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domingo, 2 de fevereiro de 2014

APELANDO À FIFA...


ZERO HORA 02 de fevereiro de 2014 | N° 17692

ARTIGOS

Por Flávio Tavares



O faz de conta está no auge. Cada vez mais, a ficção nos domina e a mentira se fantasia de verdade. As coisas inúteis tomam conta da administração pública e chegam, até, à empresa privada. Pouco a pouco, nos tornamos prisioneiros da burocracia, da parafernália de detalhes que disfarçam a inação, a inércia e a incapacidade de resolver o que deve ser resolvido.

A greve dos ônibus em Porto Alegre, por exemplo, mostra o engodo do imenso aparelho “trabalhista” montado pela lei. O transporte público é serviço essencial e deve ser visto como tal. As reivindicações dos grevistas são justas e, exatamente por isto, o impasse devia ter sido solucionado antecipadamente pela prefeitura municipal, concedente dos serviços. A greve é medida extrema, e a ela só se recorre pela inépcia dos mediadores. A pomposa burocracia municipal, estadual e federal (secretarias do Trabalho e ministério) e os sindicatos patronais e de trabalhadores foram incapazes de tratar da ferida antes de arrebentar como tumor.

O prefeito Fortunati foi eleito por maioria absoluta e, assim, não lhe devia faltar autoridade para responder aos que lhe depositaram confiança. Ou, pelo menos, para ser agradecido ao povo que o elegeu. O que lhe falta, então? Que coisa estranha lhe amarra as mãos para saber, apenas, apelar à Brigada Militar e pretender transformar soldados em motoristas de ônibus?

Entregar a solução dos conflitos ao Tribunal Regional do Trabalho mostra a falência da aparatosa burocracia “trabalhista”, distante da realidade. O TRT é uma espécie de UTI dos hospitais, a unidade de terapia intensiva a que chegam os casos extremos, insolúveis pelos meios normais. Na paralisação dos ônibus da Capital, faltou o tratamento normal e o enfermo caiu direto na CTI...

No hoje distante ano de 1956, Leonel Brizola era prefeito da Capital quando (numa sexta-feira) os estudantes universitários paralisaram por 30 minutos os bondes na Avenida João Pessoa, em protesto pelo aumento das passagens. (Os bondes cobriam, então, toda a cidade). No dia seguinte, o diretor da Carris, Henrique Henkin, foi ao encontro das lideranças estudantis no Restaurante Universitário, numa reunião de oito horas, sem pausas sequer para ir ao banheiro. E a situação se resolveu.

Hoje, a parafernália burocrática não sabe que transporte coletivo é serviço essencial e que não deve ser paralisado. As necessidades da população contam muito pouco, porém. As atenções se concentram na Copa do Mundo. Tempos atrás, para mostrar-se obediente ao calendário da Copa, o prefeito Fortunati esclareceu que “todas as semanas” se comunica com a Fifa, em Zurique, lá na Suíça. Agora, podia pedir que Blatter e os demais “cartolas” lhe indiquem a solução para o problema dos ônibus.

E, já que lá é inverno, pedir, também, que nos mandem algo de frio e neve para amenizar o calor. Afinal, o que a Fifa manda, ou desmanda, vale mais do que a lei.

P.S. – O comandante Vítor Stepanski, da antiga Varig, que conheceu mais de 200 aeroportos mundo afora, escreveu-me sobre meu artigo em torno da boate Kiss:

“Guarda esse artigo. Vais publicá-lo anos a fio sem ver justiça. Os familiares dos 199 mortos no acidente da TAM, que completará sete anos, continuam aguardando. Os indiciados da boate hoje não passam de sete. O culpado acabará sendo um soldado bombeiro. No acidente de Congonhas, o culpado será o subalterno da Infraero que, na chuva, com uma lanterna na mão e uma régua na outra, disse que a pista só tinha dois milímetros de água acumulada. Esta é nossa justiça três Ps. Aqui só pega ‘cana’ Preto, Prostituta e Pobre”.

*Jornalista e escritor


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