ZH 07 de outubro de 2014 | N° 17945
EDITORIAL
Assim como a democracia brasileira, as manifestações de massa ainda precisam evoluir muito até resultarem em mudanças concretas na forma de o país fazer política.Ao contrário das expectativas que se reforçaram durante a campanha eleitoral, as manifestações de rua do ano passado não chegaram a se refletir nas urnas de forma significativa. Em sua maioria, lideranças do movimento que se candidataram a cargos públicos foram ignoradas pelos eleitores. E os principais temas levantados nos protestos sequer apareceram nas agendas dos candidatos durante a campanha. Além disso, houve uma predominância na eleição e na reeleição de políticos tradicionais. São sinais evidentes de que os brasileiros ainda precisam de mais tempo para amadurecer algumas práticas inerentes às liberdades democráticas.
Uma das interpretações possíveis sobre esse fenômeno é a de que, ao derivarem para a violência e para as depredações, promovidas por grupos minoritários mas barulhentos, as manifestações acabaram rejeitadas pela maioria da população. A visão forçada e maniqueísta de fazer política, que acabou se sobrepondo muitas vezes à relevância das causas, pode ter gerado um efeito oposto. Ainda assim, mesmo sem influência nos votos, temas levantados a partir de junho de 2013 não poderão ser ignorados pelos governantes e representantes parlamentares ao longo de seus mandatos.
Entre as reivindicações reforçadas nas ruas, ganham destaque as relacionadas a melhor qualidade de vida, que dependem basicamente de um avanço na eficiência dos serviços prestados pelo poder público. É o caso tanto de áreas tradicionais como saúde, educação e segurança quanto de investimentos em aspectos como infraestrutura, saneamento e transporte público. Ao mesmo tempo, a qualidade da política também precisa avançar. Isso vai exigir dos eleitos em primeiro e segundo turnos menos corrupção e mais cuidado no gerenciamento e na aplicação de recursos públicos, permitindo um retorno para os contribuintes sob a forma de investimentos mais eficazes, além de mais investimentos.
Assim como a democracia brasileira, as manifestações de massa ainda precisam evoluir muito até resultarem em mudanças concretas na forma de o país fazer política, favorecendo o conjunto da população. Essa é a melhor forma de se aproximar a vontade das ruas do resultado das urnas.
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