ZH 25 de outubro de 2014 | N° 17963
JULIANA BUBLITZ
ELEIÇÕES 2014. TOM OFENSIVO
AÉCIO NEVES e DILMA ROUSSEFF partiram para as críticas mútuas logo no primeiro bloco do duelo da TV Globo. Por uma hora e 50 minutos, os candidatos discutiram temas como corrupção, educação, desemprego e habitação
Diante de milhões de espectadores, os candidatos à Presidência travaram ontem, nos estúdios da TV Globo, no Rio, o último e decisivo confronto. Frente a frente, Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) dividiram o palco em forma de arena e partiram para o tudo ou nada. Voltaram a se atacar, com tiradas irônicas e lapsos de nervosismo.
Quando posaram para fotógrafos antes do início do programa, ambos trocaram cumprimentos constrangidos. Repetiram o gesto a pedido dos profissionais sem convicção. E foi só. Mal se olharam.
Nem a presença de 70 eleitores indecisos, selecionados pelo Ibope para fazer perguntas, amenizou o clima de tensão. O tom agressivo ficou claro já na primeira questão, elaborada pelo tucano.
Aécio afirmou que a atual campanha entrará para a história “como a mais sórdida” e acusou o PT de atacá-lo. Depois, citou a revista Veja desta semana, que traz uma reportagem com declarações atribuídas ao doleiro Alberto Youssef contra Dilma e o ex-presidente Lula.
Visivelmente irritada, a petista rebateu. Acusou a publicação de fazer oposição sistemática a seu governo e afirmou ser vítima de uma tentativa de “golpe eleitoral”.
A corrupção voltou ao centro da discussão em vários outros momentos, em diferentes perguntas. Um ocorreu quando a assistente de compras Adriana Pereira dos Santos, 40 anos, quis saber o que os concorrentes planejam para acabar com os desvios de verbas públicas.
Caminhando pelo cenário, Dilma reconheceu que “a lei é branda”. Enumerou cinco medidas de combate à impunidade que pretende adotar se for reeleita. Na réplica, Aécio criticou a rival por não ter colocado as ações em prática antes e concluiu sua fala com uma frase que arrancou aplausos dos apoiadores – e protestos do mediador William Bonner.
– Adriana, existe uma medida para acabar com a corrupção: vamos tirar o PT do governo – afirmou o mineiro, virando as costas para Dilma.
Dilma também provocou aplausos dos apoiadores ao responder a uma eleitora:
– Vi, em uma reportagem da Globonews, que todas as pessoas que participaram do debate de 2010 disseram que melhoraram de vida. Quero que, com vocês aqui, eleitores indecisos, ocorra a mesma coisa. Que, no fim de 2018, cheguem aqui e digam que melhoraram de vida se eu for eleita. Eu ficarei muito feliz.
OLHAR ESTRANGEIRO
Cerca de 130 jornalistas de 74 veículos de comunicação foram credenciados para o debate. Entre os estrangeiros, correspondentes do canal alemão Deutsche Welle, da TV estatal chinesa e da Agência France Press.
O ADEUS À CAMPANHA
Nas considerações finais, o tucano mais uma vez citou o avô, o presidente eleito Tancredo Neves, que não assumiu porque morreu antes:
– Se eu merecer o seu voto, subirei a rampa do Palácio do Planalto com a mesma força que meu avô nos conduziu à democracia.
A candidata à reeeleição, Dilma Rousseff (PT), fez um apelo à continuidade:
– Nós que lutamos tanto para melhorar de vida, não vamos permitir que nada nem ninguém tire de você o que você conquistou. Não vamos permitir que isso volte atrás.
TUCANO COBRA EXPLICAÇÕES SOBRE CASO PETROBRAS
Aécio citou denúncia publicada pela revista Veja de que o doleiro Alberto Youssef teria dito que Dilma e o ex-presidente Lula teriam conhecimento do esquema de desvio de recursos da Petrobras. Após criticar a “campanha sórdida” do PT, o tucano disse que daria oportunidade a Dilma de explicar a situação.
