ZERO HORA 12 de abril de 2015 | N° 18130
GUILHERME MAZUI
O NOVO ARTICULADOR
MICHEL TEMER deixou de ter papel secundário no governo de Dilma Rousseff para assumir a tarefa de reatar as relações políticas com a Câmara e o Senado. O peemedebista, de 74 anos, é elogiado por parlamentares pela capacidade de diálogo
O compromisso com o equilíbrio das contas que o governo Dilma Rousseff não foi capaz de amarrar em três meses, Michel Temer (PMDB) fechou em uma reunião: conseguiu que líderes da base assinassem um manifesto de apoio ao ajuste fiscal.
Novo articulador político do Planalto, após a saída de Pepe Vargas (PT-RS) das Relações Institucionais, Temer deixou de ser um vice de missões secundárias, a exemplo de Marco Maciel e José Alencar. Negociador junto ao Congresso, onde terá de controlar o PMDB que preside, ele também decidirá as nomeações dos cargos de segundo e terceiro escalões. Poderes que lhe conferem a alcunha de “supervice”.
Aos 74 anos, com seis mandatos de deputado federal e três passagens pela presidência da Câmara no currículo, o peemedebista tem como virtude mais elogiada a capacidade de diálogo. Formal e gentil, ele ouve e leva sua opinião sem erguer a voz.
– Temer é conciliador, resolve brigas. Por conversar com diferentes partidos, virou uma referência – descreve Miro Teixeira (PROS-RJ).
Sua habilidade será testada. Líder do PSDB, Carlos Sampaio (SP) elogia o novo articulador, mas adianta que não apoia o modelo de ajuste fiscal. Já o deputado Jarbas Vasconcelos (PMDB- PE) não acredita em boa relação com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que anunciou “independência”.
– Temer quer conciliar, enquanto o Eduardo quer romper com o PT e o governo – diz Jarbas.
O vice está confiante. Despachará de seu gabinete e manterá reuniões no Palácio do Jaburu. Receberá governadores, prefeitos e líderes aliados, com auxílio do ministro Eliseu Padilha (Aviação Civil) e do ex-deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) nas tratativas com parlamentares. Temer aposta no equilíbrio, que aprendeu na infância em Tietê (SP). Católico, observava vitrais de uma igreja quando leu a palavra temperança. Buscou no dicionário o significado que adotou como mantra: qualidade ou virtude de quem modera apetites e paixões.
Caçula dos oito filhos do comerciante libanês Miguel, ele aplicou a receita na vida profissional, erigida em São Paulo. Formado em Direito na USP, concluiu o doutorado na PUC-SP e virou professor – seu livro Elementos de Direito Constitucional vendeu mais de 240 mil cópias. Ganhou espaço na política nos anos 1980 com o governador Franco Montoro, que o transformou em procurador-geral do Estado e, mais tarde, em secretário de Segurança.
Quando chegou à Câmara, em 1987, Temer aprimorou a retórica. Cortês, foi de aliado do tucano Fernando Henrique Cardoso a vice da petista Dilma sem fechar portas. Diplomático, administra os interesses regionais do PMDB e a fome dos grupos liderados por Renan Calheiros (PMDB-AL) e Eduardo Cunha.
– Ele sabe que voto no PSDB para presidente, mas não me boicota. Temer é acessível, atende demandas e assegura sua força no partido – explica o deputado Osmar Terra (PMDB-RS).
Apesar do trânsito, o vice recebeu tratamento protocolar de Dilma no primeiro mandato. Realizou viagens internacionais e foi acionado apenas em crises, como a alteração da meta fiscal, em que o PMDB selou o destino da votação. Sua opinião também apareceu nas reformas ministeriais. Em dezembro, nas mudanças do segundo mandato, ele manteve contato intenso com a presidente que, após, isolou-o para fortalecer o PT. Em janeiro e fevereiro, os dois quase não conversaram, situação revertida nas últimas semanas.
Sem força para aprovar seu pacote fiscal, Dilma acatou a orientação de Luiz Inácio Lula da Silva e colocou o PMDB na articulação. Padilha seria o ministro, mas o convite e a recusa vazaram, resultando na saída de Pepe. A presidente teve de acionar Temer para tentar recuperar um governo que patina. Ao anunciar a mudança em reunião de líderes, sintetizou o novo status de seu vice:
– Nós somos o governo.
Entre amigos, a informalidade
Quem observa o sério e engravatado Michel Miguel Elias Temer Lulia em agendas oficiais tem dificuldades para imaginá-lo de bermuda e camiseta a contar piadas. Discreto, o vice-presidente relaxa com um grupo restrito de amigos do PMDB, que esquecem as formalidades e o chamam apenas de Michel.
Em Brasília, Temer reúne sua confraria no Palácio do Jaburu. O ministro da Aviação Civil, Eliseu Padilha, é um dos frequentadores do grupo, também formado por Moreira Franco, Henrique Alves e Jader Barbalho.
– Michel é simples. Talvez os doces sejam um dos raros excessos. Na mesa sempre tem quatro sobremesas – afirma Padilha.
Afeito ao sorvete de pistache, Temer gasta as calorias com caminhadas e musculação. Prega o equilíbrio, mas, por vezes, sai do sério, como em discussões com o ex-deputado e amigo Geddel Vieira Lima. A senha para entender que algo irritou o vice é ouvi-lo proferir um palavrão, logo acompanhado do pedido de desculpas.
– Até quando fica bravo o Michel é um gentleman – brinca o senador Eunício Oliveira (PMDB-CE).
UM HOMEM DE PAIXÕES
Dosar política e vida pessoal é um desafio. A leitura é uma terapia junto com o hábito de escrever versos. De poemas rabiscados em guardanapos nasceu o livro Anônima Intimidade. Apesar de comedido, o vice é um homem de paixões. Tem cinco filhos, três do primeiro casamento, um do segundo e o caçula Michelzinho, fruto da união com Marcela, 43 anos mais jovem do que Temer – ela tem 31 e ele, 74. Conheceram-se em Paulínia (SP) e logo se casaram. Cerimônia discreta e formal, ao estilo do vice-presidente.
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