ZERO HORA 30 de agosto de 2013 | N° 17538
UM DIA DEPOIS
Voto secreto, vergonha escancarada
Um dia depois de dar aval a um novo tipo de mandato parlamentar (o de deputado presidiário), a Câmara foi tomada pelo constrangimento. Sem conseguir cassar um político que cumpre pena por desvio de dinheiro público, a Casa demonstra já ter esquecido das manifestações de junho.
Omal-estar tomou conta da Câmara. Pouco mais de dois meses depois de manifestantes ocuparem o teto do Congresso em protesto contra os políticos, o plenário deixou de cassar, na noite de quarta-feira, Natan Donadon (ex-PMDB-RO), o deputado presidiário que há dois meses está atrás das grades cumprindo pena por formação de quadrilha e peculato.
Ele vive em uma cela do Complexo Penitenciário da Papuda e não pode comparecer às sessões, mas permanece representante dos eleitores de Rondônia.
Para tentar reduzir o constrangimento, logo após a votação secreta e desastrosa, o presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), decidiu por conta própria afastar o colega da cadeira. Movimento inútil. Ontem, os brasileiros indignados tomaram as redes sociais com críticas à Câmara.
Faltaram 24 votos para tirar o mandato de Donadon. Foram 233 a favor da cassação, 131 contra e 41 abstenções. Eram necessários, no mínimo, 257 votos.
Ao saber o resultado, Donadon, que foi ao Congresso se defender, ajoelhou-se e rezou. Depois, foi reconduzido para a cadeia em um camburão – algemado, como na chegada. No discurso em sua defesa, havia dito ter “fobia” do veículo. Também reclamou de dificuldades financeiras, do banho frio e da “xepa” na Papuda.
Apesar das queixas, ele continuará sem receber benefícios. Enquanto estiver encarcerado, não terá mais direito a salário, a funcionários e ao apartamento funcional. Condenado pelo desvio de R$ 8,4 milhões da Assembleia de Rondônia à época em que era diretor financeiro do Legislativo, ele cumpre em uma cela individual a pena de 13 anos, quatro meses e 10 dias em regime fechado.
Do lado de fora, seus colegas se desdobram para contornar o constrangimento. Quem deixou de participar da votação, como 14 deputados do RS, oferece explicações para a ausência (veja ao lado).
– Eu não imaginava, lamento, tenho hoje profunda vergonha e constrangimento – disse, por exemplo, Alceu Moreira (PMDB-RS).
Também cresceu o movimento pelo fim do voto secreto – mecanismo que facilitou a decisão benéfica a Donadon. A OAB pediu celeridade na votação da proposta que trata do voto aberto nas decisões do Congresso. Para a entidade, o eleitor deveria poder ter conhecimento do voto do seu parlamentar, a fim de avaliar se ele está agindo de acordo com suas expectativas.
No Congresso, há três propostas prevendo o voto aberto. As bancadas de PSB, DEM e PPS defenderam a obstrução das votações até que a questão seja apreciada. PSDB e PPS pediram ao Supremo Tribunal Federal a anulação da sessão que absolveu Donadon. São tentativas de reduzir a vergonha na Casa.
DECISÃO ÀS ESCURAS. As regras que impedem o eleitor de saber como se posiciona seu parlamentar
- A Constituição estabelece que o voto secreto seja utilizado nas seguintes situações: processos de perda de mandato, escolha das Mesas Diretoras, análise de veto presidencial, escolha de algumas autoridades e exoneração do procurador-geral da República.
- Três propostas que preveem o fim do voto secreto – uma das reivindicações das manifestações de junho – tramitam no Congresso. A mais antiga delas é de 2001.
- Em julho, foi aprovado na CCJ do Senado o projeto mais recente, do senador Paulo Paim (PT-RS). O texto, que acaba com o voto secreto em todas as votações do Congresso, aguarda aprovação no plenário para começar a tramitar na Câmara.
- A proposta mais adiantada é a do senador Alvaro Dias (PSDB-PR), que extingue o voto oculto para perda de mandato nos casos de falta de decoro e condenação criminal. Já passou pelo Senado.
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA -VERGONHA ESCANCARADA NA MÁSCARA DO VOTO SECRETO, NA AUSÊNCIA DOS FUJÕES E NA CONIVÊNCIA COM O APADRINHAMENTO DAS ILICITUDES E QUADRILHEIROS NA CASA DO POVO. Ao se esconderem atrás do voto secreto e da fuga com explicações esfarrapadas, os deputados federais de todo o Brasil demonstraram que se lixam para o povo e estão confiando na falta de memória e na ignorância política a manutenção dos privilégios e impunidade do poder. Que DEPUTADOS FEDERAIS são estes que, ao invés de representarem os interesses do povo, a moralidade, o fortalecimento da justiça e o respeito às leis que elaboram, resolvem apadrinhar e salvaguardar um quadrilheiro e corrupto preso por ter sido condenado pela justiça a 13 anos, 4 meses e 10 dias de prisão em regime fechado, além de multa, pelos crimes de peculato e formação de quadrilha?
DESCULPAS ESFARRAPADAS
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