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sábado, 4 de abril de 2015

RADICAL E SEM RUMO

REVISTA ISTO É N° Edição: 2366 | 02.Abr.15 - 18:00


PT: radical e sem rumo. Maculado pela corrupção desenfreada que contaminou a legenda, o Partido dos Trabalhadores se mostra alheio à realidade, apela ao radicalismo, lança um manifesto em que ignora a sucessão de escândalos que protagonizou e ainda posa de vítima


Sérgio Pardellas




O PT chega aos 35 anos de vida com carimbo de corrupção estampado nas cinco pontas de sua estrela. Depois de 13 anos à frente do governo federal, a legenda se caracteriza como a principal protagonista de uma sucessão de escândalos que levou seus principais líderes para a cadeia. E, nas últimas semanas, os petistas vêem dando claras demonstrações de que perderam a noção da realidade. Na segunda-feira 30, o partido lançou um manifesto que atenta contra a inteligência dos brasileiros. O documento, além de tentar desvincular o PT dos escândalos de corrupção protagonizados por cabeças coroadas do partido, diz que a legenda é atacada por suas “virtudes”. “Condenam-nos não por nossos erros, que certamente ocorrem numa organização que reúne milhares de filiados. Perseguem- nos pelas nossas virtudes. Não suportam que o PT, em tão pouco tempo, tenha retirado da miséria extrema 36 milhões de brasileiros”, diz o manifesto. Como um avestruz, os petistas se comportam como se o incremento de alguns programas sociais pudessem servir de álibi para crimes como enriquecimento ilícito e formação de quadrilha com o objetivo de saquear o Estado. Reeditam, assim, a deplorável bandeira malufista do “rouba, mas faz”.



A pedido de Lula, o texto ainda incluiu de última hora a promessa de que “qualquer filiado do PT condenado em virtude de eventuais falcatruas, será excluído de nossas fileiras”. A retórica do partido ignorou o fato de que, embora condenados e presos no caso do mensalão, José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares continuam filiados e ainda se tornaram figuras veneradas como heróis partidários. Com cinismo poucas vezes visto, na terça-feira 31, o ex-presidente disse estar “indignado com a corrupção” no Brasil. Não fez qualquer tipo de autocrítica e nem mencionou o fato de João Vaccari Neto, atual tesoureiro da legenda, estar entre os principais operadores do Petrolão e mesmo assim permanecer no comando da legenda. Na prática, onde está a propalada indignação?



Não se trata de uma surpresa. O “mea culpa” é uma iniciativa impensável nas hostes petistas atuais. O partido que já teve a primazia das ruas hoje é alvo de protestos populares em todo o País. Mesmo assim, os petistas optam por radicalizar o discurso dos “nós contra eles”. Em coerência com sua retórica maniqueísta, Lula proclamou durante encontro do PT na última semana que “o partido não pode ficar acuado diante dessa agressividade odiosa”. Mais uma vez, o PT posa de vítima. “Não toleram que, pela quarta vez consecutiva, nosso projeto de País tenha sido vitorioso nas urnas. Os maus perdedores no jogo democrático tentam agora reverter, sem eleições, o resultado eleitoral. Querem fazer do PT bode expiatório da corrupção nacional e das dificuldades passageiras na economia”, disse o ex-presidente, que há pouco menos de um mês conclamou o “exército do MST” às ruas para defender o mandato da presidente. Agora, o ex-presidente ensaia duas manifestações na tentativa de se contrapor a do dia 12 de abril , que promete novamente arrastar milhões de pessoas às ruas contra o PT e Dilma, repetindo o histórico protesto do dia 15 de março. Uma em 7 de abril. Outra no 1º de maio.

Sobre “o projeto de País vitorioso nas urnas” mencionado por Lula, o contraponto hoje é feito não apenas pela oposição, mas por petistas históricos insatisfeitos com os rumos de uma legenda maculada por desvios éticos e malfeitos, como os praticados nos últimos anos na Petrobras, maior estatal do País, cujos cofres foram sangrados para abastecer as arcas do partido. “O PT trocou um projeto de Brasil por um projeto de poder. Permanecer no poder se tornou mais importante do que fazer o Brasil deslanchar para uma nação justa, livre, soberana e igualitária”, afirmou Frei Betto, histórico colaborador de Lula e do PT. Ex-ministra da Cultura de Dilma, Marta Suplicy – outra petista tradicional, hoje de malas prontas para o PSB – sentenciou: “Ou o PT muda ou acaba”.



Ao que parece, o PT, se mudar, será para pior. Durante a última semana, nos debates internos, o partido pregou a volta de bandeiras retrógradas empunhadas na origem do partido, mas que foram abandonadas ainda na década de 90, quando José Dirceu assumiu a presidência do partido e colocou em marcha o “projeto de poder” bem lembrado por Frei Betto. Como a volta às origens é impraticável, e eleitoralmente inviável, um grupo de petistas se prepara para propor soluções pragmáticas destinadas a encobrir a própria imagem do partido. Segundo pesquisa feita em fevereiro pelo Datafolha, a parcela dos eleitores que dizem ter o PT como seu partido favorito caiu de 22% para 12%. Em meio ao escândalo do mensalão, o menor índice chegou a 15%. Para tentar atenuar a imagem negativa, uma das ideias é criar uma Frente apoiada por sindicatos, ONGs e associações. Imaginam que dessa maneira, durante as eleições, o candidato seria lançado como representante da Frente, não mais do PT, escondendo a sigla. O partido que sofre hoje uma alta rejeição apareceria nos materiais de campanha e na propaganda eleitoral de forma mais discreta.

A Frente proposta por Lula teria um nome específico para ser usado nas campanhas eleitorais. Essa possibilidade de diluir a presença do partido em um grupo com outro nome é defendida por Lula desde o ano passado. O ex-presidente costuma citar o modelo adotado no Uruguai, que assegura a permanência do mesmo grupo de coalizão no poder há mais de 10 anos. Em 2011, Lula discursou na cerimônia que marcou o 40º aniversário do primeiro ato político da Frente Ampla uruguaia. Na ocasião, ele disse que a Frente era uma inspiração para o PT e que considerava a coalizão heterogênea formada naquele País como fator decisivo para a conquista da presidência. A Frente conta com o apoio do assessor da Presidência, Marco Aurélio Garcia.



Trata-se na verdade da construção de mais um engodo político. Uma tentativa de “vender ao eleitor” um lobo em pele de cordeiro. E, mais uma vez distante da realidade, os defensores dessa farsa parecem ignorar que o partido está bem distante da inserção social que tinha nos anos 80 e 90. Até mesmo no movimento sindical, onde nasceu, o PT não dispõe mais da mesma força.

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