ZERO HORA 14 de março de 2015 | N° 18101
EDITORIAL
Foi constrangedora para os políticos a verdadeira farsa em que se transformou o depoimento do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, na CPI da Petrobras. Depois de quatro horas de bajulações por parte dos parlamentares que deveriam inquiri-lo sobre sua participação no episódio de corrupção, tudo o que ficou foi o esforço de Cunha, apoiado por seus pares, para desmerecer o trabalho da Procuradoria-Geral da República. Como se atacar o procurador, que se baseia nas delações dos que distribuíam propinas, fosse justificativa suficiente para os malfeitos. O diversionismo não deve prosperar, apesar do evidente apoio corporativo a um dos listados como beneficiários do esquema na estatal.
Nada surpreende em relação ao depoimento do suspeito, até porque sua trajetória é no mínimo controversa. O presidente da Câmara é o protagonista de mais de 20 processos por envolvimento em episódios delituosos. Sua eleição para o comando da Casa foi, nesse contexto, mais um acinte do parlamento, que ignorou noções básicas de bom senso e ética. Ao tomar a iniciativa de se apresentar à CPI, o político sabia que teria uma recepção calorosa de colegas de todos os partidos. Criticou o procurador- geral, bajulou os que iriam depois aplaudi-lo e acabou por tentar desqualificar o trabalho da polícia, do MP e da Justiça.
O mais deplorável é que integrantes da CPI que deveria reforçar o trabalho das instituições adotaram postura inversa, tudo em nome do espírito de corpo. Depois do teatro de Eduardo Cunha, a comissão tem a obrigação de mostrar que foi criada para esclarecer, e não para ajudar a confundir ainda mais.
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