Jorge Bengochea
Num certo mundo da fábula, o
Leão, a Coruja e o Avestruz governavam uma democracia emergente. O Leão foi
eleito pela força, a Coruja pela sabedoria e o Avestruz pela
elegância e promessas. Neste mundo havia uma constituição que determinava a
necessidade dos três trabalharem com autonomia, harmonia e em conjunto. O
problema era que a lei era muito volumosa, assistemática, detalhista e com
dispositivos contraditórios, exigindo mudanças a todo o momento. Além de tudo
estabelecia muitos direitos, poucos deveres, privilégios aos três governantes,
muito assistencialismo e pouco trabalho para a maioria da fauna. Com relação à
defesa, a lei atendia apenas a defesa dos governantes.
A Governança era complicada, pois
o Leão sempre tentava impor a sua vontade e fazia do Avestruz um parceiro leal,
mas esfomeado. O Avestruz não queria muito trabalho, aceitava as interferências
do Leão e da Coruja e, nas crises, afundava a cabeça em qualquer buraco. A Coruja,
por sua vez, gostava de se manter em cima do muro, nos ramos de uma árvore ou
em cima de qualquer tronco, trabalhando apenas quando era exigida. Ela tinha ainda
que suportar as omissões do Avestruz e o descaso do Leão, por este motivo demorava
nas decisões, provocando uma sobrecarga de trabalho e descrédito no seu
trabalho.
As consequências eram terríveis,
já que os animais não tinham condições para se desenvolver por falta de orientação.
Quando machucados, não havia recursos para tratamento e socorro. Quem trabalhava
era obrigado a custear a maquina do governo e os acomodados viviam cheios de
bonificações. As relações entre os coletivos eram difíceis, já que tinham
aqueles que matavam, outros que se apropriavam das coisas dos outros e os que
brigavam seguidamente por motivos fúteis. As cadeias eram apenas tocas
transitórias com muitas saídas.
A Coruja se limitava a mediar causas
e aconselhar os animais envolvidos, punindo com medidas leves os animais
violentos. Ela não podia contar com o
Avestruz e nem com o Leão, pois um só enxergava comida e o outro só se
preocupava em manter o reinado. Quando alguém reclamava, a Coruja e o Avestruz
empurravam a responsabilidade para o Leão como se ele fosse o único governante.
Como o Leão nunca tinha tempo para dialogar e não queria gastar recursos nestas
contendas, ele acabava agindo pela força ou com medidas simplórias e pontuais. Assim, a violência crescia e as crises se
repetiam; a insegurança consumia a todos e vidas se perdiam; os direitos eram
sonegados e as criticas viravam protestos; os serviços faliram e a lei virou
apenas um texto em papel, sem aplicação ou aplicação pela metade. Mas nada disto
constrangia o Leão, a Coruja e o Avestruz, cegados pela fonte de renda e privilégios que o poder produzia.
Qualquer semelhança é sim muita coincidência.
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