REVISTA ISTO É N° Edição: 2364 | 20.Mar.15
Ainda ministro da Educação, ele foi chamado de palhaço e ridicularizado em plena Câmara. Deixou o cargo minutos depois do show de descontrole, mas muito do que disse para os deputados está em sintonia com o que pensa a população
Ludmilla Amaral
O espetáculo burlesco que o então ministro da Educação Cid Gomes (Pros-CE) encenou no Congresso na quarta-feira 18 é a prova definitiva de que alguns súditos da presidente Dilma mais atrapalham do que ajudam o governo a sair do enrosco em que se meteu. Cid sempre foi conhecido no meio político pela falta de modos e pelo temperamento intempestivo, características que o impelem a disparar desaforos em situações incômodas. Na semana passada, bateu seus próprios recordes de destempero ao discutir com parlamentares em plena Câmara dos Deputados. O detalhe é que ele havia ido ao plenário pedir desculpas por ter dito em uma palestra, duas semanas antes, que havia no Congresso “uns 300 ou 400 achacadores”. O show de descontrole fez Cid passar por momentos de ridículo que não são dignos de um ministro e expôs, mais uma vez, toda a desarticulação e fragilidade do governo federal. Ao mesmo tempo, suas frases ditas na tribuna sobre os parlamentares ecoaram positivamente em grande parte da sociedade. Afinal, quantos brasileiros não gostariam de ter dito o que Cid Gomes disse, em plena Câmara dos Deputados?
“Sempre tive profundo respeito pelo Parlamento. Isso não quer dizer que eu concorde com a postura de alguns, de vários, de muitos, que mesmo estando no governo, os seus partidos participando do governo, tenham postura de oportunismo”, afirmou, antes de emendar. “Partidos de oposição têm o dever de fazer oposição. Partidos de situação têm o dever de ser situação. Ou então larguem o osso e saiam do governo!” Os parlamentares já estavam revoltados com a declaração de Cid, até que ele complementou o discurso apontando o dedo em riste diretamente para o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). “Eu fui acusado de ser mal educado. Eu prefiro ser acusado por ele (Cunha) a ser como ele, acusado de achaque.” Parlamentares, como o líder do PMDB, Leonardo Picciani (RJ) e do PSC, André Moura (SE), saíram em defesa da Casa e afirmaram que Cid não tinha mais moral para continuar como ministro. O ex-governador seguiu a artilharia, dessa vez contra o PMDB: “Alguns querem criar dificuldades pra conseguir mais um ministério (...) tinha um que só tinha cinco. Criou dificuldades, conquistou o sexto. Agora quer o sétimo. Vai querer o oitavo. Vai querer a Presidência da República.” O acalorado bate-boca foi subindo de tom até que o então ministro foi chamado de palhaço pelo deputado Sérgio Zveiter (PSD-RJ), teve seu microfone cortado e saiu sem se despedir. O PMDB, aliado histórico do PT e maior bancada no Congresso Nacional , mal esperou ele deixar o plenário e anunciou que a sigla não votaria mais projetos de interesse do Executivo enquanto Cid Gomes continuasse à frente da Educação. A ameaça surtiu efeito. Enquanto o político do Pros seguia em direção ao Planalto, sua demissão já estava certa. O ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, foi quem deu a notícia a Eduardo Cunha, que anunciou-a em primeira mão. O presidente da Câmara comemorou como se exibisse a cabeça de Cid a seus pares. Foi ovacionado pela platéia.
ATAQUE
Cid Gomes discute com os parlamentares na quarta-feira 18: o objetivo inicial
do discurso do então ministro era pedir desculpas por ter dito que havia
no Congresso "uns 300 ou 400 achacadores"
Apesar de dizer que seria ministro “enquanto a presidente Dilma desejasse”, a demissão de Cid era vista como planejada. Ele já sabia que sua permanência no governo estava em pauta, por conta dos constantes embates com o Congresso, e que Dilma pretendia fazer uma reforma ministerial para contentar o PMDB. Seu discurso no plenário teria sido a forma encontrada para deixar o cargo de cabeça erguida, dizendo aos deputados o que os brasileiros têm dito nas ruas. “A minha declaração na Câmara cria dificuldades para a base do governo. Portanto, eu não quis criar nenhum constrangimento. Pedi demissão em caráter irrevogável”, declarou. A família também o influenciou na decisão. Seu irmão, Ciro, secretário de Saúde no Ceará e famoso por suas frases controversas (leia quadro), lhe aconselhou a manter a declaração polêmica feita dias antes de seu encontro com parlamentares.
Na quinta-feira 19, a presidente negou que esteja realizando uma reforma ministerial. “Estou fazendo uma alteração pontual. As circunstâncias às vezes obrigam você a fazer uma que outra mudança”, disse. Com a saída de Cid, o secretário-executivo da pasta, Luiz Cláudio Costa, comandará o Ministério da Educação interinamente.
