VOTO ZERO significa não votar em fichas-sujas; omissos; corruptos; corruptores; farristas com dinheiro público; demagogos; dissimulados; ímprobos; gazeteiros; submissos às lideranças; vendedores de votos; corporativistas; nepotistas; benevolentes com as ilicitudes; condescendentes com a bandidagem; promotores da insegurança jurídica e coniventes com o descalabro da justiça criminal, que desvalorizam os policiais, aceitam a morosidade da justiça, criam leis permissivas; enfraquecem as leis e a justiça, traem seus eleitores; não representam o povo e se lixam para a população.

sábado, 6 de dezembro de 2014

FISIOLOGISMO NA MARRA


REVISTA ISTO É EDITORIAL, N° Edição: 2350 05.Dez.14 - 20:00
 

A Semana > Editorial




Carlos José Marques, diretor editorial



A que ponto de degradação moral chegou o Estado brasileiro! O País pôde assistir na semana passada a um espetáculo de chantagem a céu aberto, às claras – com direito a truculências abomináveis como a que sofreu uma idosa de 79 anos que protestava e levou uma “gravata” do segurança do Parlamento, sendo expulsa na marra da sala de votação – com o intuito de fazer valer a qualquer custo os propósitos vis do governo. Aos senadores e deputados foi imposto o golpe contábil: ou eles aprovavam a maquiagem fiscal nas contas públicas ou não receberiam a sua cota de recursos para emendas parlamentares, gasta em obras nos seus currais eleitorais. O toma lá dá cá foi estabelecido por decreto, para assombro geral! A liberação de R$ 444,7 milhões em emendas, equivalente a um “cala-boca” de R$ 748 mil por cada deputado ou senador aliado, ficou condicionada ao sinal verde desses senhores para que o governo transgredisse a Lei de Diretrizes Orçamentárias e não incorresse assim em crime de responsabilidade. Fixou-se ali um preço pelo voto e o Congresso passou recibo. Com o ato, a presidente Dilma demoveu resistências e fez do Congresso Nacional seu quintal, sua propriedade, muito embora tenha sido ele eleito para representar o povo. Maculada – “de cócoras”, como definiu o senador Aécio Neves –, a “Casa dos Representantes” conquistou irremediavelmente a pecha de vendida, subornável, descendo ao pior degrau na escala das reputações. Nunca se viu nada parecido na história da República. Na ordem do dia entra em vigor o fisiologismo institucionalizado, oficializado por deliberação federal. O escambo imoral, degradante, foi sacramentado na calada da madrugada, a portas fechadas, sem direito a participação popular na plateia. Ele só não é mais grave que a medida em si, com a qual o governo recebe licença para a irresponsabilidade fiscal sem limites. Vai fazer na prática o que bem entende de seus números, enquanto dá o pior exemplo de indisciplina orçamentária aos Estados e municípios, teoricamente submetidos aos mesmos ditames da lei. Imagine se a moda pega? As contas da União estão sendo manipuladas, com o endosso parlamentar, para vender algo que não existe: o superávit capaz de legitimar a gestão da economia como adequada. Na verdade, desponta agora uma saúde financeira de aparência, montada com números fajutos, e por essa via o governo dá mais uma demonstração de escárnio contra a sociedade. O brasileiro comum pode e deve estar se perguntando por que a ele também não é concedido o mesmo direito de simplesmente apagar suas dívidas da contabilidade com um truque fiscal, capaz de livrá-lo dos incômodos compromissos. Seria um sonho, mas eis uma prerrogativa reservada exclusivamente aos que detêm o poder e, em nome dele, ajustam leis ao bel-prazer e interesse.

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