ZERO HORA 12/02/2014 | 17h04
Em vídeo, deputado gaúcho diz que "quilombolas, índios, gays, lésbicas" são "tudo que não presta". Em discurso durante audiência pública no norte gaúcho no ano passado, parlamentar também incentivou a criação de milícias rurais
Luis Carlos Heinze (em foto de arquivo) é um dos porta-vozes dos ruralistas gaúchosFoto: Arquivo pessoal / PP
Juliana Bublitz
Manifestações feitas por dois deputados federais gaúchos em relação à demarcação de terras indígenas no país viraram alvo de críticas do Greenpeace e de polêmica nas redes sociais.
Em vídeo gravado durante uma audiência pública da Comissão de Agricultura da Câmara em Vicente Dutra, no norte do Rio Grande do Sul, Luis Carlos Heinze (PP) e Alceu Moreira (PMDB) orientaram os produtores rurais a se organizarem contra os índios para defender suas terras.
A gravação foi feita em novembro do ano passado, mas só agora ganhou repercussão, depois de ser postada no YouTube.
Heinze critica o governo federal, em especial o ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, e insulta quilombolas, índios e homossexuais.
— O mesmo governo... seu Gilberto Carvalho também é ministro da presidenta Dilma. É ali que estão aninhados quilombolas, índios, gays, lésbicas, tudo que não presta, ali está alinhado. E eles tem a direção, que tem o comando do governo — afirma Heinze.
Em seu discurso, Heinze cita como exemplo o Pará e sugere que os agricultores gaúchos recorram ao uso de segurança privada para impedir o avanço das demarcações.
— O que estão fazendo os produtores do Pará? No Pará eles contrataram segurança privada. Ninguém invade no Pará porque a Brigada Militar não lhes dá guarida lá e eles têm de fazer a defesa das suas propriedades. Por isso, pessoal, só tem um jeito: se defendam. Façam a defesa como o Pará está fazendo, como o Mato Grosso do Sul está fazendo — diz o deputado.
Já o deputado Alceu Moreira (PMDB) aparece no vídeo fazendo um apelo para que os produtores "se fartem de guerreiros" para defender suas propriedades rurais.
— Nós, os parlamentares, não vamos incitar a guerra. Mas nos digam. Se fartem de guerreiros e não deixem um vigarista desses dar um passo na sua propriedade. Nenhum. Nenhum. Usem todo o tipo de rede. Todo mundo tem telefone. Liguem um para o outro imediatamente. Reúnam verdadeiras multidões e expulsem do jeito que for necessário.
Procurado por Zero Hora, Moreira afirmou que não retira o que disse, mas ressaltou que em momento nenhum sugeriu o uso da violência ou a formação de milícias no campo.
_ Eu disse para que as pessoas se unissem para fazer protesto. Esse problema não se resume ao Estado. Está acontecendo no Brasil inteiro _ ponderou Moreira.
Em seu site oficial, o Greenpeace Brasil repudiou as manifestações de ambos os deputados. Conforme a entidade, eles "não só incitam a violência contra lideranças indígenas que tentam retomar suas terras invadidas por fazendeiros, grileiros e madeireiros, como também insultam gays e lésbicas, e reforçam o discurso inverossímil acerca da demarcação de terras indígenas para o público de produtores rurais".
ZERO HORA 12/02/2014 | 16h57
"Mantenho o que eu disse", diz deputado que criticou quilombolas, índios e homossexuais. Causou grande repercussão nas redes sociais um vídeo em que Luis Carlos Heinze também incentiva a criação de milícias rurais
Foto: Reprodução / You Tube
Juliana Bublitz
Mesmo diante das críticas nas redes sociais e no site do Greenpeace, o deputado federal gaúcho Luis Carlos Heinze (PP) afirma manter o que disse em Vicente Dutra, no norte do Rio Grande do Sul, em novembro passado. Na ocasião, ele participou de uma audiência pública sobre a demarcação de terras indígenas no país e orientou os agricultores a contratarem seguranças privados para se defenderem dos índios. Ele também se referiu a índios, quilombolas e homossexuais como "tudo que não presta" e vinculou suas causas ao governo federal, em especial ao ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho.
Procurado por Zero Hora, Heinze falou sobre o caso por telefone e confirmou o discurso gravado em novembro. Confira os principais trechos da entrevista.
Zero Hora — No seu discurso, o senhor se refere aos gays, índios, quilombolas e às lésbicas "como tudo que não presta" e os vincula ao governo federal. Por quê?
Heinze — Isso foi força de expressão. O que eu estou dizendo é que lá dentro se aninham essas coisas. Todas as coisas ruins estão ali. Esse tipo de coisa. Não sou contra índio. Defendo os índios e os quilombos, mas em um processo decente.
ZH — Mas por que o senhor citou os homossexuais nesse caso?
Heinze — Esses movimentos todos estão ali dentro. Eu não sou conta. Se quer ser bicha, se quer ser lésbica, eu não tenho problema nenhum.
ZH — O senhor mantém o que disse no vídeo?
Luis Carlos Heinze — Sim. Fui lá, falei e mantenho o que eu disse. A demarcação de terras indígenas é um problema sério no Brasil inteiro. Não é só no Rio Grande do Sul. Agora o pessoal está em desespero no Maranhão, onde tem 500 homens do Exército para tirar 1.200 famílias e botar 40 índios em 116 mil hectares. É um crime. E isso é o governo. Isso nasce lá dentro do Palácio, com o ministro Gilberto Carvalho. É preciso ter lado nessa história, e eu tenho. Eu assumo a minha posição. Estão roubando os produtores, esse é o fato. Sou contra e mantenho o que digo.
ZH — Nas redes sociais, a conclusão é de que o senhor incitou o uso de milícias e de violência contra os índios. É isso mesmo?
Heinze — Não, eu não quero violência. Mas tu tens uma casa, que ralou para comprar, agora alguém vai invadir a tua casa e te colocar na rua. O que tu vais fazer? Tu vais pedir proteção do Estado. Só que hoje ninguém dá amparo. Eu ouvi, em Getúlio Vargas, a história de um agricultor que se suicidou por não saber o que fazer, por desespero. Isso não dói na gente? Imagina o drama dessas famílias. São pequenos produtores. Alguém tem de proteger. Não digo milícia. Eles contratam empresa de segurança. Hoje, se tu fizeres um grande evento, tu não contratas segurança privada? Contrata. São seguranças, pronto. E fazem o que tem de fazer.
ZH — Mas isso levaria a derramamento de sangue, não?
Heinze — Mas o que faz o governo? Eu estou há cinco, seis anos batendo em cima desse fato. E o que faz o governo? É muita injustiça. O Exército brasileiro está no Maranhão com 500 homens, tanques de guerra, com helicóptero, uma verdadeira operação contra gente pobre, miserável, humilde. Eu fico engasgado com isso. Tu achas que está certo?
ZH — O senhor não vê outra alternativa?
Heinze — A alternativa é a seguinte: governo sério, governo decente, compra terra e bota quem ele quer em cima. Não vai tirar as terras da forma como estão fazendo, em cima de laudos antropológicos fraudulentos. O governo que compre terra e bote quem quiser lá, quilombola, indígena, não tem problema.
O VÍDEO
http://www.youtube.com/watch?v=PjcUOQbuvXU
Em vídeo, deputado gaúcho diz que "quilombolas, índios, gays, lésbicas" são "tudo que não presta". Em discurso durante audiência pública no norte gaúcho no ano passado, parlamentar também incentivou a criação de milícias rurais
Luis Carlos Heinze (em foto de arquivo) é um dos porta-vozes dos ruralistas gaúchosFoto: Arquivo pessoal / PP
Juliana Bublitz
Manifestações feitas por dois deputados federais gaúchos em relação à demarcação de terras indígenas no país viraram alvo de críticas do Greenpeace e de polêmica nas redes sociais.
Em vídeo gravado durante uma audiência pública da Comissão de Agricultura da Câmara em Vicente Dutra, no norte do Rio Grande do Sul, Luis Carlos Heinze (PP) e Alceu Moreira (PMDB) orientaram os produtores rurais a se organizarem contra os índios para defender suas terras.
A gravação foi feita em novembro do ano passado, mas só agora ganhou repercussão, depois de ser postada no YouTube.
Heinze critica o governo federal, em especial o ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, e insulta quilombolas, índios e homossexuais.
— O mesmo governo... seu Gilberto Carvalho também é ministro da presidenta Dilma. É ali que estão aninhados quilombolas, índios, gays, lésbicas, tudo que não presta, ali está alinhado. E eles tem a direção, que tem o comando do governo — afirma Heinze.
Em seu discurso, Heinze cita como exemplo o Pará e sugere que os agricultores gaúchos recorram ao uso de segurança privada para impedir o avanço das demarcações.
— O que estão fazendo os produtores do Pará? No Pará eles contrataram segurança privada. Ninguém invade no Pará porque a Brigada Militar não lhes dá guarida lá e eles têm de fazer a defesa das suas propriedades. Por isso, pessoal, só tem um jeito: se defendam. Façam a defesa como o Pará está fazendo, como o Mato Grosso do Sul está fazendo — diz o deputado.
Já o deputado Alceu Moreira (PMDB) aparece no vídeo fazendo um apelo para que os produtores "se fartem de guerreiros" para defender suas propriedades rurais.
— Nós, os parlamentares, não vamos incitar a guerra. Mas nos digam. Se fartem de guerreiros e não deixem um vigarista desses dar um passo na sua propriedade. Nenhum. Nenhum. Usem todo o tipo de rede. Todo mundo tem telefone. Liguem um para o outro imediatamente. Reúnam verdadeiras multidões e expulsem do jeito que for necessário.
