REVISTA ISTO É N° Edição: 2364 | 20.Mar.15
Com a economia fragilizada, aumenta o número de pessoas em busca de trabalho. As empresas, no entanto, estão demitindo mais do que contratando
Mariana Queiroz Barboza
O paradoxo de uma economia que cresce pouco, mas mantém o desemprego em baixa começou a ruir. Desde o “Pibão” de 7,5% em 2010, o Brasil não cresce acima de 3% ao ano. Para 2015, as projeções são ainda mais sombrias. Apesar disto, o mercado de trabalho continuava aquecido, sobretudo no setor de serviços, com aumento da formalização, impulsionando o poder de compra dos brasileiros. Agora, em tempos de ajuste fiscal, a situação é diferente. Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados pelo Ministério do Trabalho e Emprego na semana passada, fevereiro foi o segundo mês consecutivo com saldo negativo na geração de empregos com carteira assinada. No acumulado em 12 meses, as demissões líquidas já passam de 47 mil.
Os números do Caged reforçam a tendência de desaceleração do mercado de trabalho apontada na Pesquisa Mensal do Emprego (PME) e na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua. No trimestre encerrado em janeiro, a Pnad mostrou um inchaço da população desocupada, calculada em 6,8 milhões de pessoas, e o indicador de desemprego saltou para 6,8%. No mesmo período de 2014, a taxa foi de 6,4%. A PME, que mede o desemprego em seis regiões metropolitanas, registrou um índice de 5,3% em janeiro – no mesmo mês do ano anterior, estava em 4,8%. Soma-se a esse quadro três elementos: a renda do trabalhador está crescendo menos, a inflação está subindo e o acesso ao crédito, mais restrito. Assim, mais pessoas saem à procura de emprego. Pesquisador da área de Economia Aplicada da FGV/IBRE, Rodrigo Leandro de Moura alerta ainda para o contingenciamento das verbas na área educacional. “A redução de bolsas e das possibilidades de financiamento estudantil pode induzir uma expansão da População Economicamente Ativa”, afirma. “E esse aumento da busca por vagas não tem sido totalmente absorvido pela geração de novos postos de trabalho.”
Com o fechamento de 11.101 vagas em fevereiro, o Rio de Janeiro é o Estado mais afetado pelas demissões. Parte da explicação está no setor petroleiro, prejudicado pela paralisação de obras e cortes de investimento da Petrobras. “Neste primeiro momento, a questão da Lava Jato influenciou em redução de emprego”, disse o ministro do Trabalho, Manoel Dias. “A Petrobras pediu que procuremos sindicatos para ver o alcance que teve.” Moura, da FGV/IBRE, diz que o efeito multiplicador que a estatal teve sobre o comércio local e empresas terceirizadas pode ter efeito reverso durante a crise. Também afetada pelas investigações da Lava Jato, a construção civil foi o setor que mais demitiu. A indústria, por sua vez, voltou a contratar, sobretudo no segmento calçadista. Mas na produção de bens de alto valor agregado, como automóveis, a trajetória é oposta. A partir de 30 de março, 4,2 mil operários da fábrica da Volkswagen em Taubaté, no interior de São Paulo, entrarão em férias coletivas. Em Betim, Minas Gerais, a Fiat deu férias coletivas a 10% dos funcionários.
A deterioração da economia e a insegurança em relação ao emprego têm espalhado pessimismo. Na quinta-feira 19, uma pesquisa da Associação Comercial de São Paulo mostrou que a confiança do consumidor brasileiro diminuiu em fevereiro. O índice, em 128 pontos, é 17 pontos menor que o do mesmo mês do ano passado. Com mais gente desempregada e com menos dinheiro disponível, a pressão sobre os preços poderia diminuir, provocando um impacto positivo no controle da inflação. Isso, no entanto, tem efeito limitado. Os economistas calculam que os preços administrados, com os dos combustíveis e as tarifas elétricas, têm crescido numa velocidade maior do que os preços livres, como os praticados nos supermercados, têm caído. Na ata de sua última reunião, o Comitê de Política Monetária do Banco Central admitiu que a inflação deve permanecer acima do centro da meta de 4,5% em 2015 e 2016. O mercado prevê o índice ainda mais alto, próximo de 8%.
