ZH 12 de outubro de 2014 | N° 17950
INFORME ESPECIAL | TULIO MILMAN
O Brasil é uma máquina de parir propostas milagrosas: fim dos CCs, da reeleição, financiamento público de campanha. Todas elas, em tese, têm o mesmo objetivo: moralizar e agilizar o serviço público.
Isoladamente ou mesmo juntas, nenhuma vai funcionar. Não é pessimismo. É o dever de reconhecer o óbvio. Continuará havendo aparelhamento do Estado, mesmo com menos CCs – e concordo que hoje existem muitos, muitas vezes ocupando indevidamente funções técnicas. O fim da reeleição não levará à oxigenação da máquina. O financiamento público de campanha não vai acabar com o caixa 2.
Se a democracia fosse um sistema hidráulico, todos esses mecanismos seriam apenas os canos. O que importa é o que passa por eles. Não é a natureza funcional de um cargo que determinará a honestidade do seu ocupante. Não é o método de arrecadação que definirá o destino do dinheiro. Não é o número de anos de um mandato – ou de dois – que delimitará a competência do governante.
Cansei de ouvir que, sem reforma política, o país não anda. Anda, sim.
A nossa grande reforma não é a política. É a dos políticos. Para isso, precisamos reformar antes a nós mesmos, os eleitores.
No dia em que a honestidade e a ética deixarem de ser diferenciais para se tornarem pré-requisitos, aí, sim, o comprimento e a bitola dos dutos passarão a ser importantes.
Antes disso, tanto faz.
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Estou de acordo, plenamente. Nenhuma reforma será feita para defender o povo, fortalecer as leis e a justiça, resgatar a confiança nos poderes e construir uma sociedade livre, justa, democrática, solidária e em paz, se não reformar a postura política no zelo da coisa pública, na governança, na normatização, na fiscalização e na representação de quem os confia o poder. Sem políticos probos, diligentes, éticos e comprometidos com a finalidade pública de suas funções o povo brasileiro não terá as reformas social, política, judicial e tributária que tanta anseia. E para que esta postura política se revele é necessário que o eleitor queira debater e usar o seu direito ao voto a favor da causa pública, da sua comunidade, do seu município, do seu Estado e do Brasil, e não de interesses particulares e corporativos. Portanto, sem a necessária reforma dos eleitores, não haverá reforma dos políticos e nem tampouco as demais reformas.
Só para constar, os EUA e a Itália começaram a vencer a guerra contra criminalidade quando as comunidades religiosas mobilizaram os eleitores a votar em políticos duros contra o crime e capazes de fazer leis severas e de exigir obrigações e deveres das autoridades investidas nos poderes de Estado.
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