Procurado por Zero Hora, Moreira afirmou que não retira o que disse, mas ressaltou que em momento nenhum sugeriu o uso da violência ou a formação de milícias no campo.
_ Eu disse para que as pessoas se unissem para fazer protesto. Esse problema não se resume ao Estado. Está acontecendo no Brasil inteiro _ ponderou Moreira.
Em seu site oficial, o Greenpeace Brasil repudiou as manifestações de ambos os deputados. Conforme a entidade, eles "não só incitam a violência contra lideranças indígenas que tentam retomar suas terras invadidas por fazendeiros, grileiros e madeireiros, como também insultam gays e lésbicas, e reforçam o discurso inverossímil acerca da demarcação de terras indígenas para o público de produtores rurais".
ZERO HORA 12/02/2014 | 16h57
"Mantenho o que eu disse", diz deputado que criticou quilombolas, índios e homossexuais. Causou grande repercussão nas redes sociais um vídeo em que Luis Carlos Heinze também incentiva a criação de milícias rurais
Foto: Reprodução / You Tube
Juliana Bublitz
Mesmo diante das críticas nas redes sociais e no site do Greenpeace, o deputado federal gaúcho Luis Carlos Heinze (PP) afirma manter o que disse em Vicente Dutra, no norte do Rio Grande do Sul, em novembro passado. Na ocasião, ele participou de uma audiência pública sobre a demarcação de terras indígenas no país e orientou os agricultores a contratarem seguranças privados para se defenderem dos índios. Ele também se referiu a índios, quilombolas e homossexuais como "tudo que não presta" e vinculou suas causas ao governo federal, em especial ao ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho.
Procurado por Zero Hora, Heinze falou sobre o caso por telefone e confirmou o discurso gravado em novembro. Confira os principais trechos da entrevista.
Zero Hora — No seu discurso, o senhor se refere aos gays, índios, quilombolas e às lésbicas "como tudo que não presta" e os vincula ao governo federal. Por quê?
Heinze — Isso foi força de expressão. O que eu estou dizendo é que lá dentro se aninham essas coisas. Todas as coisas ruins estão ali. Esse tipo de coisa. Não sou contra índio. Defendo os índios e os quilombos, mas em um processo decente.
ZH — Mas por que o senhor citou os homossexuais nesse caso?
Heinze — Esses movimentos todos estão ali dentro. Eu não sou conta. Se quer ser bicha, se quer ser lésbica, eu não tenho problema nenhum.
ZH — O senhor mantém o que disse no vídeo?
Luis Carlos Heinze — Sim. Fui lá, falei e mantenho o que eu disse. A demarcação de terras indígenas é um problema sério no Brasil inteiro. Não é só no Rio Grande do Sul. Agora o pessoal está em desespero no Maranhão, onde tem 500 homens do Exército para tirar 1.200 famílias e botar 40 índios em 116 mil hectares. É um crime. E isso é o governo. Isso nasce lá dentro do Palácio, com o ministro Gilberto Carvalho. É preciso ter lado nessa história, e eu tenho. Eu assumo a minha posição. Estão roubando os produtores, esse é o fato. Sou contra e mantenho o que digo.
ZH — Nas redes sociais, a conclusão é de que o senhor incitou o uso de milícias e de violência contra os índios. É isso mesmo?
Heinze — Não, eu não quero violência. Mas tu tens uma casa, que ralou para comprar, agora alguém vai invadir a tua casa e te colocar na rua. O que tu vais fazer? Tu vais pedir proteção do Estado. Só que hoje ninguém dá amparo. Eu ouvi, em Getúlio Vargas, a história de um agricultor que se suicidou por não saber o que fazer, por desespero. Isso não dói na gente? Imagina o drama dessas famílias. São pequenos produtores. Alguém tem de proteger. Não digo milícia. Eles contratam empresa de segurança. Hoje, se tu fizeres um grande evento, tu não contratas segurança privada? Contrata. São seguranças, pronto. E fazem o que tem de fazer.
ZH — Mas isso levaria a derramamento de sangue, não?
Heinze — Mas o que faz o governo? Eu estou há cinco, seis anos batendo em cima desse fato. E o que faz o governo? É muita injustiça. O Exército brasileiro está no Maranhão com 500 homens, tanques de guerra, com helicóptero, uma verdadeira operação contra gente pobre, miserável, humilde. Eu fico engasgado com isso. Tu achas que está certo?
ZH — O senhor não vê outra alternativa?
Heinze — A alternativa é a seguinte: governo sério, governo decente, compra terra e bota quem ele quer em cima. Não vai tirar as terras da forma como estão fazendo, em cima de laudos antropológicos fraudulentos. O governo que compre terra e bote quem quiser lá, quilombola, indígena, não tem problema.
O VÍDEO
http://www.youtube.com/watch?v=PjcUOQbuvXU
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