Foto: Fernando Donasci/Folhapress
Com a economia fragilizada, aumenta o número de pessoas em busca de trabalho. As empresas, no entanto, estão demitindo mais do que contratando
Mariana Queiroz Barboza
O paradoxo de uma economia que cresce pouco, mas mantém o desemprego em baixa começou a ruir. Desde o “Pibão” de 7,5% em 2010, o Brasil não cresce acima de 3% ao ano. Para 2015, as projeções são ainda mais sombrias. Apesar disto, o mercado de trabalho continuava aquecido, sobretudo no setor de serviços, com aumento da formalização, impulsionando o poder de compra dos brasileiros. Agora, em tempos de ajuste fiscal, a situação é diferente. Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados pelo Ministério do Trabalho e Emprego na semana passada, fevereiro foi o segundo mês consecutivo com saldo negativo na geração de empregos com carteira assinada. No acumulado em 12 meses, as demissões líquidas já passam de 47 mil.
Os números do Caged reforçam a tendência de desaceleração do mercado de trabalho apontada na Pesquisa Mensal do Emprego (PME) e na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua. No trimestre encerrado em janeiro, a Pnad mostrou um inchaço da população desocupada, calculada em 6,8 milhões de pessoas, e o indicador de desemprego saltou para 6,8%. No mesmo período de 2014, a taxa foi de 6,4%. A PME, que mede o desemprego em seis regiões metropolitanas, registrou um índice de 5,3% em janeiro – no mesmo mês do ano anterior, estava em 4,8%. Soma-se a esse quadro três elementos: a renda do trabalhador está crescendo menos, a inflação está subindo e o acesso ao crédito, mais restrito. Assim, mais pessoas saem à procura de emprego. Pesquisador da área de Economia Aplicada da FGV/IBRE, Rodrigo Leandro de Moura alerta ainda para o contingenciamento das verbas na área educacional. “A redução de bolsas e das possibilidades de financiamento estudantil pode induzir uma expansão da População Economicamente Ativa”, afirma. “E esse aumento da busca por vagas não tem sido totalmente absorvido pela geração de novos postos de trabalho.”
Com o fechamento de 11.101 vagas em fevereiro, o Rio de Janeiro é o Estado mais afetado pelas demissões. Parte da explicação está no setor petroleiro, prejudicado pela paralisação de obras e cortes de investimento da Petrobras. “Neste primeiro momento, a questão da Lava Jato influenciou em redução de emprego”, disse o ministro do Trabalho, Manoel Dias. “A Petrobras pediu que procuremos sindicatos para ver o alcance que teve.” Moura, da FGV/IBRE, diz que o efeito multiplicador que a estatal teve sobre o comércio local e empresas terceirizadas pode ter efeito reverso durante a crise. Também afetada pelas investigações da Lava Jato, a construção civil foi o setor que mais demitiu. A indústria, por sua vez, voltou a contratar, sobretudo no segmento calçadista. Mas na produção de bens de alto valor agregado, como automóveis, a trajetória é oposta. A partir de 30 de março, 4,2 mil operários da fábrica da Volkswagen em Taubaté, no interior de São Paulo, entrarão em férias coletivas. Em Betim, Minas Gerais, a Fiat deu férias coletivas a 10% dos funcionários.
A deterioração da economia e a insegurança em relação ao emprego têm espalhado pessimismo. Na quinta-feira 19, uma pesquisa da Associação Comercial de São Paulo mostrou que a confiança do consumidor brasileiro diminuiu em fevereiro. O índice, em 128 pontos, é 17 pontos menor que o do mesmo mês do ano passado. Com mais gente desempregada e com menos dinheiro disponível, a pressão sobre os preços poderia diminuir, provocando um impacto positivo no controle da inflação. Isso, no entanto, tem efeito limitado. Os economistas calculam que os preços administrados, com os dos combustíveis e as tarifas elétricas, têm crescido numa velocidade maior do que os preços livres, como os praticados nos supermercados, têm caído. Na ata de sua última reunião, o Comitê de Política Monetária do Banco Central admitiu que a inflação deve permanecer acima do centro da meta de 4,5% em 2015 e 2016. O mercado prevê o índice ainda mais alto, próximo de 8%.
Foto: Fernando Donasci/Folhapress
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