Eu assistia ao jornal, quando apareceu o líder do governo na Câmara dos Deputados; e tive a impressão de que o homem dizia coisas como “mesmo que usem o Bolsa-Família para comprar cachaça, serão 11 ou 12 milhões de garrafas, o que é bom para a economia...”. Empertiguei-me no sofá e pensei: “Pronto, alucinei.” Como ando meio estressado e um tanto sugestionável pelo filme Cisne Negro, sabia que isso iria ocorrer-me cedo ou tarde, de forma que fui atrás de uma clínica na Capital para internar-me (como de costume agora).
Antes, porém, chequei a informação e constatei que não, não tinha alucinado: o deputado federal pelo PT, Cândido Vaccarezza, realmente dissera o que dissera, literalmente mandando os beneficiários do Bolsa-Família ao boteco da esquina para ajudar, à custa de seus fígados combalidos, a economia nacional. Ironia ou não, foi o que ouvi; tratando-se, na melhor das hipóteses, do primeiro caso, alguém deveria dizer ao político que ironias não ficam bem em pessoas públicas, e que houve quem perdeu cabeça por tais comentários (mesmo que apócrifos).
Imaginem agora o seguinte: o ministro da Fazenda do governo Médici, Delfim Neto, dizendo a mesma coisa numa coletiva, lá nos anos 70. Pois a coletiva nem teria terminado e um funcionário dos Correios viria, resoluto, alcançar-lhe o telegrama de demissão. Só que dessa vez a declaração não vinha de um arauto do capitalismo ferrenho. Ou vinha, não sei – e aí que está o problema. No ano em que o Partido dos Trabalhadores comemora (seria o termo adequado?) seus 31 anos, ver um de seus correligionários estimular, em nome dos “benefícios para a economia”, um vício responsável por 90% das internações psiquiátricas e por mais de 30% dos casos de violência doméstica – e que ademais queima (já que falamos de álcool) recursos anuais do SUS na ordem de milhões – nos desnorteia. O que aconteceu com a tal “ideologia”? Quem defende o que e a que custo? Existe alguma diferença real entre governo e oposição? Parece que não – e que tudo realmente se dissolvera na tal modernidade líquida de que nos fala Zygmunt Bauman. Ora, líquido por líquido, fiquemos com a cachaça.
Portanto, Sr. pai de família, para que criar caso? Vá tomar sua pinga – e não se esqueça de dar uma para o santo: serão outros milhões de oblações a aquecer o mercado espiritual, que também não anda lá essas coisas...
Alécio Nogueira, promotor de justiça. Zero Hora, 04/03/2011
A Sociedade organizada têm por dever exigir dos Poderes de Estado o foco da finalidade pública e a observância do interesse público na defesa dos direitos básicos e da qualidade da vida da população na construção de uma sociedade livre, justa e democrática. Para tanto, é necessário aprimorar as leis, cumprir os princípios administrativos, republicanos e democráticos, zelar pelas riquezas do país, garantir a ordem pública, fortalecer a justiça e consolidar a Paz Social no Brasil.
VOTO ZERO significa não votar em fichas-sujas; omissos; corruptos; corruptores; farristas com dinheiro público; demagogos; dissimulados; ímprobos; gazeteiros; submissos às lideranças; vendedores de votos; corporativistas; nepotistas; benevolentes com as ilicitudes; condescendentes com a bandidagem; promotores da insegurança jurídica e coniventes com o descalabro da justiça criminal, que desvalorizam os policiais, aceitam a morosidade da justiça, criam leis permissivas; enfraquecem as leis e a justiça, traem seus eleitores; não representam o povo e se lixam para a população.
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