FOLHA.COM 30/10/2014 09h10
Reforma política é 'erro cabal', diz cientista político
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A CAXAMBU (MG)
Balela. Irresponsabilidade. Caixa de Pandora. Não faltaram palavras duras contra a reforma política durante palestra do cientista político Fabiano Santos (Uerj) proferida nesta quarta-feira (28), durante reunião anual da Anpocs (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais).
"A possibilidade de criar um desastre institucional é muito grande. Não há nenhuma percepção da gravidade que é mexer nessas discussões com esse açodamento, com essa radicalidade", afirmou Santos, tido com um dos principais estudiosos do Legislativo no país.
"Reforma política não tem nenhuma relação com um problema substantivo da vida das pessoas. É um erro cabal do governo puxar esse assunto, um desastre", disse o pesquisador, sobre o tema colocado no topo das prioridades da presidente reeleita, Dilma Rousseff.
De acordo com ele, não há chance de o PT conseguir aprovação no Congresso dos pontos que considera importantes, como financiamento de campanha exclusivamente público."Existe o sonho dourado do PT e existe algo que o Congresso não fará, que é o sonho dourado do PT."
Santos afirma que uma consulta por meio do voto tampouco seja viável e citou como exemplo o próprio financiamento. "Vai convencer a população para que seja só público. Tem uma comoção em torno da política. Aí a gente vai pagar imposto pros caras Não é bom."
Com relação a propostas que tramitam no Congresso, criticou alguns pontos que estão em discussão, como o fim da reeleição e alteração do mandato presidencial, para cinco anos, separando a votação para presidente da escolha de deputados e senadores.
"Hoje, tem mais coordenação entre o Executivo e o Legislativo. Vamos simplesmente jogar isso fora e não se sabe por quê. Com o princípio de que o sujeito é eleito e depois pensa em se reeleger", ironizou, arrancando risos da plateia.
No final, Santos disse que experiências internacionais em reforma política resultaram em desastre e lembrou a experiência italiana.
"Na Itália, a reforma política foi feita sob uma grande comoção sobre corrupção. O sistema fragmentou-se mais ainda, radicalizou-se o processo político, e o [ex-premiê Silvio] Berlusconi ficou 25 anos."
Um dos homens mais ricos do mundo, Berlusconi governou a Itália durante três períodos entre 1994 e 2011, em um total de nove anos. Atualmente, responde na Justiça a processos de fraude fiscal e foi cassado da política, enquanto o país reerguer a sua economia.
"Então é uma balela, uma balela. Reforma política é balela. Não produz nada que se diz que irá produzir. A experiência internacional mostra isso", disse.
Santos acredita que seja possível aperfeiçoar o processo eleitoral de forma pontual, sem convocar uma ampla reforma política. Nesse sentido, defendeu o fim da doação empresarial a partidos e políticos, ficando apenas doações individuais e financiamento público.
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