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domingo, 2 de fevereiro de 2014

DEMAGOGIA INCLUSIVA


ZERO HORA 02 de fevereiro de 2014 | N° 17692

ARTIGOS

por Astor Wartchow*


“Boa noite a todos e todas. Quero saudar a presença de todos e todas.” Com certeza, você já ouviu, ultimamente, essas expressões em solenidades político-partidário-governamentais ou acadêmico-universitárias. Se não ouviu, com certeza, ouvirá!

Trata-se de um modismo denominado “linguagem inclusiva”. Sua utilização massiva teria se originado de reivindicação de movimento feminino. No entender das militantes, a gramática nacional torna as mulheres “invisíveis”. Entendem que a denominação genérica “todos” consolida e mantém uma supremacia masculina do cotidiano político, social e familiar.

Essa expressão é apenas mais uma apropriação linguística entre centenas que surfam na onda do politicamente correto, uma praga que multiplicou seus fiéis. E que acreditam que a linguagem pode mudar a realidade.

Ora, ora, no máximo, conseguem influenciar a linguagem, mas não mudam a realidade. Consulte qualquer professor de português. São expressões redundantes. O português é uma língua que não tem o gênero neutro. De modo que o gênero masculino (todos!) ocupa esse papel.

E isso não tem nada a ver com machismo e exclusão social. Se pretendem de fato valorizar as mulheres, devem encontrar outras soluções. Na vida real, não no campo da retórica. Aliás, é até um desrespeito tratar as pessoas assim, subestimando sua inteligência e sua percepção da realidade. E, sem dúvida, um desrespeito à gramática.

Essa onda do politicamente correto criou algumas preciosidades patéticas. Um exemplo é o tratamento verbal dispensado aos idosos. Velhice passou a ser chamada de “terceira idade”. Ou, como dizem alguns mais exagerados e abusados, “melhor idade”.

Até parece que nunca conversaram com idosos sobre os inúmeros problemas e transtornos que decorrem da chegada ou do avanço da idade. São eufemismos ofensivos à realidade que as pessoas enfrentam na vida cotidiana.

Não vai demorar muito e veremos campanhas para “abolir” expressões e/ou “domar” palavras tidas como perniciosas (sic) ao convívio social. Como se a língua fosse um “animal domesticável”.

Uma coisa são campanhas de esclarecimento e conscientização educacional e política, ou políticas públicas antidiscriminatórias e de transformação social. Outra coisa é manipular palavras.

“Todos e todas” é apenas mais uma das dezenas (ou serão centenas?) de bobagens com que o populismo e a demagogia nos brindam de tempos em tempos. E continuarão brindando.

Ou já esqueceram aquela ação de um procurador do Ministério Público Federal que tentou tirar de circulação o dicionário Houaiss, ou a edição de lei que manda nominar bacharel mulher de bacharela, ou a recente perseguição judicial às obras de Monteiro Lobato?


*ADVOGADO



REVISTA VEJA, 16/09/2010 às 17:02

Todos e todas, brasileiros e brasileiras


“‘Boa noite a todos e a todas’ está correto? Virou moda entre alguns políticos de minha cidade se referir a ‘todos e todas’. Todos não engloba… todas?” (Leonardo Concon)

É claro que engloba. Trata-se de um princípio gramatical do português, que não herdou do latim o gênero neutro: cabe ao masculino quebrar o galho nesse papel, abarcando também o feminino. A rebelião de certos falantes contra isso, que deu no modismo que intriga o leitor, é um dos aspectos da onda politicamente correta que, a partir do último quarto do século passado e tendo como centro irradiador o meio universitário americano, passou a tentar mudar a linguagem como uma forma de mascarar problemas que não conseguia resolver na realidade.

Algumas propostas do movimento se afogaram no próprio ridículo – aquela de chamar carecas de “capilarmente diferenciados”, por exemplo. Outras, porém, terminaram se entranhando de tal forma em nosso modo de falar e pensar que muitas vezes nem nos damos conta da mudança. O substantivo velhice começou por ceder espaço no discurso de muita gente ao eufemismo terceira idade e, em seguida, viu-se substituído por uma formulação francamente apatetada:melhor idade. Como toda droga, esta parece exigir doses cada vez mais fortes.

Não se trata de condenar a herança politicamente correta em bloco. É saudável que se chame a atenção dos falantes para a carga odiosa de racismo embutida num verbo como “judiar”, para citar um exemplo de ampla circulação no português. Judiar, maltratar, nasceu com uma mácula indisfarçável: quer dizer “tratar como se tratam os judeus”. As campanhas para abolir a palavra dos dicionários – que existiram e ainda existem – são equivocadas, pois não compete a lexicógrafos criar o vocabulário de uma língua e sim retratá-lo, mas a conscientização do público é bem-vinda. Cabe a cada um decidir com seus botões se deseja continuar falando assim.

De volta à questão de “todos e todas” – ou “brasileiros e brasileiras”, como José Sarney (foto) gostava de abrir seus discursos quando presidente da República –, o modismo tem até nome: “linguagem inclusiva”. Tem também um princípio de aparato legal a protegê-lo, tornando seu uso obrigatório em algumas esferas da administração pública. Basicamente, trata-se de uma bobagem populista – daí seu sucesso com os políticos, cultores por excelência de bobagens populistas. Se é inegável que a ancestral eleição do gênero masculino como universal é um sintoma de machismo da cultura, o que fazer disso é outra história.

O sexo masculino de Deus é mais um sintoma, e nem por isso tem prosperado a tese de Sua bissexualidade. Será que vale a pena encher nossa língua de cacos, redundâncias e pedidos de perdão, como se fôssemos todos(as) advogados(as) gagos(as)? Ou seria melhor se combatêssemos as discriminações reais onde elas de fato causam dano à sociedade, de preferência em linguagem limpa e clara, como adultos?

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