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quarta-feira, 11 de março de 2015

A QUEDA DE DILMA



ZERO HORA 11 de março de 2015 | N° 18098


DAVID COIMBRA


Dilma parece à beira do abismo. Parece que Dilma vai se atirar.


Olhando à distância, aqui do Norte, é essa a impressão. A triste impressão. A não ser que a presidente e seus auxiliares compreendam o que está acontecendo. E, pelo discurso governista, é evidente que não estão entendendo nada. Nem ela e, surpreendentemente, nem Lula, um dos políticos mais sensíveis da história do Brasil.

É que, às vezes, o detalhe decisivo é isso mesmo: só um detalhe. Porém, decisivo. No caso, há que se levar em consideração um objeto pequeno, do tamanho da palma da mão: o telefone celular.

Essa ferramenta mudou o mundo. A história do homem é a história da velocidade da informação, e nunca, em 12 mil anos de civilização, a informação foi tão veloz. Desde os albores do século 21, o celular dotado de internet permite que as pessoas absorvam e transmitam informação a todo momento, obsessivamente, ansiosamente, num processo que é interrompido apenas pelas horas de sono. A transformação não ocorre mais na poeira dos séculos, nem de ano para ano. Ocorre em meses.

O Brasil que está ingressando no outono de 2015 não é o mesmo da primavera de 2014.

Agora vou me lembrar de antes. De uma noite carioca de 2007. Oito anos, transcorridos no século 21, correspondem a uma geração inteira. Pois em 2007 Lula foi vaiado por 80 mil pessoas no Maracanã, durante a abertura do Pan. No dia seguinte, escrevi o que escreveriam hoje os governistas: “Foi a vaia da elite branca”.

Não me arrependo do que escrevi. Em 2007, Lula começava o segundo mandato. Pensei, então: a partir de agora, com a estabilidade econômica e o assentamento dos programas sociais, Lula terá condições de fazer as mudanças estruturais de que o país precisa – essa vaia é precipitada.

Ainda acho que foi precipitada. Mas foi também premonitória. Aos poucos, o que a elite branca sentiu naquela noite passou a ser sentido por outros setores da sociedade. As pessoas não estavam vivendo bem no Brasil, simplesmente isso. Há dois anos, num junho furioso, o desconforto latejante explodiu, só que em todas as direções, sem alvo preciso. Nas eleições do ano passado, essa insatisfação tornou-se amarga, mas as pessoas ainda não sabiam para onde fugir, porque os caminhos alternativos não eram bons. De lá para cá, o sentimento mudou: virou revolta.

O grande engano do governo, o grande engano de analistas inteligentes, como Juca Kfouri e Verissimo, é não perceber a rapidez dessa mudança. É achar que estamos em 2007. Porque, não: não é só a elite branca que está vaiando o governo. Não são só os ricos. É uma massa gigantesca de trabalhadores, de empresários e assalariados, de gente que produz e contribui. E quer saber? Essa gente está pouco se lixando para o PSDB ou para o Aécio Neves. Essa gente não é patrocinada pela oposição, não é mobilizada pela mídia burguesa e tampouco está indignada porque a classe média viaja de avião. Essa gente está vivendo mal no Brasil. Essa gente sente insegurança nas ruas, sabe que os professores de seus filhos ganham pouco e paga promessas e planos de saúde para não depender do SUS. Junte isso à corrupção que borbulha dos esgotos de Brasília e a uma presidente desconectada com a realidade e teremos, sim, ambiente para abalar um governo.

Sou contra o impeachment sem provas concretas de ilícito da presidente. Pedir impeachment porque a vida não vai bem é golpe. Mas, se o governo não reconhecer pelo menos que a vida não vai bem, a vida decerto vai piorar. Tudo vai piorar. Inclusive, e principalmente, para o governo.

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