ZH 04 de outubro de 2014 | N° 17942
EDITORIAL
A campanha eleitoral não foi nem está sendo edificante, mas sempre é bom lembrar que os conflitos também fazem parte da democracia.Na véspera do pleito que mobiliza 140 milhões de brasileiros para escolher governantes e parlamentares que administrarão o país pelos próximos quatro anos, um balanço da campanha eleitoral nesta primeira etapa, que hoje se encerra nas ruas, aponta para o predomínio da chamada estratégia de desconstrução. A preocupação dos candidatos, no caso, tem sido mais desmerecer os adversários do que assumir compromissos factíveis com o país e com a sociedade. Mais uma vez, perde o eleitor, pois vê assuntos de seu interesse direto serem relegados a um plano secundário por candidatos que preferem privilegiar temas aparentemente com maior potencial de gerar votos, pelo menos na ótica dos marqueteiros.
Em junho do ano passado, quando decidiram sair às ruas para manifestar sua insatisfação com os rumos da condução do país, com baixa qualidade dos serviços prestados e com o mau uso de dinheiro público, os brasileiros deixaram claro o que esperam dos políticos e dos gestores governamentais. Num primeiro momento, as reações de quem representa ou se dispõe a representar os interesses dos cidadãos pareciam encaminhar a política e a gestão pública para uma simplificação e redução de custos e para a busca de prioridades mais afinadas com o cotidiano dos eleitores. Bastou as ruas silenciarem para que todas essas demandas perdessem novamente a condição de prioridade e se transformassem em ataques mútuos, muitas vezes com argumentos tendenciosos ou até mesmo falsos.
Com poucas exceções, no horário político obrigatório, nos debates e nos eventos de rua, os candidatos insistem em falar em tese, recorrem à frieza das estatísticas e a abordagens idealizadas ou distorcidas pela visão crítica no caso de aspirações ligadas ao cotidiano dos eleitores. Entre autoelogios e promessas, aproveitam para disparar críticas aos oponentes, sempre com o interesse de assegurar votos.
A campanha eleitoral não foi nem está sendo edificante, mas sempre é bom lembrar que os conflitos também fazem parte da democracia. Servem, no mínimo, para os eleitores avaliarem quais os candidatos que estão melhor preparados para suportar ataques e para exercitar a transparência quando flagrados em erros. Além disso, cabe reconhecer que até mesmo as farpas mais pesadas ocorreram dentro do limite da civilidade, sem violência nem comportamentos delituosos. Ainda assim, espera-se que, nos casos de segundo turno, o debate seja mais elevado.
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