VOTO ZERO significa não votar em fichas-sujas; omissos; corruptos; corruptores; farristas com dinheiro público; demagogos; dissimulados; ímprobos; gazeteiros; submissos às lideranças; vendedores de votos; corporativistas; nepotistas; benevolentes com as ilicitudes; condescendentes com a bandidagem; promotores da insegurança jurídica e coniventes com o descalabro da justiça criminal, que desvalorizam os policiais, aceitam a morosidade da justiça, criam leis permissivas; enfraquecem as leis e a justiça, traem seus eleitores; não representam o povo e se lixam para a população.

sábado, 25 de outubro de 2014

A CONSTRUÇÃO DO PAÍS

 
ZERO HORA 25 de outubro de 2014 | N° 17963


PALAVRA DE MÉDICO | J.J. CAMARGO





Ainda não desenvolvemos o senso crítico da verdadeira cidadania

É certo que votar, como exercício democrático, tem um efeito euforizante, e isso não se deve unicamente à percepção de que podemos escolher os melhores candidatos, e à chance pequena, mas real, de contribuirmos para fixar ou mudar a cara do país.

Muito mais está em jogo quando antecipamos a saída da cama naqueles domingos mágicos e marchamos resolutos para deixar nossa mensagem, seja ela de apoio, aplauso, protesto, indignação ou esperança.

Há um sentimento de poder que brota incontrolavelmente do íntimo de cada eleitor, capaz de insuflar o ego dos combalidos e de restaurar a autoestima daqueles que se sentiram esquecidos ou injustiçados. Essa sensação é suficientemente poderosa para atribuir a um único voto uma força que a racionalização tenderia à pulverização no universo de milhões de votantes.

Não importa que estejamos restritos à insignificância de um voto isolado. No fundo, nos sentimos desassombrados e imbatíveis, como se estivéssemos convencidos de que aquela eleição será decidida por aquele unzinho solitário, mas nosso.

Quando o João Pedro, meu neto de 13 anos, interrompeu a concentração com que acompanhávamos a apuração dos votos para anunciar com brilho no olho que, “na próxima eleição eu vou votar!”, ficou claro que esse sentimento de depuração cívica não tem idade nem limite.

Uma pena que, principiantes que somos em democracia, ainda não tenhamos desenvolvido o senso crítico da verdadeira cidadania, que elege candidatos por convicção e cobra promessas por se sentirem ofendidos quando o falsário, tendo percebido o que o povo deseja ouvir, anuncia sem escrúpulos uma versão falaciosa do desejo como se fosse verdadeiro.

Claro que pilantras existem em todos os lugares e latitudes, mas a diferença é que, nos países civilizados, eles são execrados e não se repetem, enquanto que o subdesenvolvido festeja o vigarista como inteligente, recebendo como bônus dos nanicos morais os sebosos elogios dos que confundem pilantragem com esperteza política. Ao vê-los garbosos festejando conquistas que não mereceram, é inevitável imaginá-los tentando sufocar, na solidão do travesseiro, a consciência do que, de fato, são.

Com a proximidade das eleições, a busca obstinada pela conquista ou pela perpetuação do poder faz com que os tênues resíduos de escrúpulo sejam definitivamente banidos, e pululam as promessas, ancoradas pela boa fé dos incautos, e blindados do risco de cobranças futuras pela certeza de que os inocentes têm memória curta.

Quando você caminhar para a urna amanhã, pense nisso: nós merecemos o país que construímos em cada eleição.

Quem vota em branco ou anula o seu voto está apenas anunciando a imagem que tem de si mesmo.

E cidadania não se constrói com omissão, porque não é esse o modelo que devemos passar aos nossos filhos e netos, enquanto eles aguardam ansiosos pela idade que trará a senha de acesso ao encanto da livre escolha.

Quem vota em branco ou anula o seu voto está apenas anunciando a imagem que tem de si mesmo

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