ZERO HORA 05 de março de 2015 | N° 18092
GUILHERME MAZUI RBS BRASÍLIA
INCLUSÃO DO PRESIDENTE DO SENADO entre investigados da Operação Lava-Jato dificulta ainda mais relações do Planalto no Congresso
Casados em uma semana, rompidos na outra. Eleito presidente do Senado há um mês com o empenho do Planalto, Renan Calheiros (PMDB-AL) retaliou o governo que tanto apoiou em votações estratégias após o vazamento do seu nome na lista de políticos investigados na Operação Lava-Jato, prenúncio de dificuldades para Dilma Rousseff no Congresso.
A cisão, confirmada na devolução da medida provisória que anula as desonerações de folhas de pagamento, foi gestada por Renan a partir da quinta-feira passada, quando o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, se reuniu com o vice-presidente Michel Temer (PMDB). Temer tomou conhecimento dos pedidos de abertura de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) contra Renan e Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara.
Temer repassou a informação ao colega de partido, que perdeu a paciência e identificou traição – Renan nega ter sido informado. Fiador de vitórias em votações decisivas, o peemedebista esperava receber a mesma blindagem de petistas de proa. Nomes próximos ao senador atribuem sua presença na lista à atuação do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que na véspera do encontro de Temer também esteve com Janot. Renan cobrou do Planalto falta de empenho para pressionar pela retirada de seu nome entre os investigados. Ouviu a resposta que desencadeou sua ira.
– Não era doa a quem doer? Não podemos fazer nada...
Ao chamar a coalizão governista de “capenga” e criticar a política econômica, o presidente do Senado deu na semana passada o primeiro sinal público do descontentamento alimentado desde a divisão da Esplanada. Como Dilma decidiu esperar a lista da Lava- Jato para liberar nomeações, ele não recebeu todos os cargos pedidos. Vive a iminência de ver seu protegido Vinícius Lages deixar o Ministério do Turismo, repassado ao ex-presidente da Câmara Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN).
Petistas avaliam que parte da irritação se deve ao temor das revelações que podem sair da Transpetro, onde Renan manteve por anos Sérgio Machado na presidência. Com o afilhado defenestrado do cargo, ele está exposto.
ESFORÇO PARA REATAR RELAÇÕES
Após o vazamento de seu nome horas antes da entrega da lista de Janot no Supremo, manobra creditada ao próprio governo para tirar as atenções sobre o PT no caso, Renan decidiu mostrar força e afagar a oposição. Devolveu a medida provisória na terça-feira e pôs em xeque o ajuste fiscal.
A reação não era esperada por conselheiros de Dilma. Na noite de terça-feira, ela tentou ligar duas vezes para Renan, que ignorou as chamadas. Só atendeu quando a presidente ligou para um aliado dele, que repassou o telefone. O núcleo político de Dilma avalia que Renan demonstra força para levar o Planalto a negociar. Ele espera ficar de fora do grupo de políticos que será denunciado pela procuradoria no Supremo.
Se Renan quer negociar, a estratégia funcionou. O ministro das Relações Institucionais, Pepe Vargas, o procurou ontem para tentar reatar laços. Em um cenário com a palavra impeachment no vocabulário político, a irritação é perigosa. Mesmo com riscos de danos, parte da bancada do PT entende que não vale a pena ceder demais. Parlamentares acreditam que Renan enfrentará meses de desgaste, o que resultará em cobrança por sua renúncia ou cassação. Do outro lado, aliados do senador ameaçam com novas revelações.
O clima bélico tomou conta de um casamento que parecia sólido.
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