ZERO HORA 26/03/2015 | 04h06
por Cleidi Pereira
Empresas investigadas na Lava-Jato doaram R$ 11,8 milhões a candidatos gaúchos. Valores foram repassados a 51 candidatos de sete partidos nas eleições de 2010 e 2014
Nas duas últimas eleições estaduais, empresas investigadas pela Operação Lava-Jato, que apura esquema de corrupção na Petrobras, doaram pelo menos R$ 11,8 milhões (ou R$ 9,99 milhões sem corrigir os valores), para candidatos no Rio Grande do Sul. Levantamento feito por Zero Hora, a partir de dados disponibilizados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mostra que 51 políticos de sete partidos receberam doações legais dessas empreiteiras nos pleitos de 2010 e 2014.
Em 2010, nove empresas destinaram R$ 6,6 milhões, em valores corrigidos pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), para campanhas eleitorais no Estado. Receberam os recursos candidatos a governador, senador e deputado estadual e federal de cinco legendas: PMDB, PP, PSB, PSDB e PT. A verba doada nessa campanha pode ser ainda maior. Na época, os partidos podiam distribuir dinheiro doado por empresas para candidatos ou comitês sem identificar a origem.
No ano passado, quando a Polícia Federal (PF) deflagrou a Lava-Jato, o volume doado para políticos gaúchos caiu 22%, mas o número de partidos beneficiados subiu para sete, incluindo DEM e PDT. As doações para postulantes a vagas no Piratini, Senado, Câmara e Assembleia Legislativa somaram R$ 5,2 milhões (corrigidos).
Para o procurador regional da República Douglas Fisher, que coordena a força-tarefa montada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) para investigar políticos supostamente envolvidos em corrupção na Petrobras, a redução no montante doado no ano passado pelas empreiteiras que são alvo da Lava-Jato pode ser reflexo da operação deflagrada pela PF em março, dois meses antes da largada da campanha eleitoral no país.
— Detectamos situações em que políticos receberam valores astronômicos em 2010 e zero em 2014. É um indício que estamos averiguando. São pontos que se fecham, mas que precisam ser melhor apurados — afirma Fisher.
Segundo o procurador, a PGR já começou a fazer uma varredura em doações declaradas à Justiça em 2010. Inicialmente, a ação será focada na lista de políticos já encaminhada ao Supremo Tribunal Federal (STF) — que inclui cinco deputados federais e um ex-deputado do PP gaúcho.
No entanto, não está descartada a possibilidade de essa lista ser ampliada, conforme as investigações avançarem. Há suspeita de que parte da propina tenha sido entregue a políticos e partidos por meio de doações de campanha. Os recursos viriam de contratos superfaturados da Petrobras.
As empresas que fizeram as doações eram integrantes do cartel formado para fraudar licitações, corromper agentes públicos e desviar recursos da Petrobras, de acordo com o Ministério Público Federal (MPF). Essas empreiteiras também estão na mira da Controladoria-Geral da União (CGU), que determinou abertura de processos administrativos de responsabilização contra as empresas.
Nove das 16 empreiteiras do chamado "clube" repassaram recursos para campanhas no Rio Grande do Sul. Também há registro de doações de Alusa, Construcap e Carioca Engenharia, empresas que, segundo o MPF, "venceram licitações na Petrobras, mediante negociação com o 'clube' e, não raro, com pagamento de propina para funcionários".
Confira as doações feitas por cada empresa e quanto cada candidato recebeu
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