JORNAL DO COMÉRCIO 17/04/2015
Antonio Augusto d'Avila
Já saudoso, Paulo Brossard alertava, há muito tempo, sobre os impasses do nosso sistema de governo em meio a crises. De fato, nossa monarquia por prazo certo, chamada presidencialismo, é um sistema medieval, derivado do sistema hereditário e com raízes religiosas. Entre tantos graves defeitos congênitos, também sempre referidos pelo ilustre jurista, o de só oferecer saídas traumáticas diante de crises. Aqui no Brasil, nos 125 anos presidencialistas, mais de uma dezena de golpes e até uma destituição constitucional. Contudo, nós e os demais latinos, embalamos a fantasia da normalidade democrática e da excepcionalidade das rupturas institucionais. Pior, o mais longo período de continuidade, de 1894 a 1930, foi o de maior atraso, aliás, altamente incoerentes, nos orgulhamos do golpe de 1930 pelos seus resultados: ruptura com aquele passado e a modernização do País daí decorrente.
Dessa forma, pela via constitucional, um governante altamente competente que vier a cometer um deslize, por exemplo, venda sem autorização legislativa de um imóvel público inservível, poderá ser destituído. Ao contrário, ao eleger um presidente honestíssimo, fiel cumpridor de todas as normas burocráticas, mas tragicamente incompetente, o povo deverá suportá-lo até o final do mandato, mesmo que à custa de cruéis sofrimentos impostos a crianças e jovens e até a futuras gerações, que culpa alguma tiveram na malfadada escolha. Exigimos, tal qual fundamentalistas religiosos, sem dó nem piedade, que o povo purgue sua culpa até o fim pelos erros da escolha. Para isso, não há arrependimento eficaz, o pecado é mortal e não há indulgência.
Economista
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