A candidata afirmou que a propaganda dos adversários tem sido “extremamente agressiva” e classificou a reportagem como “calúnia e difamação”.
– A Veja não apresenta nenhuma prova. Apresento aqui minha inteira indignação – afirmou Dilma, que acusou a revista de praticar “golpe eleitoral” contra o PT nas eleições de 2002, 2006, 2010 e neste ano. A petista disse ainda que irá à Justiça contra a revista.
Em seguida, Aécio citou outra reportagem, da revista IstoÉ, abordando a “campanha da mentira”:
– Hoje, aqui no Rio, na sede do seu partido, foram apreendidos boletins apócrifos contra minha candidatura. No Nordeste, carros de som estão circulando dizendo que, se o eleitor votar no 45, será desligado automaticamente do Bolsa Família. A senhora se orgulha de uma campanha nesse nível?
Dilma respondeu que jamais perseguiu a imprensa, mas alegou que Aécio citou duas revistas “que sabemos para quem fazem campanha” e a acusação deve “desaparecer a partir de segunda-feira”, afirmando que as denúncias teriam fim eleitoreiro.
DILMA DIZ QUE PROGRAMA HABITACIONAL ESTÁ EM RISCO
Perguntado sobre suas intenções em relação ao programa Minha Casa Minha Vida, Aécio usou seu espaço para “mais uma vez, denunciar o terrorismo que o PT vem fazendo”:
– Pessoas que estão na lista do Minha Casa Minha Vida estão recebendo mensagens dizendo que sairão do cadastro se votarem no PSDB. Não é verdade. Quero tranquilizar a todos brasileiros. Não vamos apenas manter o programa, vamos aprimorá-lo.
Dilma afirmou que Aécio “não conhece direito o programa” e ressaltou que o adversário falou que os bancos públicos “seriam redefinidos”:
– Agora, o senhor vem aqui, e quer que as pessoas acreditem que vocês vão manter os subsídios (ao Minha Casa Minha Vida). Não acredito nisso.
RIVAIS DIVERGEM SOBRE EMPREGO E CRESCIMENTO
Os candidatos discordaram sobre a eficiência dos governos de PSDB e PT para criação de empregos e valorização dos trabalhadores. Dilma questionou Aécio em relação a uma afirmação de Armínio Fraga, ministro da Fazenda em um eventual governo tucano, de que “o salário mínimo está alto demais”.
– Não é justo colocar palavras na boca de quem não está aqui para respondê-las. Tenho orgulho do meu candidato a ministro da Fazenda. A senhora parece que não tem do seu, até porque já demitiu o atual – provocou Aécio.
O tucano criticou o baixo crescimento do Brasil e afirmou que o governo petista fracassou na condução da economia, com inflação fora de controle.
A candidata afirmou que o PSDB entregou o governo com inflação mais alta, enquanto a gestão petista aumentou o salário mínimo em 71%.
Aécio contestou a afirmação de Dilma sobre a inflação no governo FH, e afirmou que o Plano Real foi o responsável pelo controle da inflação.
PRESIDENTE DEFENDE FINANCIAMENTO A CUBA
O financiamento federal para a construção do porto de Mariel, em Cuba, foi munição para Aécio criticar o desempenho do governo na gerência de infraestrutura nacional. O senador questionou o gasto e o caráter secreto do investimento, perguntando “o que governo tem a esconder”.
Dilma rebateu questionando gastos de publicidade que Aécio teria autorizado, como governador de Minas Gerais, em rádios e jornais de sua família. A petista afirmou ainda que o governo de FH também financiou empresas para exportar e inserir produtos na Venezuela e em Cuba.
