ZERO HORA, 20 de junho de 2012 | N° 17106
EDITORIAL ZERO HORA
Aqueles
que ainda buscam na grande política partidária brasileira a expressão
de linhas programáticas e de definições cada vez mais voláteis como
esquerda e direita hão de encontrar, na foto do aperto de mãos entre o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o deputado Paulo Maluf, uma
rica oportunidade para refletir. Não é segredo que Lula, ao assumir a
Presidência da República, declarou aberta a era em que o PT deveria
flexibilizar ao máximo a política de alianças em troca de apoios ao novo
governo. Os oito anos de gestão de Lula e os quase dois de Dilma
Rousseff foram um duro teste para aqueles que se dedicam a defender, com
argumentos doutrinários, o neopragmatismo petista na busca de
parceiros. A razão esgrimida, no entanto, continha uma lógica
apreensível pelos que viam no ex-presidente a encarnação das melhores
aspirações políticas do povo humilde: Lula precisava de maioria no
Congresso para governar. Frente a essa lógica, homens e mulheres que um
dia haviam experimentado a perseguição, o exílio e a
tortura passaram a encarar José Sarney (PMDB), Roberto Jefferson e
Fernando Collor (ambos do PTB) e Francisco Dornelles (PP) como convivas.
Restam, porém, bolsões nos quais, por motivos geralmente locais, as substâncias políticas não haviam se misturado conforme a receita de geleia geral emanada de Brasília e que tem predominado de Norte a Sul, com alianças entre peemedebistas e petistas, trabalhistas e liberais, comunistas e pepistas. Um desses focos era São Paulo, berço do PT, onde o aliado mais heterodoxo que o partido de Lula havia conseguido até hoje fora o ex-governador Orestes Quércia (PMDB). Desde que retornou à arena após um tratamento de câncer, Lula deixou claro que pretende reeditar, com a candidatura de Fernando Haddad (PT), a proeza de 2010, quando conseguiu eleger para a Presidência uma técnica que jamais havia pedido voto para si. Lula afastou da corrida a ex-prefeita Marta Suplicy e costurou um acordo com o PSB, que indicou a também ex-prefeita Luiza Erundina como vice (ontem, ela desistiu da indicação). No lançamento de Haddad, há algumas semanas, admitiu que o candidato não era conhecido e que era preciso ampliar as alianças. “Não me refiro à esquerda”, especificou, para bons entendedores. Estava se referindo ao PP paulista, último reduto do malufismo desde antes de seu líder máximo integrar a lista de procurados da Interpol.
Ao estender a mão a Maluf, Lula impõe ao PT mais uma volta no parafuso do pragmatismo. Nacionalmente, alianças esdrúxulas se justificavam pela necessidade de obter maioria no Congresso; agora, na campanha para as prefeituras, a vitória em São Paulo é o condão capaz de explicar o inexplicável. É por isso que a cúpula nacional do PT impôs um candidato em Recife (exigido pelo PSB) e ensaiou, até agora sem sucesso, um movimento pela retirada da candidatura de Adão Villaverde em favor de Manuela D’Ávila (para atrair o PC do B). Empenhado em um duelo pela prefeitura de São Paulo, à custa de bandeiras outrora caras ao PT como a ética na política e a coerência com a própria história, Lula se mostra cada vez menos parecido consigo mesmo e cada vez mais assemelhado aos caciques partidários tradicionais que um dia jurou combater.
Restam, porém, bolsões nos quais, por motivos geralmente locais, as substâncias políticas não haviam se misturado conforme a receita de geleia geral emanada de Brasília e que tem predominado de Norte a Sul, com alianças entre peemedebistas e petistas, trabalhistas e liberais, comunistas e pepistas. Um desses focos era São Paulo, berço do PT, onde o aliado mais heterodoxo que o partido de Lula havia conseguido até hoje fora o ex-governador Orestes Quércia (PMDB). Desde que retornou à arena após um tratamento de câncer, Lula deixou claro que pretende reeditar, com a candidatura de Fernando Haddad (PT), a proeza de 2010, quando conseguiu eleger para a Presidência uma técnica que jamais havia pedido voto para si. Lula afastou da corrida a ex-prefeita Marta Suplicy e costurou um acordo com o PSB, que indicou a também ex-prefeita Luiza Erundina como vice (ontem, ela desistiu da indicação). No lançamento de Haddad, há algumas semanas, admitiu que o candidato não era conhecido e que era preciso ampliar as alianças. “Não me refiro à esquerda”, especificou, para bons entendedores. Estava se referindo ao PP paulista, último reduto do malufismo desde antes de seu líder máximo integrar a lista de procurados da Interpol.
Ao estender a mão a Maluf, Lula impõe ao PT mais uma volta no parafuso do pragmatismo. Nacionalmente, alianças esdrúxulas se justificavam pela necessidade de obter maioria no Congresso; agora, na campanha para as prefeituras, a vitória em São Paulo é o condão capaz de explicar o inexplicável. É por isso que a cúpula nacional do PT impôs um candidato em Recife (exigido pelo PSB) e ensaiou, até agora sem sucesso, um movimento pela retirada da candidatura de Adão Villaverde em favor de Manuela D’Ávila (para atrair o PC do B). Empenhado em um duelo pela prefeitura de São Paulo, à custa de bandeiras outrora caras ao PT como a ética na política e a coerência com a própria história, Lula se mostra cada vez menos parecido consigo mesmo e cada vez mais assemelhado aos caciques partidários tradicionais que um dia jurou combater.
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