ZERO HORA 31 de março de 2015 | N° 18118
CADU CALDAS JULIANA BUBLITZ
POLÍTICA NOVO RUMO ÀS CAMPANHAS. COM A PRESENÇA DE EDUARDO CUNHA, evento para debater mudanças na legislação eleitoral foi marcado por críticas ao presidente da Câmara. Em razão das vaias, organização buscou outro espaço para realizar atividades
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), foi recebido com beijo gay, apitaço e xingamentos na sede da Assembleia Legislativa, em Porto Alegre, na manhã de ontem, onde esteve para participar do Fórum de Debates sobre reforma política. A manifestação foi tão ruidosa que, além de causar constrangimento às autoridades, acabou esvaziando e atrasando em mais de uma hora o início do evento, promovido pelo parlamento.
Desde cedo, integrantes de movimentos em defesa dos direitos LGBT, como o grupo Nuances, da Capital, aguardavam a chegada do desafeto com faixas nada amistosas – a maioria atribuindo ao deputado evangélico adjetivos como “machista”, “homofóbico” e “corrupto”. O ato também teve o apoio de grupos como o Juntos! e a Assembleia Nacional de Estudantes Livres (Anel), ligados, respectivamente, ao PSOL e ao PSTU.
– Além de representar o que há de mais conservador no Brasil, Cunha não tem a menor condição de debater reforma política – disse Matheus Gomes, 23 anos, militante do PSTU, ligado à Anel e ao Bloco de Luta pelo Transporte Público.
Ao chegar à Capital, por volta das 9h15min (com atraso de 45 minutos), Cunha foi direto ao Palácio Piratini, onde permaneceu por quatro minutos com o governador José Ivo Sartori, o ministro da Aviação Civil, Eliseu Padilha, e o vice-presidente da República, Michel Temer, colegas de partido. Os quatro participariam da abertura do evento e, para evitar as vaias, decidiram atravessar a rua de carro até o Legislativo.
Enquanto isso, os manifestantes entraram no Teatro Dante Barone, onde ocorreria o fórum. Foram obrigados a deixar faixas e bandeiras do lado de fora, mas conseguiram passar pelos seguranças com apitos e cartazes. Pouco antes das 10h, quando as autoridades começaram a ser anunciadas, os insatisfeitos deram início à ação, bradando “fora Cunha”.
Do palco, o deputado observou o ato passivamente, sem sinais de nervosismo. Ao redor dele, o clima era de constrangimento. Até Sartori, que costuma fazer brincadeiras, fechou o cenho. O coro aumentou durante a execução do Hino Nacional, que teve o volume ampliado na tentativa de abafar as vozes divergentes. “Eu beijo homem, eu beijo mulher! Tenho o direito de beijar quem eu quiser”, repetiam os manifestantes.
Por quase 20 minutos, eles gritaram tão alto que o presidente da Assembleia, Edson Brum (PMDB), teve de berrar ao microfone, pedindo “compreensão”. Como não foi atendido, declarou suspensa a sessão e foi até o grupo negociar. Não adiantou. A saída encontrada foi transferir o evento para o plenário, sem alarde, sem truculência e sem a presença de nenhum manifestante.
Às 10h30min, a cerimônia teve prosseguimento, com algumas cadeiras vazias e com Cunha na tribuna, falando a um público restrito. Conhecido pelas posições conservadoras, criticou os manifestantes pela “intolerância”.
POR QUE O PRESIDENTE DA CÂMARA É ALVO |
-Desde que Eduardo Cunha assumiu a presidência da Câmara, pautas conservadoras ganharam espaço. |
-Entre os temas, está o Estatuto da Família, projeto controverso que define família como aquela composta apenas por homem e mulher e que veda a adoção por casais homossexuais. |
-O deputado também é autor do projeto que cria o dia do “orgulho hetero”. |
-Cunha é radicalmente contra o aborto e avisou que dificultará qualquer mudança na legislação. |
-Pretende acelerar votação de projeto que reduz a maioridade penal. A Comissão de Constituição e Justiça pretende votar hoje a proposta sobre o tema. |
-É investigado na Operação Lava-Jato, por suspeita de envolvimento nos desvios da Petrobras. |
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