Ainda ministro da Educação, ele foi chamado de palhaço e ridicularizado em plena Câmara. Deixou o cargo minutos depois do show de descontrole, mas muito do que disse para os deputados está em sintonia com o que pensa a população
Ludmilla Amaral
O espetáculo burlesco que o então ministro da Educação Cid Gomes (Pros-CE) encenou no Congresso na quarta-feira 18 é a prova definitiva de que alguns súditos da presidente Dilma mais atrapalham do que ajudam o governo a sair do enrosco em que se meteu. Cid sempre foi conhecido no meio político pela falta de modos e pelo temperamento intempestivo, características que o impelem a disparar desaforos em situações incômodas. Na semana passada, bateu seus próprios recordes de destempero ao discutir com parlamentares em plena Câmara dos Deputados. O detalhe é que ele havia ido ao plenário pedir desculpas por ter dito em uma palestra, duas semanas antes, que havia no Congresso “uns 300 ou 400 achacadores”. O show de descontrole fez Cid passar por momentos de ridículo que não são dignos de um ministro e expôs, mais uma vez, toda a desarticulação e fragilidade do governo federal. Ao mesmo tempo, suas frases ditas na tribuna sobre os parlamentares ecoaram positivamente em grande parte da sociedade. Afinal, quantos brasileiros não gostariam de ter dito o que Cid Gomes disse, em plena Câmara dos Deputados?
“Sempre tive profundo respeito pelo Parlamento. Isso não quer dizer que eu concorde com a postura de alguns, de vários, de muitos, que mesmo estando no governo, os seus partidos participando do governo, tenham postura de oportunismo”, afirmou, antes de emendar. “Partidos de oposição têm o dever de fazer oposição. Partidos de situação têm o dever de ser situação. Ou então larguem o osso e saiam do governo!” Os parlamentares já estavam revoltados com a declaração de Cid, até que ele complementou o discurso apontando o dedo em riste diretamente para o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). “Eu fui acusado de ser mal educado. Eu prefiro ser acusado por ele (Cunha) a ser como ele, acusado de achaque.” Parlamentares, como o líder do PMDB, Leonardo Picciani (RJ) e do PSC, André Moura (SE), saíram em defesa da Casa e afirmaram que Cid não tinha mais moral para continuar como ministro. O ex-governador seguiu a artilharia, dessa vez contra o PMDB: “Alguns querem criar dificuldades pra conseguir mais um ministério (...) tinha um que só tinha cinco. Criou dificuldades, conquistou o sexto. Agora quer o sétimo. Vai querer o oitavo. Vai querer a Presidência da República.” O acalorado bate-boca foi subindo de tom até que o então ministro foi chamado de palhaço pelo deputado Sérgio Zveiter (PSD-RJ), teve seu microfone cortado e saiu sem se despedir. O PMDB, aliado histórico do PT e maior bancada no Congresso Nacional , mal esperou ele deixar o plenário e anunciou que a sigla não votaria mais projetos de interesse do Executivo enquanto Cid Gomes continuasse à frente da Educação. A ameaça surtiu efeito. Enquanto o político do Pros seguia em direção ao Planalto, sua demissão já estava certa. O ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, foi quem deu a notícia a Eduardo Cunha, que anunciou-a em primeira mão. O presidente da Câmara comemorou como se exibisse a cabeça de Cid a seus pares. Foi ovacionado pela platéia.
ATAQUE
Cid Gomes discute com os parlamentares na quarta-feira 18: o objetivo inicial
do discurso do então ministro era pedir desculpas por ter dito que havia
no Congresso "uns 300 ou 400 achacadores"
Apesar de dizer que seria ministro “enquanto a presidente Dilma desejasse”, a demissão de Cid era vista como planejada. Ele já sabia que sua permanência no governo estava em pauta, por conta dos constantes embates com o Congresso, e que Dilma pretendia fazer uma reforma ministerial para contentar o PMDB. Seu discurso no plenário teria sido a forma encontrada para deixar o cargo de cabeça erguida, dizendo aos deputados o que os brasileiros têm dito nas ruas. “A minha declaração na Câmara cria dificuldades para a base do governo. Portanto, eu não quis criar nenhum constrangimento. Pedi demissão em caráter irrevogável”, declarou. A família também o influenciou na decisão. Seu irmão, Ciro, secretário de Saúde no Ceará e famoso por suas frases controversas (leia quadro), lhe aconselhou a manter a declaração polêmica feita dias antes de seu encontro com parlamentares.
Na quinta-feira 19, a presidente negou que esteja realizando uma reforma ministerial. “Estou fazendo uma alteração pontual. As circunstâncias às vezes obrigam você a fazer uma que outra mudança”, disse. Com a saída de Cid, o secretário-executivo da pasta, Luiz Cláudio Costa, comandará o Ministério da Educação interinamente.
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