REVISTA ISTO É N° Edição: 2353 | 26.Dez.14
Em meio a um cenário de descrédito, Dilma terá de tirar o País da estagnação, ampliar o diálogo com o setor privado, disciplinar as contas públicas, mas sem comprometer a geração de empregos e os programas sociais
Izabelle Torres
No final de novembro, após semanas de suspense, a presidente Dilma Rousseff anunciou sua nova equipe econômica. Comandado pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, um economista formado pela ortodoxa Universidade de Chicago, o trio composto ainda por Nelson Barbosa (Planejamento) e Alexandre Tombini (Banco Central) assumiu com a missão de tentar retomar a credibilidade do País, mas encontrou um cenário complicado de estagnação, descontrole total das contas públicas e inflação em alta. Em conversas no gabinete improvisado no Palácio do Planalto, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, tem revelado a interlocutores estar chocado com a “multiplicação de algumas despesas”, que atingiram uma dimensão “impossível de ser sustentada”. A situação é pior do que ele próprio imaginava. Na avaliação de Levy, conhecido no PT como “mãos de tesoura” por ser adepto do ajuste fiscal duro como remédio para correção de rumo, é inevitável o corte de despesas, assim como de incentivos.
Disciplinar os gastos públicos, pondo fim às manobras fiscais e à chamada contabilidade criativa, usada sem pudores no primeiro mandato a fim de maquiar os balanços do governo, é fundamental para a retomada da confiança e do crescimento econômico mais adiante. O desafio da presidente Dilma no segundo mandato é conseguir retirar o País da estagnação e manter a inflação num patamar de 4,5%, mas sem comprometer a geração de empregos e os programas sociais. Depois de fazer uma campanha eleitoral no rádio e na televisão acusando os adversários de terem a intenção de adotar medidas impopulares, Dilma e sua equipe sabem que podem pagar um preço amargo se partirem dela tais medidas. A presidente teme a cobrança dos brasileiros de baixa renda, que representam a maioria do seu eleitorado. Esse grupo de eleitores foi destinatário de outras dezenas de promessas feitas pela então candidata, como a de melhorar a saúde pública, ampliar os programas sociais e até erradicar o analfabetismo. Essa conta será cobrada a partir de 2015.
Além da população mais dependente do poder público, a presidente também terá contas a prestar a empresários e representantes dos setores que respondem pelo PIB do País. Durante a campanha, eles ouviram reiteradas promessas de diálogo – algo que faltou nos primeiros quatros anos de governo. O empresariado anseia por uma postura diferente da adotada por Dilma até agora. Em 2014, presidentes e representantes de algumas das maiores empresas do País desfiaram um rosário de críticas ao governo. Além do problema da falta de interlocução, os empresários reclamaram dos atrasos em investimentos nas áreas de infraestrutura e logística. Os empresários argumentam que as decisões são tomadas sem que os setores afetados sejam ouvidos previamente. “Não é feio falar com empresários. São eles que geram riqueza e precisamos ouvi-los”, ponderou o deputado do PP gaúcho Jerônimo Goergen. Um dos principais interlocutores do ex-presidente Lula, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo reconhece a dificuldade de Dilma no relacionamento com o empresariado. “Houve um afastamento não recomendável entre o Estado e o setor privado, que tem interesse no desenvolvimento de certos projetos. Faltou ao governo capacidade para negociar com o setor privado”, disse.
TRIO DE FERRO
Os ministros da Fazenda, Joaquim Levy, do Planejamento, Nelson Barbosa,
e o presidente do BC, Alexandre Tombini terão o desafio
de resgatar a credibilidade do País
O grande dilema de Dilma é que para cumprir as mais importantes metas da sua campanha será preciso admitir as próprias falhas e aceitar ser cobrada por elas. O déficit das contas públicas é um dos mais evidentes. Ela prometeu austeridade nos gastos. Sua nova equipe econômica garante não repetir a receita fracassada da atual gestão de fazer contabilidade criativa para forçar índices de superávit ilusórios e contas no azul. Este ano, o governo gastou nada menos do que R$ 30 bilhões a mais do que sua arrecadação. Uma conta bilionária, tornada pública recentemente com discursos genéricos para a causa do descontrole e que forçou Dilma a dizer que será preciso rever os próprios métodos de gastos. Se fizer isso, poderá dar sinais de disposição para cumprir as metas de investimentos e empenho em busca da retomada do crescimento. Se não fizer, poderá sentir o dissabor de ser cobrada por uma sociedade que vem aprendendo a mobilizar-se para brigar por seus direitos e pelo cumprimento das promessas políticas que lhe foram feitas.
