VOTO ZERO significa não votar em fichas-sujas; omissos; corruptos; corruptores; farristas com dinheiro público; demagogos; dissimulados; ímprobos; gazeteiros; submissos às lideranças; vendedores de votos; corporativistas; nepotistas; benevolentes com as ilicitudes; condescendentes com a bandidagem; promotores da insegurança jurídica e coniventes com o descalabro da justiça criminal, que desvalorizam os policiais, aceitam a morosidade da justiça, criam leis permissivas; enfraquecem as leis e a justiça, traem seus eleitores; não representam o povo e se lixam para a população.

sexta-feira, 11 de março de 2011

A MALDIÇÃO DE ECO

A mitologia grega nos conta a história de Eco, a jovem que encobria os erros conjugais de Zeus. Em suas fugas do Olimpo, Zeus contava com sua ajuda para ludibriar a mulher, Hera. Descoberta a farsa, Hera, não podendo se vingar de Zeus, lançou uma maldição sobre Eco, que deixou de falar espontaneamente. A jovem, então, passou apenas a reproduzir o que era dito pelos outros. Entristecida, refugiou-se num bosque onde estava Narciso, também vítima de uma maldição. Após tentar se aproximar de Narciso, por quem se apaixonara, mas rejeitada pela ausência de espontaneidade, Eco definhou, deixando sua voz próxima aos lagos.

A história de Eco resume a atual situação do governo. Inusitadamente, líderes petistas se mostram preocupados com o bom desempenho político e governamental da presidente Dilma. Na visão deles, uma performance bem-sucedida e com estilo próprio poderia tirar o brilho do ex-presidente Lula. O que querem, afinal, esses dirigentes? O que está fora das expectativas? Projetaram um cenário em que o governo Dilma não poderia se destacar? Não desejam um governo com estilo próprio, condizente com a subjetividade da presidente? Se as respostas para essas questões forem positivas, desenha-se um cenário em que os líderes petistas esperam para ela a maldição da mitologia.

A eleição de Dilma representa no inconsciente coletivo a continuidade do governo Lula. Para o eleitor, a popularidade dele e o desejo de continuidade baseiam-se nas políticas públicas desenvolvidas pelo seu governo. Temperamento, empatia e estilo gerencial não foram os enfoques das escolhas eleitorais em 2010. Dilma dificilmente alcançará o nível de carisma de Lula. Nem Lula superará o estilo gerencial de Dilma. Tais diferenças, por vezes apresentadas como ruptura, podem representar o aspecto complementar entre os dois aliados. O que o cidadão quer, contudo, é a manutenção da cadência dos últimos oito anos.

Na campanha de 2002, um dos aspectos negativos do candidato Lula era o fato de não possuir formação superior. No entanto, foi construída uma argumentação com forte representação de significados, em que ele aparecia liderando um grupo de gestores graduados e competentes - exibido como pano de fundo, trabalhando em algumas mesas - enquanto apresentava suas propostas no horário eleitoral. Foi a construção dessa imagem, de que Lula comanda os que trabalham gerencialmente, que sustentou sua figura de líder. O próprio argumento da campanha de Dilma reforçou a ideia.

O eleitor já enxerga Lula como governante de sensibilidade social. Seu governo é percebido como o que deu avanços significativos no campo social e econômico. Se essa imagem está consolidada, o brilho de Lula não pode ser apagado com a simples exposição da subjetividade de Dilma em seu estilo.

Sejam quais forem as expectativas dos dirigentes petistas e os acordos que culminaram na eleição de Dilma, a presidente tem três direitos inalienáveis. O primeiro, expor sua subjetividade, o estilo pessoal, independente dos elogios ou críticas.

Fazer um bom governo é o seu segundo direito. Mas estipular um teto para desempenho com caráter comparativo é inadmissível. O mínimo que se espera dos aliados é que trabalhem para superar as dificuldades e alcancem bons resultados. Qualquer sentimento diferente disso coloca esses dirigentes mais distantes do governo do que os oposicionistas.

Por fim, o terceiro direito de Dilma, e o mais temerário para alguns, é o de poder ser melhor que Lula. Nada mais natural. Se Lula entregou o país melhor do que recebeu, as condições de governabilidade de Dilma também são maiores. Consequentemente, maiores são suas possibilidades de êxito. E isso seria absurdo?

A presidente deve expressar sua subjetividade. O cidadão prefere esse comportamento à ausência de emancipação e à falta de liberdade. Uma ruptura de Dilma com o cidadão pela ausência de autenticidade tem sérios riscos. Afinal, Dilma não pode desejar o destino de Eco.

FÁBIO GOMES é sociólogo e presidente do Instituto Informa de Pesquisa. O GLOBO, 10/03/2011

Nenhum comentário: