Tela mágica. Relação Lula-Maluf expõe vale tudo de siglas e candidatos por segundos na TV. Polêmica ilustra falta de critérios de partidos ao fazer alianças de olho no tempo de propaganda. JULIANA BUBLITZ
Não importa de que lado estão: para garantir alguns segundos a mais na TV e ganhar visibilidade junto ao eleitorado, candidatos unem-se a adversários históricos, imploram o apoio de partidos nanicos e deixam para trás ideais e convicções.
A aliança firmada no início da semana entre o PT de Fernando Haddad, candidato a prefeito de São Paulo, e um de seus mais antigos desafetos, o deputado Paulo Maluf (PP), turbinou a polêmica.
Por 1min35s a mais diante das câmeras, o ex-presidente Lula e Haddad, seu afilhado político, engoliram o orgulho e, constrangidos, foram até a casa de Maluf, na segunda-feira, apertar a mão do ex-inimigo. Sorridente, o deputado tratou de resumir o acontecimento em uma única e desconcertante frase:
— Não existe mais direita e esquerda. Existe tempo de TV.
O pragmatismo de Maluf, reconhece o professor de Comunicação Política da USP, Gaudêncio Torquato, virou prática corrente na política. Tomou o lugar das ideologias como um punguista ataca sua vítima, de forma rápida e rasteira.
— A política está virando espetáculo circense. A imagem suplanta o conteúdo, e isso está transformando as eleições deste ano em uma geleia geral — lamenta Torquato.
O caso petista não é único. Em todo o país, afirma o cientista político Paulo Kramer, da UnB, há uma espécie de "conformismo" na classe política. Mesmo os mais resistentes, afirma ele, se renderam às alianças de ocasião.
A curto prazo, os especialistas não veem solução para o problema. A longo prazo, as saídas passam por uma reforma política eficiente e pelo amadurecimento do eleitor. Mas o que fazer quando a propaganda começar, em 21 de agosto?
— Será preciso escolher. Ou você lê o programa partidário ou liga a TV. Não espere coerência — afirma Kramer.
Na Capital, PDT terá programa mais longo
Na eleição em Porto Alegre, a briga por tempo de TV também levou os principais candidatos a uma corrida por alianças, nem sempre compatíveis ideologicamente.
Só o prefeito e candidato à reeleição José Fortunati (PDT) conseguiu reunir 11 partidos. O último a aderir foi o DEM, que faz oposição ao governo federal — apoiado pelos pedetistas. O reforço renderá a Fortunati o maior tempo de TV.
— Priorizamos as alianças desde o início e conseguimos o que queríamos: espaço para apresentar nossas propostas — diz o deputado federal Vieira da Cunha (PDT), coordenador da campanha.
Candidata do PC do B, a deputada Manuela D'Ávila chegou a disputar o PP com Fortunati. A sigla balançou, quase aderiu à comunista, mas desistiu. Manuela deve ter menos da metade do tempo de Fortunati.
— Isso não nos tira o sono. Manuela elegeu-se vereadora com 15 segundos — afirma um dos coordenadores da chapa, Juliano Corbellini.
Já o PT de Adão Villaverde, para fugir do isolamento, teve de apelar às siglas de menor expressão. Conseguiu o apoio do PV e outros dois. Hoje, espera convencer o PR a ficar do seu lado. O coordenador da campanha, vereador Adeli Sell, diz que a aliança está "99,99% certa".
Não importa de que lado estão: para garantir alguns segundos a mais na TV e ganhar visibilidade junto ao eleitorado, candidatos unem-se a adversários históricos, imploram o apoio de partidos nanicos e deixam para trás ideais e convicções.
A aliança firmada no início da semana entre o PT de Fernando Haddad, candidato a prefeito de São Paulo, e um de seus mais antigos desafetos, o deputado Paulo Maluf (PP), turbinou a polêmica.
Por 1min35s a mais diante das câmeras, o ex-presidente Lula e Haddad, seu afilhado político, engoliram o orgulho e, constrangidos, foram até a casa de Maluf, na segunda-feira, apertar a mão do ex-inimigo. Sorridente, o deputado tratou de resumir o acontecimento em uma única e desconcertante frase:
— Não existe mais direita e esquerda. Existe tempo de TV.
O pragmatismo de Maluf, reconhece o professor de Comunicação Política da USP, Gaudêncio Torquato, virou prática corrente na política. Tomou o lugar das ideologias como um punguista ataca sua vítima, de forma rápida e rasteira.
— A política está virando espetáculo circense. A imagem suplanta o conteúdo, e isso está transformando as eleições deste ano em uma geleia geral — lamenta Torquato.
O caso petista não é único. Em todo o país, afirma o cientista político Paulo Kramer, da UnB, há uma espécie de "conformismo" na classe política. Mesmo os mais resistentes, afirma ele, se renderam às alianças de ocasião.
A curto prazo, os especialistas não veem solução para o problema. A longo prazo, as saídas passam por uma reforma política eficiente e pelo amadurecimento do eleitor. Mas o que fazer quando a propaganda começar, em 21 de agosto?
— Será preciso escolher. Ou você lê o programa partidário ou liga a TV. Não espere coerência — afirma Kramer.
Na Capital, PDT terá programa mais longo
Na eleição em Porto Alegre, a briga por tempo de TV também levou os principais candidatos a uma corrida por alianças, nem sempre compatíveis ideologicamente.
Só o prefeito e candidato à reeleição José Fortunati (PDT) conseguiu reunir 11 partidos. O último a aderir foi o DEM, que faz oposição ao governo federal — apoiado pelos pedetistas. O reforço renderá a Fortunati o maior tempo de TV.
— Priorizamos as alianças desde o início e conseguimos o que queríamos: espaço para apresentar nossas propostas — diz o deputado federal Vieira da Cunha (PDT), coordenador da campanha.
Candidata do PC do B, a deputada Manuela D'Ávila chegou a disputar o PP com Fortunati. A sigla balançou, quase aderiu à comunista, mas desistiu. Manuela deve ter menos da metade do tempo de Fortunati.
— Isso não nos tira o sono. Manuela elegeu-se vereadora com 15 segundos — afirma um dos coordenadores da chapa, Juliano Corbellini.
Já o PT de Adão Villaverde, para fugir do isolamento, teve de apelar às siglas de menor expressão. Conseguiu o apoio do PV e outros dois. Hoje, espera convencer o PR a ficar do seu lado. O coordenador da campanha, vereador Adeli Sell, diz que a aliança está "99,99% certa".
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