Cleber Benvegnú*
O marketing emprestou inestimáveis contribuições para a política. Migramos de uma linguagem rebuscada e burocrática para uma comunicação moderna, simbólica e emotiva assim como é a própria vida. Porém, essa evolução trouxe consigo diversas contradições, especialmente quando a política subjugou-se à lógica da propaganda como se fosse reles objeto à venda na prateleira do supermercado.
Os partidos brasileiros, adotando um viés consumista por cargos, dinheiro e espaços de poder, assumiram a estratégia do sabonete – inclusive no sentido de que deslizam com facilidade. Isto é: viraram mero subproduto do marketing, marionetes adaptáveis a qualquer situação. Confundiram-se. Igualaram-se. Coisificaram-se. E, faz muito tempo, deixaram de inspirar e de liderar. Formaram uma grande geleia geral.
Isso não quer dizer que as ideologias acabaram. Ainda é possível identificar raciocínios com matriz ideológica. Porém, na medida em que trocam as ideias por mero jogo de curto prazo, os partidos caminham para um gradual esgotamento – se não como instituição, certamente como significação. E eis que, na perspectiva da coerência, só sobram os extremistas – coerentes com suas próprias maluquices e, benza Deus, aceitos por ínfima parcela da população.
As legendas, salvo raras iniciativas, abdicaram de pensar. Abriram mão de suas ideias. Desistiram de formar opinião. Pesquisas quantitativas e qualitativas, para medir o que o povo quer, tomaram lugar dos cursos de preparação de líderes. Em vez de convencer, navegam no que convencido está. Não importa tanto o que dizer, mas dizer o que a média quer ouvir. A biruta tomou lugar da bússola: o vento dita o rumo. A moda é ser querido, leve, palatável, simpático e não comprar qualquer briga com corporações, grupos de interesse ou famosos do politicamente correto.
Nessa expectativa de agradar a todos, muitas siglas acabam descuidando de seus potenciais públicos cativos. Basta ver que, enquanto grande parte dos brasileiros se identifica com ideias conservadoras (de base judaico-cristã), as agremiações com essa origem fogem desse viés direitista. Covardemente, aceitam a própria pejoração.
Mudar esse cenário passa por assumir identidades. Ter lado, ter cara, ter posição, ter bandeira – por mais que desagrade a parte do eleitorado. A descrença do ambiente partidário, portanto, não é apenas de representação. É também, e acima de tudo, uma crise de inspiração e de liderança. O povo cansou de sabonetes na política. Está na hora de políticos e partidos de verdade.
*JORNALISTA E CONSULTOR POLÍTICO
Nenhum comentário:
Postar um comentário