VOTO ZERO significa não votar em fichas-sujas; omissos; corruptos; corruptores; farristas com dinheiro público; demagogos; dissimulados; ímprobos; gazeteiros; submissos às lideranças; vendedores de votos; corporativistas; nepotistas; benevolentes com as ilicitudes; condescendentes com a bandidagem; promotores da insegurança jurídica e coniventes com o descalabro da justiça criminal, que desvalorizam os policiais, aceitam a morosidade da justiça, criam leis permissivas; enfraquecem as leis e a justiça, traem seus eleitores; não representam o povo e se lixam para a população.

domingo, 19 de outubro de 2014

A POLÍTICA QUE AZEDA RELAÇÕES




ZH 19 de outubro de 2014 | N° 17957

Nilson Mariano,

ELEIÇÕES 2014 | REDES SOCIAIS. Bate-boca sobre a campanha pelo Facebook e outros meios virtuais está provocando inimizade entre usuários e ganhou ainda mais intensidade com a chegada do segundo turno, no próximo dia 26


As discussões em torno das eleições azedaram as amizades no Facebook e em outras redes sociais.

Internautas que já vinham se indispondo desde setembro, quando subiu o tom dos debates entre os candidatos à Presidência da República, agora estão em pé de guerra com a proximidade do segundo turno, no dia 26.

A falta de etiqueta no convívio virtual tem incomodado tanto que usuários estão recorrendo ao extremo de deletar amigos. A gestora cultural Márcia Morales, 43 anos, de Porto Alegre, fez uma faxina na página do Facebook logo após a disputa do primeiro turno. Deixou de seguir três pessoas, excluiu outras três e bloqueou mais duas.

– A limpeza foi necessária para que mantivesse a minha liberdade de expressão – comenta.

Foi uma depuração silenciosa, baseada em critérios. Nos casos mais graves, em que a timeline foi invadida por postagens repetidas e agressivas, Márcia simplesmente apagou o intruso da lista de amizades. Lamentou algumas exclusões, mas entende que não poderia compactuar com ideias preconceituosas.

– Cada amigo constrói regras de convivência no Facebook. Jamais postaria propaganda política na página de alguém – ressalta.

Web amplifica as repercussões

Os aborrecimentos de Márcia têm comprovação em números. A entidade que monitora os crimes de ódio na internet, a Safernet, recebeu 3,7 mil denúncias nos dias próximos ao primeiro turno das eleições.

Foi o triplo do registrado no mesmo período do ano passado, quando a rotina dos brasileiros era normal.

O fato é que as redes sociais refletem as instabilidades do clima político, polarizado entre simpatizantes de Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB). Se antes prevalecia o clique para adicionar novos amigos, hoje a tendência é aplicar o unfollow – deixar de seguir determinada pessoa.

O arquiteto Tiago Gré, 34 anos, também executou uma limpeza na sua conta no Facebook.

– Não preciso ter na minha mídia social, no meu circuito, posts que embrulham o estômago – diz Tiago.

O que mais importuna Tiago é o conteúdo racista, xenófobo e fascista de algumas mensagens, reveladas ao término do primeiro turno das eleições. Antes de promover a faxina, ainda preveniu que aceitava a divergência de ideias, mas não a raiva e a mentira. Não adiantou. Teve de excluir dois seguidores e afastar outros 10.

– Foi tolerância zero, passei a régua. Se essas pessoas pensam assim, não servem para minhas amigas – afirma o arquiteto.

A eliminação de chatos no Facebook é permanente, assim como na vida. Existem até especialistas para orientar como enxugar o perfil, a partir de dicas fornecidas pela internet. No entanto, o acirramento de ânimos nas eleições acelerou os rompimentos virtuais. Para a professora de gestão de pessoas Alessandra Gonzaga, da Faculdade Senac Porto Alegre (FSPOA), está faltando habilidade emocional no uso das redes.

– Não estão discutindo fatos e ideias, mas fazendo acusações e julgamentos pessoais – constata.

