre abarrotados de passageiros, tornando insuportável o ar que se respira ali dentro. A frequência com que essas unidades de transporte quebram ou experimentam pane do sistema é enorme. E o índice de reposição dos veículos segue baixíssimo.
Na capital paulista inovaram na ação: em vez de atacarem o problema, autoridades preferiram centrar fogo na consequência. Criaram as chamadas “faixas de ônibus” em praticamente todas as ruas – espécie de outdoor de medida populista – que vivem vazias por falta justamente de ônibus suficientes.
Enquanto isso, o caos toma conta das demais vias, mais congestionadas do que nunca por ausência de um planejamento sério que dê vazão ao trânsito. Seria mais eficaz, e menos conturbado, primeiro dotar a cidade de uma frota capaz de desafogar as linhas. Mas na base do “quanto pior, melhor”, tornando infernal o tráfego, o alcaide paulista buscou por caminhos tortos sua intenção de ter mais e mais passageiros usando o transporte público.
O objetivo seria louvável e uma realidade até desejável – a exemplo do que ocorre nas maiores capitais globais –, caso o aparato do sistema e a infraestrutura do entorno estivessem funcionando em condições adequadas para atender o público adicional. Mal e porcamente dá conta do número atual de usuários. Como promover tamanha migração diante do evidente descaso com que são tratados aqueles que dependem desses meios de locomoção?
A solução do nó do transporte público é uma questão urgente. Que deve ser encarada com seriedade pelos governantes. Vale lembrar que, na origem das manifestações de rua, no ano passado, foi essa a primeira bandeira que inflamou os protestos.
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