REVISTA ISTO É N° Edição: 2343, 17.Out.14 - 20:00
Carlos José Marques, diretor editorial
A visível decadência moral do Estado ganhou contornos assombrosos quando a própria presidenta da República, Dilma Rousseff, veio a público para chamar de “golpe” a divulgação dos depoimentos de delatores sobre o maior esquema de assalto já montado em uma estatal brasileira, que sangrou os cofres da Petrobras em bilhões de dólares para financiar partidos aliados do governo.
Registre-se que a presidenta e aspirante à reeleição, Dilma, considerou estarrecedor não o roubo revelado e confessado, mas a liberação dos áudios – de resto, feita de maneira absolutamente legal e legítima. O processo não corre em segredo de justiça e trata-se, portanto, de informação sob domínio público. O PT não se conformou e passou a enxergar manipulações, tachando a denúncia de conspiração das instituições com o objetivo diabólico de sabotar a candidatura oficial. Há algo de muito perigoso quando dirigentes da Nação partem para a afronta gratuita aos demais poderes constituídos.
O patrono da legenda do PT, o ex-presidente Lula, resolveu por sua vez lançar um deboche escrachado: “Estou de saco cheio dessas denúncias!”, disse em um tom de indignação que não se vê quando as denúncias recaem sobre seus adversários. O que se assistiu daí por diante foram truques de cena, com o Partido dos Trabalhadores em ataques abertos ao juiz responsável, Sergio Moro, como tática diversionista para confundir e tirar o foco das delinquências cometidas na maioria das vezes a seu favor.
Comportamento idêntico a agremiação e seus quadros tiveram para encobrir os malfeitos do mensalão, um escândalo que negam até hoje, mas que levou para a cadeia várias de suas estrelas, como o ex-ministro e “chefe da quadrilha”, José Dirceu. No atual episódio causam estranheza as declarações da presidenciável, alegando que seu governo apura a fundo os escândalos, em claro contrassenso com as manobras para abafar o caso – esse e os demais –, demonstrando a pouca seriedade das afirmativas. No afã de seu projeto de poder parece haver uma disposição seletiva do governo em propagar acusações aos “inimigos”, acobertar desvios próprios e dos amigos (mesmo os condenados) e engavetar investigações que contrariem seus interesses. Flerta-se assim com o autoritarismo. Algo latente em ações e reações como a que teve a candidata Dilma ao dizer que em eleição se pode “fazer o diabo”.
A esquadra de marqueteiros não mede esforços nesse sentido. Deu para notar que os escrúpulos foram para as calendas nessa campanha e um festival de mentiras ganhou corpo com o intuito de destruir reputações – de Marina Silva a Eduardo Campos, muitos sentiram o peso da artilharia petista, no que pode ser interpretado, esse sim, como o autêntico golpe pelo poder a qualquer preço. Extrapolando os limites de civilidade, apelando a toda sorte de desvios éticos e apoiando-se no fisiologismo desavergonhado do toma lá dá cá – que une no mesmo arco de alianças para reeleger Dilma personagens que vão de Collor a Maluf –, o Partido dos Trabalhadores consagrou o vale-tudo. Há no seio da sociedade um crescente sentimento de repulsa a esse modus operandi do PT e é ele que move o desejo pela mudança. Sem golpes, democraticamente, nas urnas.
Carlos José Marques, diretor editorial
A visível decadência moral do Estado ganhou contornos assombrosos quando a própria presidenta da República, Dilma Rousseff, veio a público para chamar de “golpe” a divulgação dos depoimentos de delatores sobre o maior esquema de assalto já montado em uma estatal brasileira, que sangrou os cofres da Petrobras em bilhões de dólares para financiar partidos aliados do governo.
Registre-se que a presidenta e aspirante à reeleição, Dilma, considerou estarrecedor não o roubo revelado e confessado, mas a liberação dos áudios – de resto, feita de maneira absolutamente legal e legítima. O processo não corre em segredo de justiça e trata-se, portanto, de informação sob domínio público. O PT não se conformou e passou a enxergar manipulações, tachando a denúncia de conspiração das instituições com o objetivo diabólico de sabotar a candidatura oficial. Há algo de muito perigoso quando dirigentes da Nação partem para a afronta gratuita aos demais poderes constituídos.
O patrono da legenda do PT, o ex-presidente Lula, resolveu por sua vez lançar um deboche escrachado: “Estou de saco cheio dessas denúncias!”, disse em um tom de indignação que não se vê quando as denúncias recaem sobre seus adversários. O que se assistiu daí por diante foram truques de cena, com o Partido dos Trabalhadores em ataques abertos ao juiz responsável, Sergio Moro, como tática diversionista para confundir e tirar o foco das delinquências cometidas na maioria das vezes a seu favor.
Comportamento idêntico a agremiação e seus quadros tiveram para encobrir os malfeitos do mensalão, um escândalo que negam até hoje, mas que levou para a cadeia várias de suas estrelas, como o ex-ministro e “chefe da quadrilha”, José Dirceu. No atual episódio causam estranheza as declarações da presidenciável, alegando que seu governo apura a fundo os escândalos, em claro contrassenso com as manobras para abafar o caso – esse e os demais –, demonstrando a pouca seriedade das afirmativas. No afã de seu projeto de poder parece haver uma disposição seletiva do governo em propagar acusações aos “inimigos”, acobertar desvios próprios e dos amigos (mesmo os condenados) e engavetar investigações que contrariem seus interesses. Flerta-se assim com o autoritarismo. Algo latente em ações e reações como a que teve a candidata Dilma ao dizer que em eleição se pode “fazer o diabo”.
A esquadra de marqueteiros não mede esforços nesse sentido. Deu para notar que os escrúpulos foram para as calendas nessa campanha e um festival de mentiras ganhou corpo com o intuito de destruir reputações – de Marina Silva a Eduardo Campos, muitos sentiram o peso da artilharia petista, no que pode ser interpretado, esse sim, como o autêntico golpe pelo poder a qualquer preço. Extrapolando os limites de civilidade, apelando a toda sorte de desvios éticos e apoiando-se no fisiologismo desavergonhado do toma lá dá cá – que une no mesmo arco de alianças para reeleger Dilma personagens que vão de Collor a Maluf –, o Partido dos Trabalhadores consagrou o vale-tudo. Há no seio da sociedade um crescente sentimento de repulsa a esse modus operandi do PT e é ele que move o desejo pela mudança. Sem golpes, democraticamente, nas urnas.
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