Licitação suspeita de fraude foi vencida por dona de casa - DANIEL RONCAGLIA, ENVIADO ESPECIAL A CAMPINAS E SILVIO NAVARRO, ENVIADO ESPECIAL A ITAPIRA
As licitações que levaram a Polícia Civil e o Ministério Público a investigar o presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, Barros Munhoz (PSDB), tiveram concorrência simulada e foram vencidas por empresas cujos donos eram laranjas.
A Folha revelou ontem que Munhoz é acusado de participar do desvio de R$ 3,1 milhões da Prefeitura de Itapira (SP), município que administrou até 2004. Segundo a denúncia do Ministério Público, foram feitos dezenas de depósitos em dinheiro na conta do deputado, totalizando R$ 933 mil.
As quatro licitações investigadas foram vencidas pela Conservias, empresa que tinha como sócia uma dona de casa que vive na periferia de Campinas e diz nunca ter ido ao município de Itapira.
Joleide Ramos Lima afirmou à Folha que apenas "emprestou" sua assinatura para abrir a empresa, e que nunca tratou de temas relacionados a ela.
Ela disse ter sido convencida a assinar os papeis pelo administrador de fato da empresa, José Cardoso, amigo da família havia 20 anos e que já morreu.
A dona de casa afirmou ter sabido das supostas fraudes apenas quando foi chamada a depor na Promotoria.
Joleide também foi dona da empresa Coenter Construções Ltda., que participou de duas das quatro licitações, tendo sido derrotada. Na Coenter, ela tinha como sócio o marido, o pedreiro aposentado Orlando Lima.
O casal também nega qualquer participação na gestão da Coenter, tendo emprestado suas assinaturas para a abertura da empresa.
Para o Ministério Público, a empresa participou da licitação para simular a existência de concorrência.
O deputado diz que, à época, a empresa cumpriu todas as exigências e alega que os depósitos em sua conta são frutos de empréstimos e de sua atividade empresarial.
A Folha esteve no endereço indicado como última sede da Coenter, em Mogi Mirim (SP). No local há um terreno vazio, com mato alto.
Três vizinhos disseram que nunca funcionou nenhuma empresa no local.
A reportagem já havia visitado os endereços declarados pela Conservias, onde, segundo vizinhos, a empresa nunca funcionou.
Baseado em laudos do Instituto de Criminalística, o Ministério Público afirma que as propostas apresentadas por concorrentes diferentes nas quatro licitações foram redigidas na mesma máquina de escrever.
'Acha que posso ter empresa?', indaga laranja - DANIEL RONCAGLIA, DO ENVIADO ESPECIAL A CAMPINAS
Joleide Ramos Lima mora com o marido e os três filhos em uma casa simples da Vila Mimosa, na periferia de Campinas. Mesmo tendo prestado dois depoimentos sobre o caso, ela só soube do envolvimento de Barros Munhoz depois que viu a reportagem da Folha de ontem.
Folha - A senhora consta como sócia de uma empresa investigada pela Promotoria.
Joleide Ramos Lima - Você acha que tenho condição de ter uma empresa? Um advogado amigo pediu o nome emprestado. Ele fez isso e morreu.*
Chegou a receber dinheiro?
Imagina! Nem um tostão. O doutor Cardoso [José Cardoso, administrador de fato da empresa] sempre usou nosso nome e nunca deu problema.
O seu marido é o Ademir?
É um amigo que estava aqui em casa quando o doutor Cardoso veio.
O que ele pediu?
Ele perguntou se poderia usar meu nome por um mês e pouco. Confiava nele.
Posso dizer que a senhora foi usada como laranja?
O promotor falou que a gente entrou de laranja. Nem sabia esse termo. Não sou dona de uma empresa desse porte.
O depoimento foi quando?
Faz tempo, não guardo data. Eu fui chamada e o seu Ademir também. Mas o que posso fazer? Não posso pagar um advogado.
A senhora conhece o endereço da empresa?
Não sei nada de Mogi.
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Um comentário:
Meu amigo. Faz bem em em abordar este vergonhoso caso do extra-ORDINÁRIO deputado Barros Munhoz.
Divulgue o mais que puder.
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