Aécio citou um documento do Ministério do Desenvolvimento, segundo o qual o prazo para o financiamento em Cuba teria sido de 25 anos, fora do período normal para outros países (12 anos), com garantias em pesos cubanos em banco daquele país.
– É justo com o dinheiro brasileiro fazer favores a um país amigo que não respeita sequer a democracia, candidata? – questionou Aécio.
Dilma rebateu dizendo que o financiamento gera empregos para brasileiros e lembrou que foi o BNDES que financiou a construtora Odebrecht pela reforma do porto:
– Financiamos empresa brasileira, que gerou empregos no Brasil. Com R$ 800 milhões contratados, geramos quase 156 mil empregos.
FALTA DE ÁGUA EM SÃO PAULO PROVOCA TROCA DE ACUSAÇÕES
A crise no abastecimento de água em São Paulo foi citada por Dilma para questionar a “falta de planejamento” do governo do PSDB.
– Certamente que houve (falta de planejamento), candidata. E, segundo o TCU, do seu governo. Porque o TCU aciona órgãos do seu governo – rebateu Aécio, para em seguida afirmar que a crise de abastecimento ocorre em todo o Sudeste, por falta de chuva.
O tucano ressaltou a iniciativa do governo paulista de conceder um bônus para os consumidores que economizarem água.
– Não planejar, no Estado mais rico do país, é uma vergonha. Os Estados do Nordeste estão enfrentando a mesma seca. Em nenhum deles se encontra um quadro com a mesma gravidade – afirmou Dilma.
AÉCIO JUSTIFICA CRIAÇÃO DO FATOR PREVIDENCIÁRIO
Os candidatos discutiram também o futuro do fator previdenciário (instrumento que retarda aposentadorias). O tema surgiu com a pergunta da eleitora Carla de Fátima Ferreira Nunes, 40 anos, sobre a existência de um projeto para garantir o pagamento das aposentadorias quando o país atingir um número maior de idosos do que de contribuintes.
Aécio afirmou que “o Brasil não tem hoje serviços e nem mesmo a proteção necessária aos idosos”. O tucano propôs transformar o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) no Instituto da Cidadania e prometeu revisar as regras para aposentadoria.
– Vamos rever o fator previdenciário, para que ele não puna, como vem punindo, a renda dos aposentados – afirmou o tucano, que citou como medida a inclusão da cesta de medicamentos no cálculo da aposentadoria.
Dilma rebateu afirmando que o fator previdenciário foi criado pelos tucanos e ressaltou ser necessário abrir o diálogo com as centrais sindicais:
– Acredito que um acordo é possível para resolver a questão, criada pelo governo do PSDB.
Aécio argumentou que o fator foi criado em um momento de “aguda crise da Previdência”, mas que a medida foi derrubada no Congresso e só continuou a valer em razão do veto do então presidente Lula.
MODELO DE REFORMA POLÍTICA NÃO TEM CONSENSO
Aécio afirmou que defende a reforma política e reiterou ser contrário à possibilidade de reeleição. Por fim, comentou o fato de, segundo o jornal Folha de S.Paulo, Dilma ter ido ao Palácio do Planalto apenas duas vezes nos últimos 35 dias.
– Quem está governando o Brasil, candidata? – ironizou o tucano.
Na resposta, a petista garantiu que governa o Brasil “sistematica e diuturnamente”:
– A questão da reforma política não é a reeleição. Se o senhor está interessado em combater a corrupção de fato, a questão mais séria é o fim do financiamento empresarial das campanhas. Com o fim do financiamento empresarial, acabaremos com a influência do poder econômico nas eleições.
SHOW DE SELFIES
Políticos, assessores e outras personalidades que chegavam ao estúdio da TV Globo podiam tirar uma selfie, acompanhada de uma mensagem. Dilma escreveu: “Boa sorte para os brasileiros”. Aécio escreveu: “Até domingo dia da vitória do Brasil!”.
Rio de Janeiro
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