ZH 22 de outubro de 2014 | N° 17960
JAYME EDUARDO MACHADO*
Você sabia, eleitor omisso, que, seja por justificar a ausência pela dispensa dos 70 anos, seja pela decepção com os que ajudou a eleger, a falta do seu voto poderá custar mais caro ao país do que os malfeitos dos políticos que você detesta? Pois saiba que você, eleitor inútil, “velho”, anônimo do voto em branco ou nulo, será capaz de decidir a eleição para presidente da República.
Seus censores, votantes incorrigíveis, reconhecem que a cada pleito você é enganado ao ponto de se sentir um “bobo das urnas”, para a alegria da corte dos eleitos que usufruem às suas custas. Como também percebemos todos que há sensatez nesse gesto de recusa a realimentar sempre mais o banquete da corrupção que engorda os reeleitos e contamina os noviços. Mas não pense que a política é só deles, os “fichas-sujas”. A democracia, mais do que um regime aprisionado a um conceito, é um processo de conscientização dinâmico no tempo e variável nos territórios em que evolui, e sua virtude reside na busca incansável do autoaprimoramento. Em outras palavras, a consolidação democrática depende da vontade, da crença e da esperança que nele depositam as sociedades que a perseguem. E isso não se faz sem o sacrifício da participação. A nossa convive com estatísticas que apontam números em que quase metade dos deputados federais mais votados e senadores eleitos para a próxima legislatura está sendo investigada pela Polícia Federal e pelo Ministério Público. O que, se evidencia a resistência do vírus da corrupção, também desnuda a ação eficaz dos antídotos institucionais dedicados ao seu combate. E, se estamos entalados na alternativa de optar entre candidatos cuja dubiedade ética transparece, não se elimina a possibilidade de, no mínimo, perceber que cada um tem a livre consciência de eleger o que julgar melhor. Uma nação, que compreende um território e seu povo, merece tudo menos a indiferença dos seus filhos. O primeiro turno revelou que, entre 142 milhões de eleitores, 38 milhões deixaram de votar por comodismo, protesto ou decepção. Número capaz de eleger, no mínimo e na dúvida, o menos pior. Mas no máximo e na certeza, cumprir o essencial à democracia: conservar quando é conveniente ou mudar quando necessário. Nunca se fez tão indispensável a utilidade dos inúteis.
Jornalista, ex-subprocurador-geral da República
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