VOTO ZERO significa não votar em fichas-sujas; omissos; corruptos; corruptores; farristas com dinheiro público; demagogos; dissimulados; ímprobos; gazeteiros; submissos às lideranças; vendedores de votos; corporativistas; nepotistas; benevolentes com as ilicitudes; condescendentes com a bandidagem; promotores da insegurança jurídica e coniventes com o descalabro da justiça criminal, que desvalorizam os policiais, aceitam a morosidade da justiça, criam leis permissivas; enfraquecem as leis e a justiça, traem seus eleitores; não representam o povo e se lixam para a população.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

COMISSÃO DE INTERESSES

 
O Estado de S.Paulo - 01/06/2012
 
 
Dez dias atrás, exposta à ridicularia do mudo depoimento do contraventor Carlos Augusto Ramos na CPMI batizada com o seu apelido, Cachoeira, a investigação do Congresso sobre a sua teia de relações ilícitas com políticos, funcionários e homens de negócio parecia ter entrado num beco sem saída. Diante do risco iminente de descrédito, por não ter acrescentado até então uma única vírgula aos resultados das operações da Polícia Federal (PF) que deveriam servir-lhe de plataforma para novas apurações, a comissão finalmente resolveu cruzar a porta providencial que a maioria governista de seus membros fingia não ver.

A travessia foi a aprovação da quebra dos sigilos em âmbito nacional da construtora Delta, a empreiteira preferida do Planalto e do Palácio Guanabara, cujo titular, Sérgio Cabral, é compadre do seu dono e, até bem pouco, administrador, Fernando Cavendish. O que fez girar a maçaneta foi a descoberta do Ministério Público de Goiás de que o então homem forte da empresa no Centro-Oeste, Cláudio Abreu - que formava com Cachoeira e o senador Demóstenes Torres o triângulo de traficâncias traçado pelas escutas da Polícia Federal -, tinha procuração para movimentar uma dezena de contas da matriz, no Rio de Janeiro. De uma delas saíram R$ 39 milhões para firmas fictícias usadas pela organização de Cachoeira.

O passo seguinte da CPMI rumo à sobrevivência foi a decisão de ouvir o governador goiano, Marconi Perillo. Foi para destruí-lo que o ex-presidente Lula incentivou a abertura do inquérito. Em 2005, quando rebentou o escândalo do mensalão, o político tucano tornou público que já o tinha advertido para os rumores da compra de votos na Câmara orquestrada pelo PT. A revelação derrubou a alegação de Lula de que desconhecia a enormidade. De todo modo, não faltavam evidências da proximidade de Perillo com o bicheiro. O seu nome foi citado 237 vezes em conversas profanas de integrantes do esquema Cachoeira. Por exemplo, com a chefe de gabinete do governador, que lhes transmitia fatos sigilosos.

Sem falar no telefonema de parabéns que ele deu ao contraventor, chamando-o de "liderança", e na nebulosa história da casa de Perillo comprada por Cachoeira com dinheiro da Delta. No entanto, a necessária convocação do governador, aprovada anteontem por unanimidade, resultou de um arranjo. Para obter o assentimento da minoria oposicionista do colegiado, o PT teve de aceitar a inclusão na pauta de deliberações da oitiva do companheiro Agnelo Queiroz, titular do governo do Distrito Federal. Ele foi citado em 58 telefonemas grampeados e o seu então chefe de gabinete foi acusado de receber propina para favorecer a Delta em contratos com a administração.

Diferentemente de Perillo, porém, só há registro de um contato pessoal de Agnelo com Cachoeira - quando o atual governador de Brasília, ainda no PC do B, dirigia a Anvisa e este acumulava o negócio da batotagem com a produção de medicamentos. Não seria uma grave omissão da CPI deixar de ouvi-lo, ao menos agora. Mas a convocação passou, por 16 votos a 12, por um motivo alheio ao inquérito:

representantes do PP, PSB, PR, PTB e PSC deram o seu sim para se vingar da presidente Dilma Rousseff pelo atraso na liberação de verbas de emendas parlamentares e no preenchimento de vagas no segundo e terceiro escalões do governo.

Mais uma prova de que a CPI, mesmo quando avança, é uma comissão de interesses partidários, foi o acordo do PMDB com o PT para tentar barrar a oitiva de Agnelo, em troca do apoio petista à não convocação do correligionário Sérgio Cabral, o amigão de Cavendish, da Delta. A convocação do governador foi rejeitada ao final de uma tensa negociação. O PSDB queria que ele fosse chamado, assim como Agnelo, para compensar a convocação de Perillo - um toma lá dá cá ao avesso. Cabral foi poupado por 17 votos a 11. Dos cinco tucanos, três fizeram parte da maioria. Se tivessem se juntado aos outros dois, o resultado seria um empate - e um impasse.

O ponto é que Cabral não aparece em nenhum dos mais de 200 mil grampos da PF. Antes de a CPI mastigar a numeralha dos sigilos quebrados da Delta, não há por que chamá-lo a se explicar.

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