ZH 28 de outubro de 2014 | N° 17966
CAROLINA BAHIA GUILHERME MAZUI RBS BRASÍLIA
A ORIENTAÇÃO DO PLANALTO
UM DOS COORDENADORES DA CAMPANHA de Dilma Rousseff, Miguel Rossetto domina com a propriedade de um futuro ministro influente nas decisões políticas as ações do segundo mandato da presidente reeleita. Também assegura que o governo manterá o compromisso de reduzir a correção da dívida dos Estados, um alívio para o RS
Com caneta e papel em mãos, acomodado em sua sala no comitê de campanha em Brasília, Miguel Rossetto recorda e rabisca com exatidão palavras do discurso de Dilma Rousseff como presidente reeleita, proferido no domingo. E mostra igual domínio sobre o planejamento do segundo mandato.
Ex-ministro do Desenvolvimento Agrário e um dos coordenadores da campanha, o gaúcho deve compor, ao lado de Aloizio Mercadante e de Jaques Wagner, o núcleo central da nova Esplanada. A prova está nas respostas rápidas e firmes sobre as próximas ações do Planalto, como o futuro do projeto que muda o indexador da dívida dos Estados, previsto para ser votado em novembro no Senado.
– Cumpra-se o acordo nos termos já negociados – disse Rossetto.
Questionado se o governo não voltaria atrás outra vez, como ocorreu antes do período eleitoral em nome da responsabilidade fiscal, retruca:
– Não tem novidade. Vou até ligar para o Guido (Mantega, ministro da Fazenda)...
Rossetto fala com a segurança de alguém que detém a confiança de Dilma, de quem não desgrudou nas últimas semanas. No domingo, era um dos poucos ministros que aguardaram ao lado da presidente, na biblioteca do Palácio da Alvorada, a divulgação do resultado da eleição mais apertada da História. Às 20h, vibrou com a vantagem, ainda que justa, e logo mirou nas apurações regionais. Com Sudeste, Sul e Centro-Oeste perto do fim, ainda faltavam Norte e Nordeste. Saiu a comemorar e a abraçar colegas:
– Foi uma vitória extraordinária e histórica, em uma eleição altamente polarizada e politizada.
Líder histórico do PT gaúcho, político acostumado ao enfrentamento, Rossetto foi requisitado pela própria presidente para o grupo central da campanha. Quando Marina Silva ascendia nas pesquisas, ele deixou a Esplanada e só respirou corrida eleitoral. Apoiou a polarização com a ambientalista e, depois, com Aécio Neves (PSDB), fazendo questão de marcar no debate as diferenças dos modelos de gestão tucano e petista.
– O povo entendeu a mudança como a preservação do que vem sendo feito – diz.
O ex-ministro discorda das críticas sobre o nível da discussão. Pelo contrário, assegura que o Brasil “iluminou a democracia mundial”, com uma discussão viva, que tratou de temas complexos sobre economia e sobre crescimento do país.
– O Banco Central foi parar na mesa do bar. E isso é ótimo.
DIVISÃO DA SOCIEDADE SERÁ CONTORNADA COM DIÁLOGO
Sem comentar seu futuro, Rossetto é otimista em relação ao futuro do segundo mandato de Dilma. Diz acreditar que a polarização da cruzada presidencial, verificada na curta diferença da votação em relação ao adversário, perderá força. Em fevereiro de 2015, quando novos deputados e senadores tomarem posse, aposta que o clima será mais “sereno”:
– A eleição acabou. Ponto. A sociedade continuará dividida, como ocorre em uma democracia. Temos de contornar a divisão com diálogo.
A dificuldade para negociar e manter a base em um Congresso composto por 28 partidos fará o Planalto reforçar a articulação política, com papel fundamental para o PMDB. Garantir um governista na presidência da Câmara está nos planos. Rossetto espera que seja mantido o acordo de assegurar o cargo para o partido com maior bancada na Casa, no caso, o PT.
Diante desse cenário, o ex-ministro prevê quatro anos mais estáveis e eficientes do que os anteriores, mantendo a obsessão de cumprir cronogramas e realizar a reforma política. Avaliza a crença em uma característica que admira na presidente da República e que ele também gosta de exercitar: a determinação.
– A Dilma é uma leoa.
O PANORAMA VISTO DO PALÁCIO |
REFORMA POLÍTICA |
Algumas prioridades traçadas para o segundo mandato da presidente reeleita no domingo |
No primeiro semestre de 2015, o governo quer iniciar a reforma política, com envio de mensagem ao Congresso. A base do texto será a mesma da enviada em julho de 2013. O Planalto vai atualizar propostas, a partir de sugestões como as apresentadas por OAB e CNBB. Dilma não abre mão de realizar um plebiscito sobre os principais temas da reforma. Feita a consulta popular, os parlamentares se debruçarão sobre as alterações na legislação. O ponto principal a ser discutido é o fim do financiamento empresarial de campanha, considerado por Dilma – e Rossetto – como “sinônimo” de corrupção. |
– É um dinheiro que sequestra a democracia. |
COMBATE À CORRUPÇÃO |
A turbulência do escândalo da Petrobras, tema de CPIs em andamento no Congresso, está no radar do governo. O discurso é o mesmo da campanha: que apareça a íntegra da delação premiada do ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa e que os envolvidos sejam punidos. |
– Tudo o que nós queremos é que abram logo isso (os detalhes da investigação), doa a quem doer – diz Rossetto. |
O governo pretende implementar as cinco medidas de combate à corrupção apresentadas no horário eleitoral. Entre as providências, estão transformar caixa 2 em crime e punir o enriquecimento ilícito de agentes públicos. |
PACTO DE DILMA |
A exemplo do que Lula fez em seu primeiro mandato, Dilma pretende marcar o início do segundo governo com um grande pacto com os Estados e município. À época, o então presidente Lula chamou os líderes regionais em busca de apoio para as reformas tributária e da Previdência. Dilma vislumbra um pacto em nome de melhores serviços em saúde e segurança. Deve ser encaminhada uma proposta de emenda à Constituição para ampliar a responsabilidade da União na segurança. Aos prefeitos, Dilma voltará a acenar com o aumento de 1% no Fundo de Participação dos Municípios (FPM), projeto que já tramita no Congresso. |
POLÍTICA ECONÔMICA |
Rossetto reafirma o compromisso com a responsabilidade fiscal e arrisca projeções para 2015: 3% de taxa de crescimento e inflação em 4,5%, no centro da meta. Segundo ele, haverá redução no custeio da máquina, associada à melhoria da qualidade dos gastos, mas sem comprometer o pleno emprego. Rossetto não especula sobre quem será o novo ministro da Fazenda, mas afirma que terá que rezar por essa cartilha: |
– Se há uma obrigação que um ministro da Fazenda do PT tem é o compromisso com o pleno emprego. Mantega conseguiu isso e merece a nossa homenagem – afirma, em alusão à iminente saída do ministro do governo. |
GESTÃO EFICIENTE |
A retomada do crescimento passa por obras de infraestrutura que serão concluídas entre 2015 e 2016. O plano de concessões e os investimentos nos aeroportos regionais também auxiliarão. O governo vai perseguir a eficiência da estrutura do Estado, garantia da qualidade nas obras e um serviço público qualificado. Se o governo conseguiu controlar as filas no INSS, poderá melhorar esses pontos, diz Rossetto. A eficiência será testada em 2015, já que a proposta de orçamento da União que passa pelo Congresso tem a previsão de gastos menores: |
– Haverá uma redução de custeio, associada à eficiência do gasto. |
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