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sábado, 11 de abril de 2015

O OCASO DO LULISMO

REVISTA ISTO É N° Edição: 2367 10.Abr.15 - 20:00


 




Carlos José Marques, diretor editorial



Em determinado momento da escalada do líder sindical e ex-presidente Lula sua imagem virou a personificação de uma corrente política, popular e poderosa. O lulismo ganhava força nas camadas sociais e contornos claros de fenômeno, dada à influência e a capacidade de agregação de simpatizantes que mobilizava. Muito além daquela arregimentada pelo Partido dos Trabalhadores, que ele mesmo criou. O “salvador da pátria” capaz de resgatar o País da miséria, o “homem do povo” que chegou lá, o “defensor dos pobres” que iria varrer a corrupção do mapa! Uma coleção de epítetos compunha a mística do lulismo, para além das rinhas partidárias e disputas eleitorais. Lula surfou nessa onda até o ponto de legar enormes decepções a seus seguidores e àqueles que acreditaram em suas promessas. Hoje o lulismo agoniza em praça pública. Perdeu a primazia das ruas. Em uma mobilização compactuada com entidades sindicais na semana passada expôs o tamanho da deserção de seus exércitos e a humilhação a que ficou sujeito após rasgar, por anos a fio, bandeiras que fundamentaram sua plataforma original. Um aglomerado de parcos militantes, a maioria deles participantes em troca de cachê, lanche e transporte, em nada lembrava as hordas de seguidores de outrora. Esses sumiram em debandada. A grande massa de manifestantes de hoje se encontra justamente do lado oposto, indignada com os desmandos sem fim e criticando os descaminhos do partido e do líder que, juntos, converteram deliberadamente um projeto de Brasil em um projeto de poder a qualquer custo. Levantamento encomendado pelo próprio PT não deixa margem a dúvidas: a agremiação perdeu a base social. Pesquisa de opinião aponta que, se as eleições fossem hoje, uma eventual candidatura de Lula seria fragorosamente derrotada. O tucano Aécio Neves venceria Lula com larga margem, por 51,5% a 27,2%. O declínio do lulismo se dá em várias etapas e por desvios bem conhecidos. A Revista ISTOÉ acompanhou e retratou a trajetória do criador e da criatura desde a sua nascente. Foi a primeira publicação a dar voz e projeção ao então desconhecido sindicalista que liderava uma greve no ABC paulista, ainda nos idos de 1979. De lá para cá, também expôs na capa o advento do culto personalista e agora constata que o lulismo, no atual contexto, se transformou numa caricatura dele mesmo. Se entregou a alianças espúrias com opositores, mesmo os mais retrógados, enquanto vários de seus arautos são pilhados em práticas nada republicanas, maculando a ética pública, sem fazer distinção entre governo e partido. No momento, há o esgotamento de um modelo, o ocaso de um símbolo. Lula, que no passado se vangloriava de ostentar o “efeito teflon”, uma vez que nele nada colava, nem as pesadas acusações de escândalo do “Mensalão” descoberto em meio ao seu primeiro mandato, agora é consumido por erros em cascata no insaciável projeto de poder. Em alguns momentos flerta com o radicalismo e dá contornos típicos de guerrilha a uma causa que demonstra ser só sua, a despeito do interesse geral da Nação. Parece lhe faltar um olhar mais sutil, mais apurado, sobre a complexidade da situação. E não fosse isso suficiente, ainda enfrenta os reflexos negativos da má gestão de um governo que não é seu, mas que está ali por obra e graça de sua vontade. O lulismo passa pelo maior dos testes e cristaliza a impressão de que entrou no seu crepúsculo.

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