Foto: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo, Adriano Machado/Ag. Istoé
Em meio a um cenário de descrédito, Dilma terá de tirar o País da estagnação, ampliar o diálogo com o setor privado, disciplinar as contas públicas, mas sem comprometer a geração de empregos e os programas sociais
Izabelle Torres
No final de novembro, após semanas de suspense, a presidente Dilma Rousseff anunciou sua nova equipe econômica. Comandado pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, um economista formado pela ortodoxa Universidade de Chicago, o trio composto ainda por Nelson Barbosa (Planejamento) e Alexandre Tombini (Banco Central) assumiu com a missão de tentar retomar a credibilidade do País, mas encontrou um cenário complicado de estagnação, descontrole total das contas públicas e inflação em alta. Em conversas no gabinete improvisado no Palácio do Planalto, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, tem revelado a interlocutores estar chocado com a “multiplicação de algumas despesas”, que atingiram uma dimensão “impossível de ser sustentada”. A situação é pior do que ele próprio imaginava. Na avaliação de Levy, conhecido no PT como “mãos de tesoura” por ser adepto do ajuste fiscal duro como remédio para correção de rumo, é inevitável o corte de despesas, assim como de incentivos.
Disciplinar os gastos públicos, pondo fim às manobras fiscais e à chamada contabilidade criativa, usada sem pudores no primeiro mandato a fim de maquiar os balanços do governo, é fundamental para a retomada da confiança e do crescimento econômico mais adiante. O desafio da presidente Dilma no segundo mandato é conseguir retirar o País da estagnação e manter a inflação num patamar de 4,5%, mas sem comprometer a geração de empregos e os programas sociais. Depois de fazer uma campanha eleitoral no rádio e na televisão acusando os adversários de terem a intenção de adotar medidas impopulares, Dilma e sua equipe sabem que podem pagar um preço amargo se partirem dela tais medidas. A presidente teme a cobrança dos brasileiros de baixa renda, que representam a maioria do seu eleitorado. Esse grupo de eleitores foi destinatário de outras dezenas de promessas feitas pela então candidata, como a de melhorar a saúde pública, ampliar os programas sociais e até erradicar o analfabetismo. Essa conta será cobrada a partir de 2015.
Além da população mais dependente do poder público, a presidente também terá contas a prestar a empresários e representantes dos setores que respondem pelo PIB do País. Durante a campanha, eles ouviram reiteradas promessas de diálogo – algo que faltou nos primeiros quatros anos de governo. O empresariado anseia por uma postura diferente da adotada por Dilma até agora. Em 2014, presidentes e representantes de algumas das maiores empresas do País desfiaram um rosário de críticas ao governo. Além do problema da falta de interlocução, os empresários reclamaram dos atrasos em investimentos nas áreas de infraestrutura e logística. Os empresários argumentam que as decisões são tomadas sem que os setores afetados sejam ouvidos previamente. “Não é feio falar com empresários. São eles que geram riqueza e precisamos ouvi-los”, ponderou o deputado do PP gaúcho Jerônimo Goergen. Um dos principais interlocutores do ex-presidente Lula, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo reconhece a dificuldade de Dilma no relacionamento com o empresariado. “Houve um afastamento não recomendável entre o Estado e o setor privado, que tem interesse no desenvolvimento de certos projetos. Faltou ao governo capacidade para negociar com o setor privado”, disse.
TRIO DE FERRO
Os ministros da Fazenda, Joaquim Levy, do Planejamento, Nelson Barbosa,
e o presidente do BC, Alexandre Tombini terão o desafio
de resgatar a credibilidade do País
O grande dilema de Dilma é que para cumprir as mais importantes metas da sua campanha será preciso admitir as próprias falhas e aceitar ser cobrada por elas. O déficit das contas públicas é um dos mais evidentes. Ela prometeu austeridade nos gastos. Sua nova equipe econômica garante não repetir a receita fracassada da atual gestão de fazer contabilidade criativa para forçar índices de superávit ilusórios e contas no azul. Este ano, o governo gastou nada menos do que R$ 30 bilhões a mais do que sua arrecadação. Uma conta bilionária, tornada pública recentemente com discursos genéricos para a causa do descontrole e que forçou Dilma a dizer que será preciso rever os próprios métodos de gastos. Se fizer isso, poderá dar sinais de disposição para cumprir as metas de investimentos e empenho em busca da retomada do crescimento. Se não fizer, poderá sentir o dissabor de ser cobrada por uma sociedade que vem aprendendo a mobilizar-se para brigar por seus direitos e pelo cumprimento das promessas políticas que lhe foram feitas.
Foto: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo, Adriano Machado/Ag. Istoé
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