CLEIDI PEREIRA
ALIANÇA ELEITORAL
Declarações de deputado afetam acordo entre siglas
Discurso contra quilombolas e índios fortaleceu alas de PSB e Rede contrárias ao apoio a Ana Amélia
As declarações do deputado federal Luis Carlos Heinze (PP) – que criticou quilombolas, homossexuais e índios e pregou a contratação de segurança privada pelos produtores rurais para manter a posse da terra – fortaleceram as alas do PSB e da Rede contrárias a uma aliança em torno da candidatura da senadora Ana Amélia Lemos (PP) ao Palácio Piratini. Marina Silva, principal líder da Rede e provável candidata a vice-presidente na chapa encabeçada pelo governador Eduardo Campos (PSB-PE), é defensora da causa indígena.
Heinze, deputado do PP mais votado em 2010 e terceiro no ranking da bancada gaúcha, se referiu a quilombolas, índios e homossexuais como “tudo o que não presta” durante uma audiência pública em novembro. O vídeo veio à tona na semana passada, gerando controvérsia.
De acordo com o segundo vice-presidente do PSB no Estado, deputado estadual Heitor Schuch, as declarações acenderam a luz amarela entre os líderes até então favoráveis à aliança. O assunto, segundo ele, “certamente” estará na pauta de um encontro de PSB, Rede e PPS no sábado, com a presença de Campos e Marina, em Porto Alegre.
– O PP nunca trilhou o caminho da pequena propriedade. Temos conflitos que são ideológicos – avalia Schuch.
Para Gisele Uequed, representante da Rede no RS, as declarações de Heinze evidenciaram ainda mais as diferenças entre o PP e a coligação PSB-Rede. O mais provável, segundo Gisele e Schuch, é que PSB e Rede tenham candidato próprio ao Piratini.
– As ideias do PP sobre desenvolvimento não caminham na mesma direção que a Rede – diz Gisele.
Apesar das resistências, a aliança vem sendo costurada desde o ano passado, quando Campos esteve no Rio Grande do Sul e circulou pela Expointer ao lado de Ana Amélia. O presidente estadual do PP, Celso Bernardi, nega que o episódio tenha prejudicado o andamento da negociação. De acordo com ele, as tratativas estão ocorrendo com todos os partidos que hoje fazem oposição ao governo Tarso Genro. No entanto, o progressista admite que, quando se trata de coligações, é normal que ocorra “um passo para frente e meio para trás”.
Líderes de movimentos sociais criticam Heinze
Representantes de movimentos sociais defenderam ontem, em audiência pública na Assembleia Legislativa, a cassação do deputado federal Luis Carlos Heinze (PP). No ato – organizado pela Comissão de Cidadania e Direitos Humanos e que reuniu cerca de 200 pessoas –, entidades repudiaram as declarações do parlamentar.
Ao abrir os trabalhos, o presidente da comissão, Jeferson Fernandes (PT), informou ter encaminhado representação ao Ministério Público Federal pedindo providências e denunciando as violações aos direitos humanos contidas nas declarações de Heinze e de Alceu Moreira (PMDB).
Durante a audiência, no entanto, parlamentares petistas também tiveram de responder a críticas da plateia: foram cobrados pelo fato de Heinze e Alceu Moreira integrarem a base do governo Dilma Rousseff.
– Fico triste de o deputado Heinze não estar aqui. Eu queria dizer uma coisas para ele, e perguntar se ele conhece alguma estrada sem fim. Quem garante que no fim da vida ele não vai ser homossexual? – questionou a Cacica Aquab, cacica geral do povo charrua do RS, arrancando risos e aplausos.
Ficou definido que um grupo de trabalho será formado nos próximos dias para avaliar as sugestões encaminhadas pelas entidades. Procurado pela reportagem, Heinze avaliou que as ações têm a intenção de “tirar votos” dele e da senadora Ana Amélia Lemos (PP). Segundo ele, suas declarações foram mal interpretadas, mas reiterou que não retira o que disse a respeito de índios e quilombolas:
– Já pedi desculpas aos homossexuais, não tenho nada contra.
Alceu Moreira disse que há uma “exploração de natureza política”:
– Não tenho nada para me preocupar, não tenho nenhum reparo a fazer. Só disse para os agricultores se defenderem.
VÍDEO POLÊMICO
- Em novembro passado, os deputados federais Luis Carlos Heinze (PP-RS) e Alceu Moreira (PMDB-RS) participaram de uma audiência pública da Comissão de Agricultura da Câmara no salão paroquial de Vicente Dutra, no norte do Estado.
- Os discursos foram gravados e vieram à tona na semana passada, com a divulgação de um vídeo no YouTube. Na gravação, Heinze aparece fazendo um discurso inflamado.
- Diante do público, formado por agricultores, Heinze sugeriu a contratação de segurança privada para manter a posse das terras. Em outro momento, disse que quilombolas, índios e homossexuais são “tudo o que não presta”.
- Moreira orientou os produtores rurais a se fardarem de “guerreiros” para não deixar nenhum “vigarista desses dar um passo na sua propriedade”. “Reúnam verdadeiras multidões e expulsem do jeito que for necessário”, completou.
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