Também professora de comportamento organizacional, Alessandra sugere que internautas mais exaltados tentem evitar assuntos explosivos e sejam mais tolerantes com quem discorda. Lembra que o impacto de escrever mensagens é maior do que conversar entre colegas. Outra recomendação é não criticar postagens de cujo teor não se gosta, para evitar atritos.

A professora de publicidade, propaganda e administração da ESPM Sul, Helena Dall Pizzol, observa que o meio online amplifica as reações, ainda mais sobre temas vulcânicos, como são as eleições. Defende que os internautas, em momentos de nervos expostos, tenham consciência da repercussão das redes sociais.

– É necessário ser um cidadão internauta. Quando opiniões vão para a web, o mundo é o receptor – alerta Helena.

A gestora cultural Márcia Morales fez faxina na rede social para “manter sua liberdade de expressão”

Etiqueta virtual

As dicas de especialistas para evitar aborrecimentos nas redes sociais

- Tenha em mente que a web amplifica as mensagens

-A palavra escrita tem um peso maior do que a falada

-Avalie o que está escrevendo. E respire antes de pressionar a tecla enter

-Respeite o próximo. Não poste mensagens na timeline do amigo

-Tenha maturidade para receber contrapontos e respostas divergentes

- Não tente mudar a opinião dos outros. A timeline não é o espaço para catequizar ninguém

- Lembre-se que as amizades vão além das opiniões. O mundo seria chato se todos fossem iguais

Amigos discutem via WhatsApp

Eles estão separados pela distância, mas discutem ardorosamente sobre política por meio do WhatsApp – o aplicativo que permite a troca instantânea de mensagens via smartphone. Quem não faz parte do grupo imagina que irão se engalfinhar a qualquer momento. Mas a percepção é enganosa: não brigam de jeito nenhum, são amigos do peito.

Eles se conheceram em Santa Maria, quando meninos, e depois se dispersaram por cidades gaúchas, catarinenses e paranaenses. Já quarentões, aproveitam as redes sociais para conversar, trocar ideias e combinar o próximo encontro anual da turma, com direito a churrasco, cerveja e gargalhadas. Nas atuais eleições, graças à agilidade do WhatsApp, amplificaram a voltagem em torno dos debates.

– Quando está demais, fico uns três dias sem me manifestar, depois volto – conta Luigi Munhoz Barbosa, 40 anos, que trabalha como agente penitenciário.

Um dos poucos que permaneceram em Santa Maria, Luigi admite que as discussões, em certos momentos, ultrapassam o limite do tolerável. O pior é quando aparece alguém, da própria confraria, simulando neutralidade, para jogar mais gasolina na fogueira.

– Às vezes irrita, mas nada que possa romper a nossa amizade – garante Luigi.

Morando em Curitiba, o santamariense e administrador de empresas Jaime Rafael Falkembach, 40 anos, destaca que a tecnologia aproximou os amigos de forma rápida e gratuita. Em época de Gre-Nal e eleições, todos gostam de expor suas cores – e trocar farpas. Jaime tenta imprimir uma “conotação mais cômica” e não se importa de ser chamado de xiita. Quando sente que o clima ferve, não espicha o assunto.

– Se vejo que a discussão vai se alongar, e terei de continuar respondendo, me afasto. Mas é por falta de tempo, e não por questões de conteúdo – explica.

Jaime integra outras galeras, mas não se atreve a confrontar ideias com elas – não utilizando as aguilhadas verbais que predominam entre os confrades de Santa Maria. Acredita que poderia ser bloqueado, até mesmo excluído.

Diálogo mordaz

Alguns comentários da turma de Santa Maria em torno das eleições

“O teu grau de burrice explica muita coisa...”

“VC não. Vou parar de tagarelar contigo desse jeito. Faz o favor”

“Ah, não. Ser chamado de burro é a mesma coisa que ofender a mãe. Eu não deixaria assim...”

Jean Pimentel

O que apareceu nas redes sociais

Fontes: Helena Dall Pizzol, da ESPM, e Alessandra Gonzaga, da Faculdade Senac.

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