ZERO HORA 28 de março de 2015 | N° 18115
POR DIONE KUHN*
Em meus mais de 25 anos de jornalismo, além do prazer em atuar nessa profissão, carreguei comigo algumas certezas. Entre elas, a de que o exercício da cidadania era uma arma poderosa nas mãos de qualquer pessoa e de que dela jamais poderíamos abrir mão. Por isso, nunca deixei de comparecer a uma eleição e sei até hoje o nome de todos os candidatos em quem depositei na urna o meu voto de confiança. Por isso, costumava sair de peito estufado da seção eleitoral 20 do Colégio Anchieta direto para o trabalho – sim, porque desde que passei a atuar como jornalista, sempre trabalhei nos domingos de eleição, seja como repórter, seja como editora dos assuntos que sairiam no dia seguinte no jornal.
O jornalismo também me deu ferramentas para escolher bem os meus candidatos, um privilégio de que a maioria dos eleitores não dispõe. Sem falar que na maior parte dos meus anos de profissão atuei na área de política, o que tornava a minha escolha ainda mais refinada. E, com orgulho, posso dizer que foram poucas as decepções.
Por tudo isso, custei a entender: na eleição do ano passado, um desânimo tomou conta de mim. Fui votar, é claro, e também do Anchieta fui direto para a redação de ZH. Mas não saí com a sensação de dever cumprido. A sensação era de fadiga. Também, pela primeira vez, não comentei com a Lore, minha mãe, sobre em quem votar. Ela sempre se aconselhou comigo. Dessa vez, evitei falar com a mãe – e ela, por coincidência ou não, não me procurou.
Desde outubro, esse desânimo só cresce. Já não sei mais em qual candidato ou partido confiar. Não tenho mais as mesmas convicções de outrora. A cada novo bilhão desviado da Petrobras, uma certeza se vai. A cada novo político que surge nessa repugnante teia de falcatruas que toma conta do Brasil, mais uma esperança desaparece.
O que esperar de um país onde pessoas “de bem” roubam bilhões de reais? Dinheiro que era para ser investido em hospitais, escolas, universidades, estradas, pontes, pesquisas científicas. É como se cada um de nós estivesse tirando do bolso a toda hora uma quantia de dinheiro e entregando, passivamente, para uma quadrilha de engravatados, para que esse bando de ladrões possa garantir a sua vida e a de seus familiares para todo o sempre às nossas custas.
O que esperar deste país? Não tenho mais respostas.
Mas ainda acho que exercer a cidadania da forma que sempre exerci é única solução.
Editora de Notícias
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