ZERO HORA 24 de março de 2015 | N° 18111
CARLOS ROLLSING*
Começam a surgir análises de cientistas sociais e de políticos de que foi iniciado um processo de deslocamento de hegemonia na esquerda brasileira. Na avaliação deles, o PT, em alguns anos, não irá mais liderar esse campo de pensamento. Apontam como argumentos as revelações devastadoras da Operação Lava-Jato, a deterioração da economia, a queda brusca de popularidade da presidente Dilma Rousseff, o desgaste natural do tempo e as manifestações massivas, como as vistas no último dia 15.
Também há o fato da falta de renovação de lideranças. Quem é a estrela do PT hoje no Congresso? Quem desponta como sucessor de Lula e Dilma? Não há nomes. Todos os que poderiam ascender foram abatidos: José Dirceu, José Genoino, Antonio Palocci. Talvez Fernando Haddad seja uma das últimas esperanças, mas ele passa por dificuldades na prefeitura de São Paulo.
São indicativos de que, realmente, o PT enfrentará enormes dificuldades no próximo período. Mas, se o PT realmente perder a hegemonia da esquerda, quem vai herdar o posto? PSB? PDT? PSOL? Um novo partido? Ou restará nada mais do que um fracionamento de esquerda? Impossível responder, mas, hoje, o PT ainda é mais forte do que todos os seus possíveis sucessores juntos. Não se constrói uma nova hegemonia em um lapso. O PT levou anos, emergindo de dentro dos sindicatos e dos movimentos sociais, com uma forte capilaridade nas classes populares majoritárias do país e com o apoio de progressistas da classe média. Pouco depois da Constituinte de 1988, o PT superou o PDT como líder da esquerda. Mais tarde, consolidou o seu poderio ao chegar à Presidência em 2002. Foram 20 anos de caminhada.
Que partido, hoje, tem a capilaridade social que o PT tinha antes de chegar ao Palácio do Planalto? A resposta é: nenhum. Sem a simpatia das bases trabalhadoras e populares, é impossível hegemonizar os rumos da esquerda.
Desmoralizado, sem novas lideranças, e com o desgaste trazido pela palavra impeachment, é possível que o PT venha a ser superado em 2016 e 2018. Mas, mesmo conhecendo a derrota, deverá continuar hegemonizando a esquerda enquanto se mantiver como o partido de maior proximidade com os movimentos sociais e sindicais. Se deixar de ser governo e for para a oposição, poderá recuperar velhas bandeiras e reaglutinar forças ao seu redor.
*Jornalista, repórter de Notícias carlos.rollsing@zerohora.com.br
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