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sábado, 18 de abril de 2015

COMO O GIGANTE CAIU



ZERO HORA 19 de abril de 2015 | N° 18137


POR MARCELO RECH*



Nos tempos áureos do governo Lula, uma nota perdida em algum site ou jornal narrava que, em uma de tantas viagens no Aerolula, o presidente se irritou com a dificuldade de descolar a aba de uma daquelas miniembalagens de geleia. Lula convocou um assessor e determinou providências: o país que desenvolvera a tecnologia de exploração do pré-sal teria de dominar a abertura daquelas embalagenzinhas sem risco de ferir os dedos.

Como se vê até hoje nos cafés da manhã em hotéis brasileiros, muitos hóspedes perfuram embalagens a facadas. Foi mais fácil reduzir a pobreza do que disseminar a arte europeia de levantamento das abinhas. Mas o que o desconforto de Lula revela é que, a bordo de sua popularidade estratosférica, ele se dava ao luxo de ocupar-se com questões comezinhas enquanto o país surfava na volúpia mundial pelos produtos e mercados brasileiros.

É pouco provável que Lula saiba quem é Jim Collins e menos ainda que tenha lido seu clássico Como as Gigantes Caem, no qual um dos maiores gurus de gestão empresarial descreve os cinco estágios da ascensão e queda de uma grande empresa. Transplantados para o Brasil, os estágios traduziriam, porém, os últimos 12 anos e o governo atual.

No estágio 1, o sucesso gera arrogância e o líder supõe que a escalada para o topo se deve apenas a seus méritos. Foi quando Lula se achou o único responsável pelos anos dourados do primeiro mandato e que conseguiria mudar até as abas de geleias. No estágio 2, há a chamada busca indisciplinada por mais. Nessa fase, a organização cresce de qualquer forma, queimando reservas, e os interesses pessoais se elevam acima dos coletivos. Nesse período do Brasil grande que emprestava dinheiro ao FMI, Lula impôs sua candidata, uma servidora sem traquejo político. Até aqui, tudo bem: a organização ou o país ainda resistem.

A onça começa a beber água no estágio 3, quando ocorre a negação de riscos e perigos. Nessa fase, os poderosos são protegidos de más notícias por bajuladores que temem ser admoestados e os membros da equipe, em vez de se unirem, se culpam pelos problemas. Com seu estilo de gestão próprio a capatazes de minas do século 19, Dilma conduziu todo o seu primeiro mandato nessa batida – e chegou ao auge da negação durante a campanha eleitoral. Cordial no trato pessoal, espalhou terror nos subordinados com suas broncas épicas. O resultado: enquanto a gerentona cuspia fogo pelos corredores do palácio, nas sombras membros da corte se atiravam à lascívia em cofres estatais.

Dilma atravessou os três primeiros meses do segundo mandato no estágio 4: a luta desesperada pela salvação, que inclui vender promessas futuras para compensar um presente desastroso. Agora, Dilma e seu governo encontram-se no estágio 5, que pode ser tanto a entrega à irrelevância ou à morte como a recuperação e renovação.

Ao admitir que não é uma líder inspiradora e deixar quem entende cuidar da economia e da política, a presidente acendeu um facho de esperança para seu governo. Para dar certo, porém, Dilma terá de cortar muito mais na própria carne, sem, definitivamente, se preocupar com as abinhas de geleia.

*Jornalista do Grupo RBS

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